Em 1917, o Sertão alagoano passava por grandes transformações. Ferrovias, estradas, usina hidroelétrica, fábrica têxtil e a introdução de automóveis acentuavam o desenvolvimento da Vila da Pedra - hoje município Delmiro Gouveia. Seu patrono, tinha emigrado de Pernambuco, estabelecendo uma ligação entre os dois estados e sendo o responsável pelas implementações. Empreendedor nato, Gouveia foi além, pensou e financiou o mais importante jornal da região, chamando-o de “Correio da Pedra”.
Apesar dos esforços, foi assassinado antes de ver o semanário circular. Foram seus sucessores que publicaram o primeiro exemplar, em 12 de outubro de 1918, mantendo o Correio da Pedra em circulação durante 12 anos. Um século depois, com iniciativa do professor e pesquisador Edvaldo Francisco do Nascimento, o Governo de Alagoas reeditou os exemplares preservados no Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL). Concluída em junho de 2018, a reedição foi dividida em coleções e, desde então, está sendo distribuída entre instituições que fomentam a cultura no país. A Fundação Joaquim Nabuco, proprietária de parte do acervo de Delmiro Gouveia, foi uma das escolhidas.
A entrega está marcada para o próximo dia 11 de fevereiro, às 16h, na Villa Digital, campus Apipucos da Fundaj, situada no casarão onde o empreendedor também viveu com sua esposa, Anunciada Cândida. “Essa coleção vem enriquecer o nosso acervo de periódicos, estando ao lado de outros jornais raros do nordeste que mantemos conservados. Com a doação, pretendemos dar visibilidade a esse jornal tão importante”, ressalta a coordenadora de Documentação e Pesquisa da Fundaj, Betty Lacerda. Estarão presentes na cerimônia funcionários da Casa, representantes do Governo de Alagoas e da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) - empresa ligada à preservação da memória de Gouveia. O evento será aberto ao público.
As pautas do Correio da Pedra estavam sempre relacionados com a vida pública. Seca, necessidades sertanejas, estradas férreas, a Cachoeira de Paulo Affonso, dívida externa brasileira, petróleo e cangaço eram assuntos recorrentes, publicados uma vez por semana. “O que chama a atenção é que, embora a ‘Pedra’ seja alagoana, muitas das referências são do Recife. Naquela época, os homens da fábrica se interessavam pelo cotidiano pernambucano, alguns até tinham casa no estado”, conta Edvaldo do Nascimento. Ainda segundo ele, notícias de outros jornais também eram reproduzidas, aumentando ainda mais a diversificidade do semanal. “O Globo, Correio do Acre, Jornal de Alagoas, Jornal do Commercio, Diário de Pernambuco e Jornal de Caruaru eram alguns deles”.
O mestrado em Educação do Brasil, pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), foi o ponto de partida para que Edvaldo se debruçasse sobre os exemplares do Correio da Pedra. Em sua pesquisa, precisava entender como foram instituídas escolas no eixo industrial do sertão, para assim estudar o projeto educativo do Industrial Delmiro Gouveia. “Fui atrás de arquivos, com fontes e informações da época. O Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas foi um dos locais que consultei, tendo contato com o Correio da Pedra. Lendo o Jornal, me surpreendi com os editoriais e notícias, como um grande quadro da memória do São Francisco”, acrescenta o pesquisador.
A doação das coleções, em reedição, do semanário Correio da Pedra ficará disponível no acervo da Biblioteca Blanche Knopf, pertencente ao Centro de Documentação e de Estudos da História Brasileira Rodrigo Mello Franco de Andrade (Cehibra), campus Apipucos da Fundaj. Existe ainda a pretensão de que o material seja acrescentado à Villa Digital, estando presente nas plataformas onlines: site e aplicativo.
Serviço
Doação de coleção do jornal Correio da Pedra
Villa Digital, Fundação Joaquim Nabuco campus Apipucos
Data: 11 de fevereiro de 2020
Horário: 16h
Evento aberto ao público
(Da Fundaj)