Estudo recente realizado por cientistas da Universidade de Copenhagen, com pesquisadores dos Estados Unidos e do Canadá, constatou não ser necessário jejuar para exames de sangue destinados a verificar níveis de colesterol e triglicerídeos. Segundo os pesquisadores, não estar em jejum para esses testes não provoca alterações significativas nos resultados. O assunto repercutiu na área médica e o fim do jejum para exames laboratoriais é tema de mesa redonda durante o 50º Congresso da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), que acontece até o dia 30 deste mês, no Rio de Janeiro.
A não obrigatoriedade do jejum para esses exames traria maior comodidade ao paciente e deve ser sugerida pela Sociedade Brasileira de Cardiologia em breve, segundo informou o diretor de ensino da SBPC/ML, Carlos Eduardo Ferreira, e também coordenador médico do departamento de química clínica do laboratório clínico do Hospital Albert Einstein, em São Paulo.
O laboratório do Hospital Albert Einstein, por exemplo, passou a seguir as diretrizes europeias e já não exige jejum dos pacientes que vão realizar exames de colesterol total e frações. “Isso muda a cultura dos laboratórios e melhora a qualidade de vida dos pacientes”, diz Ferreira, lembrando o desconforto que é ficar 12 horas em jejum, ainda mais no caso de um diabético e/ou idoso, que faz uso de muitos medicamentos por dia.
Caso as novas diretrizes se estabeleçam, os valores de referência de alguns exames podem sofrer alterações, já que foram definidos em indivíduos saudáveis que estavam em jejum antes da coleta de sangue. “Desde que os laudos de exames contenham o tempo de jejum do paciente e que os valores de referência sejam readequados, é possível realizar exames sem jejum”, explica o presidente da SBPC/ML e patologista clínico, Dr. Alex Galoro.
Exigência de jejum
O período de jejum habitual para a coleta de sangue de rotina é de 8 horas, podendo ser reduzido para 4 horas para a maioria dos exames. Até o presente momento, o jejum de 12 horas é uma exigência formal para a coleta do perfil lipídico, e para o exame de glicose no sangue para o diagnóstico do diabetes, o tempo em jejum exigido é de 8 horas. Na análise do perfil lipídico do paciente para avaliação de risco cardiovascular, o jejum era recomendado devido às variações dos níveis de triglicérides após as refeições.
Como estudos recentes demonstraram um maior risco cardiovascular para pacientes com triglicérides elevado após as refeições, o fim do jejum contribuirá para identificar este grupo de pacientes. Com a vantagem de refletir as condições fisiológicas do dia a dia e de evitar o desconforto e possíveis complicações do jejum prolongado. Além disso, há um consenso europeu que afirma que as pequenas variações observadas entre dosagens com e sem jejum para definição de valores de risco cardíaco poderiam ser corrigidas se fossem estabelecidos novos valores referenciais. A dosagem com jejum prolongado seria necessária somente quando o nível de triglicérides, fora do estado de jejum, encontra-se acima de 440 mg/dL.