No próximo dia 17 de novembro, a galeria Amparo 60 abre seus salões para a exposição Compacto, do artista pernambucano Marcelo Silveira, com curadoria de Joana D’Arc Lima. Serão pouco mais de 30 obras – algumas mais recentes e outras mais antigas –, todas em dimensões mais reduzidas, mas que se sobressaem pela delicadeza, pelo detalhe, pelo pequeno, pelo menor, sem deixar de ser representativas da poética desenvolvida pelo artista ao longo dos seus mais de 30 anos de trajetória artística.
Para Silveira, que volta a ocupar o espaço da Amparo 60 pela segunda vez, essa mostra é um modo de tentar estabelecer conversas com instâncias do mundo da arte que, pelo menos em Pernambuco, aparentam estar muito afastadas. “Não sei, mas aqui temos galeristas que não frequentam outras galerias, artistas que não vão as mostras de outros artistas, museus e galerias de arte que não se articulam… Para a engrenagem funcionar, precisamos que todos conversem, entrem em contato, dialoguem. Trata-se de uma cadeia produtiva”, pontua o artista, ressaltando que essa ideia de estabelecer pactos é central na mostra.
Segundo a curadora, nos diversos encontros que tiveram para executar o recorte da mostra, ficou clara a necessidade de criar uma espécie de pacto entre as obras, colocando-as num contexto para que dialogassem. “Nossa ideia é que esses pactos que criamos sejam refeitos ao longo do tempo, reposicionando algumas obras, vamos gerar novas conversas, novos ruídos, nossa ideia é brincar com essa ressignificação”, diz Joana D’Arc.
O poeta Manoel de Barros, que comemoraria 100 anos neste mês de dezembro, foi inspirador no processo de seleção das peças. A dupla leu junto, discutiu, e colocou “o poeta” em contato com as obras. “Nos inspiramos na ideia de Manuel de Barros: O cisco tem agora para mim uma importância de catedral. (Retrato do artista quando coisa, Manoel de Barros, p. 23)”, destaca Joana.
Entre as obras, estarão peças bi e tridimensionais (objetos, livros de artista, múltiplos, vídeos, lambe), feitos nos mais diversos materiais, tendo a madeira, matéria-prima tão estimada pelo artista, um papel bastante especial. “Parte deles estava adormecida a espera de um momento certo para serem postos em diálogo”, diz a curadora. O foco nos objetos em menor escala se justifica através do conceito de compactibilidade. Para facilitar a circulação e o deslocamento é preciso compactar. “Fazer a portabilidade de uma coisa, estimulando seu trânsito, seu contato com os outros, é mais fácil quando ela é compacta”, diz Silveira.
A montagem da mostra conta com mesas que vão deixar o ateliê e a casa de Marcelo Silveira para serem postas nos salões da galeria, recebendo alguns dos objetos, passando a ser ressignificadas naquele novo ambiente. Para Silveira, a mesa é bastante simbólica, pois o momento das refeições foi durante anos um espaço de diálogo, de conversa, de troca. “Não se trata de um mero mobiliário expositivo, a mesa via estar ali dentro de um contexto”, afirma.
Os trabalhos em exposição trazem características marcantes do trabalho de Silveira, que utiliza, habitualmente, coisas e objetos esquecidos, técnicas e procedimentos obsoletos, na construção de sua poética, colocando diversas camadas de tempo em diálogo. “Essa exposição está vinculada a anterior, realizada por Marcelo, há dois anos, no Mamam, Especialista em coisas inúteis. Não dá para separar. É incrível o enorme cuidado que ele tem com o seu fazer, e também o seu rigor formal, algo invejável, algo que poucos artistas contemporâneos têm. São idas e vindas, avanços e voltas, que produzem elos entre essas mostras, entre tempos que se conversam”, detalha a curadora, que apesar de ter contato intenso com o artista há anos, nunca havia feito uma curadoria de uma mostra individual de Silveira, que nos últimos 15 anos se consolidou como um nome muito forte no cenário artístico nacional.