Os anseios de diferentes mulheres, que carregam vivências, dores e propósitos, são traduzidos em situações lúdicas no novo livro do escritor, professor e terapeuta pernambucano Hugo Monteiro Ferreira, finalista do Prêmio Jabuti na categoria Juvenil. A Costureira da Rua Quinze (252 páginas, Editora Confraria do Vento), recém-lançado, traz traços importantes do projeto ficcional do autor, como a criação de personagens que enfrentam desafios da vida de modo sempre surpreendente. Dedicado à psiquiatra alagoana Nise da Silveira, o livro é uma ode às mulheres e à loucura e destina-se, de modo mais direto, ao público adolescente-jovem-adulto.
Com significativas ilustrações da psiquiatra francesa Héloïse Delavenne Garcia, o romance acompanha a trajetória de três mulheres que precisam chegar até Elvira, a costureira da Rua 15. Tininha, uma jovem que recebe um pedido de casamento, mas o seu possível futuro esposo lhe exige uma roupa de difícil alcance; Esmeralda, uma adolescente cega que acredita ser Elvira a única que lhe poderá ajudar e Angélica, uma moça que viu sua mãe, por muito tempo, ser vítima de violência doméstica, e tem esperança que as costuras de Elvira poderão salvar a vida de sua mãe.
Chegar à Rua Quinze, todavia, nem é simples e nem fácil, é desafiador e exige coragem, dedicação e persistência. As três mulheres estão dispostas a cumprirem as exigências, a atravessarem os obstáculos, a ultrapassarem os limites impostos pelo trajeto até a casa de Elvira. Esmeralda necessita passar pelo Largo dos Sonhos, local em que a realidade racional é posta em xeque e a loucura dita o ritmo dos acontecimentos; Angélica precisa enfrentar o Vale das Covardias, espaço ocupado por covardes, indivíduos traiçoeiros, figuras impostoras; Tininha tem de conhecer o Beco das Assombrações, lócus no qual vivem mulheres que experimentaram a gramática do amor violento.
O autor nos diz em relação ao seu livro:
“Trago a ideia da loucura como uma construção social, pois vivemos em uma sociedade que constantemente trata a mulher por louca. No meu livro, uma das personagens é jogada no Largo dos Sonhos por ser considerada louca”, explica Hugo Monteiro Ferreira. “O livro é a minha ode às mulheres e à loucura. As personagens masculinas não têm nomes. Só as mulheres são nominadas. É uma maneira de dizer que a história é das mulheres. Os homens são mera figuração”.
Hugo Monteiro Ferreira é autor de vários livros de ficção para crianças, adolescentes e jovens, a saber Benedito (2005, Paulinas) Antônio (2012, Escrita Fina); Emílio ou quando se nasce com um vulcão ao lado (2014, Escrita Fina, Finalista do Jabuti); Os anjos estão de volta (2015, Giostri); Nirtus (2017, Cortez); Indira (2017, Franco Editora).
Com o livro A Costureira da Rua Quinze, Hugo quer dialogar com adolescentes e jovens e, por óbvio, a linguagem do livro tenta alcançar a interlocução com esse público exigente e cuidadoso. “Por vezes, sem perder a estética e nem subestimar meus leitores e minhas leitoras, eu realmente pretendi passar uma mensagem, algo que pusesse o machismo contra a parede e o enfrentasse”. A obra foi escrita em 2013, mas só agora foi publicada. “Poderia estar desatualizado, mas infelizmente, temas como machismo, misoginia, feminicídio estão mais presentes do que nunca em nossa sociedade. Escrevi um livro para me juntar às mulheres e enfrentar tudo isso. Quero ser um aliado delas. Meu livro é para elas e que eles também leiam e leiam muito”, finaliza.