A Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), por meio da sua Diretoria de Pesquisas Sociais (Dipes), está disponibilizando à sociedade o relatório parcial e o banco de dados da pesquisa sobre o desastre econômico e socioambiental provocado pelo derramamento de petróleo nas praias nordestinas. O amplo trabalho, nomeado de “Impactos Socioeconômicos e Ambientais da Contaminação por Petróleo nas Praias do Litoral da Região Nordeste” mostra a dimensão dos impactos causados, especialmente junto às populações de alta vulnerabilidade que dependem dos recursos pesqueiros.
Ainda sem uma causa comprovada sobre a origem, as manchas de petróleo cru começaram a surgir em 31 de agosto de 2019 em diversas praias nordestinas, culminando em praias da região Sudeste. Manchas de tamanhos variados contaminaram os ambientes costeiros, especialmente os manguezais, estuários de rios e lagoas.
Assinada pelos pesquisadores da Fundaj Luís Henrique Romani, diretor da Dipes, Neison Freire, Beatriz Mesquita e Tarciso Quinamo, a pesquisa evidencia os prejuízos econômicos relacionados ao turismo, ambulantes, bares e restaurantes. Foi dividida em duas etapas, sendo uma de mapeamento das praias e outra de entrevistas junto aos grupos sociais objeto do estudo.
Na primeira etapa foram mapeadas 201 praias em nove estados utilizando imagens de satélite para identificar as áreas com afloramento rochoso, corais submersos, corpos d’água, vegetação, faixa de areia e áreas urbanizadas. Os principais resultados apontam 390 hectares de praias contaminadas em Alagoas, inclusive em extensas áreas de manguezais na foz do rio São Francisco. Em Pernambuco, foram 260 hectares de corais e 692 hectares de mangues e vegetação nativa que podem ter sido afetados pela contaminação em 11 municípios.
Na segunda etapa, os pesquisadores realizaram cerca de 4 mil entrevistas junto a grupos sociais nos municípios que, de alguma forma, foram diretamente impactados pela contaminação nos nove estados da Região. Foi observado que as cidades com maior vulnerabilidade socioeconômica e ambiental são as que vivem da pesca artesanal.
Em relação aos bares e restaurantes especializados em frutos do mar foi identificada uma perda de faturamento médio de 29,9%, enquanto nos demais a perda foi de 10,7%. Já a rede de hospedagem, 21,6% dos 29 estabelecimentos entrevistados realizaram alguma ação de marketing para superar o desastre. Os meios de hospedagem de municípios turísticos foram relativamente mais proativos que os de municípios grandes.
Quanto à pesca, única atividade econômica de 59,5% das famílias, 40,4% dos pescadores artesanais entrevistados relataram que estuários e/ou manguezais próximos foram atingidos e 67,5% relataram queda de renda por conta do petróleo nas praias. A redução da renda média entre os pescadores foi de 37,28%.
Em relação ao ambulantes, também alvo do estudo, 81,8% dos entrevistados sobrevivem dessa fonte de renda e 82,6% deles relataram que o petróleo atingiu uma das praias em que trabalham. Fato que afetou a renda de 64,6% deles.
A pesquisa revela que as gestões locais de municípios menores não estão preparados para calamidades – parte da resposta ao derrame do petróleo deve ser o fortalecimento das administrações locais, provavelmente com a criação de consórcios.
Também se confirmou a hipótese inicial de que o impacto do derramamento do petróleo não é homogêneo entre os municípios, logo as políticas de mitigação dos efeitos do derrame do petróleo devem ser desenhadas por tipo de município.
Para apresentar e discutir com as populações envolvidas no processo os resultados da pesquisa, a Fundaj realizará em setembro próximo um ciclo de três debates virtuais, por meio do seu canal YouTube na Internet. Alguns relatórios parciais já estão publicados e disponibilizados na página da pesquisa no site Fundaj, no menu Cieg, da Dipes. Em breve, o relatório final também estará disponível. A página da pesquisa ainda disponibiliza o banco de dados, as notas técnicas e os infográficos que podem ser baixados por pesquisadores, alunos e professores interessados no tema com livre acesso.