Pequenas adaptações tornam as celebrações de final de ano mais acolhedoras para pessoas neurodivergentes, reduzindo o risco de sobrecargas sensoriais e desconfortos.
As comemorações de fim de ano, com suas luzes vibrantes, fogos de artifício e mesas fartas, podem ser um desafio para famílias com pessoas neurodivergentes, especialmente autistas. Sensibilidade a estímulos como barulho, luzes piscantes ou texturas de alimentos pode transformar a alegria da ocasião em sobrecarga sensorial ou ansiedade. “O período é uma ótima oportunidade de integração social, mas pode causar sobrecarga sensorial e aumentar o estresse, especialmente entre os autistas. Barulho de música alta, shows pirotécnicos, conversas simultâneas, decoração com iluminação extravagante… tudo isso é um gatilho para a ansiedade, especialmente os que são fotossensíveis (com sensibilidade à luz)”, explica a terapeuta ocupacional Cynthia Rodrigues.
Para tornar esses eventos mais inclusivos, é importante antecipar possíveis desconfortos e buscar soluções práticas. Cynthia sugere criar ambientes tranquilos e adaptar elementos do evento. “É essencial que os cuidadores saibam com antecedência o que pode ser desconfortável e se preparem para fazer ajustes, se necessário. Isso pode incluir desde a escolha do local da confraternização ao uso de abafadores de ruído ou fones de ouvido. Criar um espaço tranquilo dentro de casa, onde a pessoa possa se refugiar caso necessário, em momentos de sobrecarga, impossibilitando excessos.” Fogos silenciosos também são recomendados, beneficiando pessoas com TEA, idosos, bebês e até animais de estimação.
Outro ponto crítico é a alimentação. A seletividade alimentar, comum entre pessoas neurodivergentes, pode ser um obstáculo nas ceias de Natal e Ano Novo. “Indivíduos com TEA têm essa sensibilidade devido às alterações do processamento sensorial e/ou rigidez cognitiva. Durante as festas de final de ano, a diversidade de pratos, como sobremesas com diferentes cores e consistências, carnes com temperos intensos e outros alimentos sazonais, pode gerar resistência, incômodo ou até mesmo recusa alimentar. A saída é uma comunicação clara sobre o cardápio da festa, permitindo que as famílias se preparem para lidar com suas especificidades”, orienta a nutricionista Priscilla Alves Leenders.
Organizadores podem adotar medidas simples para tornar o evento mais acolhedor, como ajustar o volume da música, evitar iluminação excessiva e oferecer um espaço tranquilo. Pais e cuidadores também devem estar atentos aos sinais de sobrecarga e prontos para intervir. Antecipar o que vai acontecer e comunicar mudanças de forma clara são estratégias eficazes para evitar crises. Adaptar o ambiente e permitir que todos se sintam incluídos é um gesto que promove empatia e reforça o verdadeiro espírito das festas: a união.
Com pequenos ajustes, as festas de fim de ano podem ser um momento de acolhimento para todos. Ao respeitar diferenças e criar um ambiente seguro, é possível celebrar com alegria e harmonia, proporcionando momentos inesquecíveis.