Um futebol no qual a bola, em vez de ser redonda, tem formato oval e no lugar de utilizar as pernas para fazer gol, utilizam-se os braços para arremessar até o outro lado do campo. Este é o futebol americano. Um esporte que vem conquistando cada vez mais torcedores no Brasil e inspirando os apaixonados pelo jogo a criar times locais. De acordo com os dados analisados pela ESPN (rede televisiva por assinatura dos Estados Unidos com franquia no Brasil), em 2008, não existia nenhuma equipe competindo torneios brasileiros. Já em 2013, esse número deu um salto: 53 times disputavam os campeonatos com o equipamento completo, como protetor bucal, ombreira, capacetes e luvas.
Embora o esporte seja consideravelmente novo no País, alguns torcedores já vestiram a camisa do time e compraram ingressos para assistir aos jogos em campo, como foi o caso do estudante Arthur Santana (20 anos). Em um intercâmbio realizado em 2013, ele conheceu o esporte na cidade em que ficou hospedado, no Arizona (EUA). “Eu sabia que existia, mas nunca havia despertado o interesse para saber mais a fundo. Só que onde eu morava, meus pais de criação tinham o hábito de toda quinta-feira ir para uma hamburgueria acompanhar o jogo do Arizona Cardinals, uma equipe local e na escola tinha um time chamado PV Trojans, em que os alunos pagavam para assistir a equipe jogar. Foi então que despertei esse interesse”, justifica.
Como estava tão envolvido na cultura norte-americana, o estudante conta que ao voltar para o Brasil, continuou acompanhando as partidas pela TV, mas também sentia falta de jogos realizados no Recife. Foi quando decidiu montar uma equipe de futebol americano na escola. “Jogávamos toda terça-feira. Ensinei como jogar aos meus amigos e montamos um time, o Paulista Red Dragons (em homenagem à cidade de Paulista onde mora). Depois fui apresentado, por um amigo, a um dos jogadores do Recife Mariners e comecei a acompanhar o time”, conta Arthur.
Já no caso do estudante Cléber Araújo, ele sempre gostou de assistir jogos de basquete e hóquei. A paixão pelo futebol americano surgiu quando assistia à TV por assinatura e alguns comentaristas discutiam sobre o esporte. “Antes já tinha ouvido falar, mas eu não achava legal, por puro preconceito, porque nos filmes parece ser apenas pancadaria”, recorda. “No meses de agosto e setembro, época que começa a temporada, passei a assistir às partidas sozinho na TV. Lia em PDF as regras para entender melhor. Desde então não parei mais de acompanhar”, revela Cléber (23), que é torcedor do Pittsburgh Steelers.
Não demorou muito para Cléber ganhar adeptos. “Apresentei o esporte aos meus amigos e eles gostaram. Logo criamos um grupo no WhatsApp para comentarmos as partidas. Aos poucos eles foram compartilhando com outros conhecidos e hoje tem gente de todo Brasil.”
O produtor de uma agência de publicidade, Pedro Silva (31) acompanha, desde 2006, o New Orleans Saints e acredita que o crescimento do número de torcedores do futebol americano deve-se aos canais de TV por assinatura, como a ESPN, que passaram a transmitir as partidas. “Com uma cobertura descolada e irreverente ajudaram a trazer à tona esse esporte”, ressalta. Para ele, um dos termômetros que afere esse crescimento é o fato de, tempos atrás, ter comprado três camisas dos Saints no exterior por não achar o produto nas lojas nacionais. “Um dia desses fui ao shopping e havia uma loja vendendo camisas da NFL (National Football League, a maior liga de futebol americano do mundo)”, destaca. O produtor ainda observa que já existem bares no Recife que fazem festa temática em noites de Super Bowl (partida que decide o campeão da temporada). “Há 10 anos isso era impensável”, compara.
Esse crescimento de público não se refere apenas aos telespectadores. É visível também a quantidade de torcedores que assistem às competições na Arena Pernambuco, sendo maior, inclusive, que a de jogos de times do futebol tradicionais, como o Náutico. A partida do Recife Mariners contra João Pessoa Espectros, por exemplo, arrastou aproximadamente 6 mil pessoas ao estádio.
Mas não é só de “marmanjos” que a audiência dos jogos é formada. As mulheres têm mostrado que entendem de futebol americano. É o caso da advogada Maria Eduarda Montenegro, que torce para o Kansas City Chiefs. Há 4 anos, ela conheceu o esporte por meio do ex-namorado. “Comecei a assistir com ele e adorei. Acompanho até hoje”, conta. Já a biomédica Marina Chichierchio, que morou um tempo nos EUA, começou a assistir no ano passado. “Apesar de ser popular nos Estados Unidos, só passei a assistir com mais frequência quando voltei ao Brasil e pude entender melhor as regras. Assisti praticamente à temporada toda”, relata.
Apesar de acompanhar times diferentes, os torcedores compartilham da mesma opinião quando o assunto é o diferencial do esporte. “É um jogo que envolve bastante tática e estratégia. O futebol inicialmente pode assustar, mas na verdade é muito bem amarrado, voltado fundamentalmente para a diversão”, pontua Pedro Silva.
Neste mês de setembro, a torcida segue vidrada nas transmissões pela televisão porque começa a temporada da NFL 2017-2018 nos Estados Unidos. Os jogos seguem até o próximo ano, com o desfecho no Super Bowl.
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Pernambuco tem times e torcida de futebol americano
*Reportagem de Paulo Ricardo Mendes, da Revista Algomais