Uenni é premiada nacionalmente com 19 imagens produzidas ao longo de três anos no Ilê Axé Oxalá Talabi
A fotógrafa pernambucana Wenny Mirielle Batista Misael, conhecida como Uenni, venceu o Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger com a série “Canjerê dos Pretos Velhos na Jurema Sagrada”. O anúncio ocorreu em 27 de novembro. Mulher negra e sem formação acadêmica formal, ela conquistou seu segundo prêmio nacional com um trabalho iniciado em 2022 no Terreiro Ilê Axé Oxalá Talabi, no território afro-indígena de Paratibe, em Paulista.
A série premiada reúne 19 imagens, produzidas entre 2022 e 2025, registradas ao longo de três anos de convivência contínua na comunidade religiosa. Dez dessas fotos já haviam recebido o primeiro lugar no Prêmio Mário de Andrade de Fotografias Etnográficas. As outras nove, inéditas, ampliam o conjunto produzido por Uenni dentro do terreiro, onde documenta rituais, atividades e relações cotidianas. O trabalho dialoga com debates sobre racismo religioso e preservação de saberes ancestrais.
O impulso para registrar terreiros surgiu a partir de lembranças familiares. A descoberta de fotografias antigas produzidas por sua avó em um terreiro de Jurema, nos anos 1990, levou Uenni a reconhecer o caminho que já vinha construindo ao retratar tradições populares. A fotógrafa passou a acompanhar de perto o cotidiano do Ilê Axé Oxalá Talabi, seguindo transformações, ciclos e trajetórias dentro do espaço. “Este trabalho que está ganhando o segundo prêmio foi feito com calma. Ele segue a história de um terreiro, de um culto, de uma tradição, sem pressa”, afirma.
Com o reconhecimento, Uenni integra a mostra coletiva e o catálogo da 10ª edição do Prêmio Pierre Verger. No último ano, ela ampliou a circulação do trabalho, com participação em exposições no Rio de Janeiro e no Agreste pernambucano, além de ministrar formação audiovisual em terras indígenas no Acre.
O Ilê Axé Oxalá Talabi, onde a série foi produzida, atua há mais de três décadas preservando práticas do candomblé nagô e da Jurema Sagrada. Localizado em Paulista, o espaço é reconhecido como Patrimônio Vivo de Pernambuco e integra iniciativas de memória, educação e preservação cultural.
