A 3ª edição do Animacine acontecerá entre 6 e 12 de dezembro com programação dedicada aos 100 anos da animação no Brasil. O Festival de Animação do Agreste nasceu em 2013 com o propósito de interiorizar ações e o acesso às produções nacionais e internacionais. Será realizado na região com mostras e mesas de formação. Toda a programação é gratuita e será divulgada no dia 21 de novembro.
O Animacine se divide entre as cidades de Gravatá, Bezerros e Caruaru, com programação de mesas, mostra competitiva e uma média de 50 filmes, selecionados entre mais de 1827 inscrições vindas do Brasil e de 96 países. Segundo o coordenador geral do festival, Tiago Delácio, para esta terceira edição o Animacine se debruça sobre a produção latino-americana.
Uma das novidades da 3ª edição do Animacine é a exibição, após quatro décadas, do curta-metragem “Vendo/Ouvindo” (1972) em versão digital restaurada em DCP 2K. Trata-se da mais antiga animação existente da filmografia pernambucana. É também o primeiro trabalho artístico de Lula Gonzaga (em parceria com Fernando Spencer e Firmo Neto) e um dos primeiros filmes do ciclo do Super-8 em Pernambuco. O processo de digitalização de “Vendo/Ouvindo” foi coordenado por André Dib (pesquisador e crítico) e Tiago Delácio (realizador e filho de Lula Gonzaga) e incluiu eliminação de riscos, restauração de som e correção de cor no sistema Da Vinci. A animação será exibida em DCP 2K no Animacine, após passar em junho deste ano pela primeira vez na 12ª Mostra de Cinema de Ouro Preto (Minas Gerais), um dos maiores encontros preservacionistas do país.
De acordo com o produtor do festival, Lula Gonzaga, “Vendo/Ouvindo” é uma crítica simbólica à censura imposta pelo regime militar. “O cara podia ver e ouvir, mas não podia falar. Tem gente que entendeu, tem gente que não entendeu. Disseram que era um filme ‘udigrudi’, mas funcionou bem”, diz Lula. “É uma animação simples e direta, com todas as características de um filme underground”, escreveu o pesquisador e animador Marcos Buccini, no artigo A Saga de Lula Gonzaga: pioneiro da animação pernambucana. “Sua natureza experimental começa pelo processo de criação: material reaproveitado, poucos recursos e pouco tempo de feitura; passa pela animação e grafismos minimalistas; e chega ao resultado que preza muito mais pela ideia de contestação do que pelo primor técnico”.
CARTAZ. Otto Guerra, um dos principais cineastas da animação no país, e a ilustradora e animadora Erica Maradona são os criadores do cartaz do 3º Animacine. Tamanho prestígio está atrelado à programação que o festival prepara para o ano em que se comemora o centenário da animação no país e ganha notoriedade por ser um dos poucos do gênero a focar atenção para o interior, priorizando a formação de plateia e a construção de novas referências cinematográficas. A dupla de ilustradores/ animadores que assina o cartaz estará presente no Animacine.
“A princípio, o convite pra fazer o cartaz foi feito a Otto. Mas como é impossível, pra quem me conhece, ouvir falar em Agreste e não lembrar de mim, ele me chamou pra fazermos juntos. Misturamos símbolos que lembram a região onde o festival acontece com o momento político mundial que estamos vivendo, em que temos o tempo todo que resistir e tourear os retrocessos pra continuar fazendo filmes”, fala Erica Madona sobre o processo de criação da identidade visual do Animacine 2017.