Ao longo da história das artes cênicas no Brasil, com mais evidência nas linguagens de teatro e dança, os festivais têm contribuído de maneira impar com o desenvolvimento dessas linguagens, nas cidades onde eles acontecem, tanto por contribuir de mil maneiras com os artistas locais, quanto por elevar o nível intelectual do público que os assistem. Aos artistas, fica a solida troca de experiências com os participantes de um evento desta magnitude (seja pelo conhecimento que adquirem no contato com as obras, seja pela participação enriquecedora em oficinas, debates, palestras, etc.), e ao público, fica uma programação de lazer cultural de qualidade comprovada à sua disposição. E isso não é pouco!
Uma das grandes questões da produção cênica nacional recai em dois eixos interligados que são: a vida útil de um espetáculo e a sua circulação após a temporada inaugural. – Com recursos cada vez mais escassos, grupos, companhias e artistas independentes preferem utilizá-los na criação de novos espetáculos, que jogar-se na melindrosa aventura de viajar país a fora sem a garantia de passagens e estadias independentes da arrecadação de bilheteria. Aventura de risco também é promover uma nova temporada na cidade de origem, sem contar com um patrocinador para garantir os custos de manter um espetáculo em cena. E assim, quando as condições não favorecem uma circulação, os espetáculos limitam a sua existência a primeira e única temporada. - É aqui que surgem, como “salva guarda” das produções país a fora, os cada vez mais oportunos Festivais de Teatro e Dança, favorecendo aos espetáculos contemplados o alongamento de suas existências, com o requinte de dialogar com outras plateias.
E Pernambuco é bem servido de festivais, a exemplo do Festival de Inverno de Garanhuns e do Festival de Teatro do Agreste, em Caruaru, só para citar dois já notórios no calendário cultural pernambucano, entre tantos outros que possibilitam uma circulação de espetáculo, nacionais e estrangeiros, com grande teor artístico em nosso estado. Com relação ao Recife, o ano praticamente inicia com a realização do Festival Janeiro de Grandes Espetáculos, um dos mais antigos com seus vinte e dois anos ininterruptos de existência e resistência, tendo na sequência outros como o Festival de Dança do Recife e o Festival Recife do Teatro Nacional. Todos esses com vasta folha de bons serviços prestados ao movimento local das artes cênicas. E constantemente surgem novos como o TREMA! Festival de Teatro, que encontra-se em pleno exercício até o próximo dia 8 de maio (vide sugestões abaixo).
Em sua 4ª edição, o TREMA! Tem um recorte bem específico no tipo de produção que agenda em sua grade, priorizando os espetáculos criados por Coletivos, em sua maioria, advindos de pesquisas aprofundadas nas temáticas abordadas, e que potencializam controvérsias, elevando o festival a uma categoria especial por não repetir formatos viciados nos eventos que são abarrotados de astros e estrelas. No TREMA!, quem brilha mais é o espetáculo, com reflexo nas mentes e corações da plateia, estendendo o assunto tratado em palco por muito tempo em bares, lares e demais espaços de encontros, após o fechar das cortinas, como ocorreu com a apresentação no Teatro de Santa Isabel do “Quem tem medo de travesti”. E isso, pela ótica da arte, é o melhor resultado que pode alcançar uma criação cênica.
Que bom que vocês exixtem, Festivais!
DICAS DE ESPETÁCULOS:
“Conselho de Classe”, com a Cia. dos Atores (RJ)
Local: Centro Cultural da Caixa, no Bairro do Recife.
Dias: sexta, 06/05 e sábado, 07/05, às 20H.
Preços: R$ 20,00 e R$ 10,00.
Informações: 3425-1915
Festival TREMA!
“Vento forte para água e sabão”, espetáculo para a infância e juventude com a Cia. Fiandeiros (PE).
Local: Teatro Hermilo Borba Filho, no Bairro do Recife.
Dias: Sábado, 07/05 e domingo, 08/05, às 16h.
Preço único: R$ 5,00
Informações: 33553319 / 33553320
*Por Romildo Moreira - ator, autor e diretor de teatro