Por Joca Souza Leão
– Como foi a sua primeira vez, Gilberto?
– Experimentei o contato pecaminoso com uma vaca, sabe?
– E você, Zé Lins, que foi menino de engenho, criado entre os bichos?
– Quem sou eu? Vaca? Nunca tive o porte de um Gilberto Freyre. Foi com Zefa Cajá, uma quenguinha do Engenho Corredor.
– E você, Bandeira?
– Eu só lembro do meu primeiro alumbramento. No Sertãozinho de Caxangá, num banheiro de palha na beira do Capibaribe, vi uma moça nuinha no banho. Ela se riu. Fiquei parado. O coração batendo...
– Clarice, querida, você, que taí caladinha...
– Quiném Bandeira, vou ficar no alumbramento (risos). Foi no Recife. O menino, numa mistura de carinho, grossura, brincadeira e sensualidade, cobriu meus cabelos de confete. E eu então, mulherzinha de oito anos, considerei que alguém havia afinal me notado como mulher.
*Trecho do meu livro A primeira vez – Crônicas e 101 Diálogos (Im)prováveis que será lançado pela Cepe em novembro. De uma entrevista, um romance, um poema e uma crônica, este ‘diálogo’: