Hermilo Borba Filho: O gênio e suas obras

Ousado, vanguardista e inovador. Essas são algumas das características entre tantas outras que poderiam definir o jornalista, advogado, escritor, crítico literário, dramaturgo, diretor, teatrólogo, tradutor brasileiro e agitador cultural que foi Hermilo Borba Filho. No dia 8 julho, ele completaria 100 anos. Apesar da sua morte, suas obras seguem imortalizadas.
Natural de Palmares, do Engenho Verde, Zona Mata Sul, Hermilo formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais, pela Faculdade de Direito do Recife. O gosto pelas artes cênicas e pela escrita fez com que unisse essas duas vertentes e produzisse em vida, sete romances, duas novelas, 12 pesquisas e ensaios, além de dezenas de traduções e 23 peças.

A partir dos anos 1930 até os últimos dias de vida, acumulou diversas funções. Na Sociedade de Cultura Palmeirense, por exemplo, atuou como ponto, diretor e intérprete. Participou também desenvolvendo o trabalho de ponto no extinto Grupo Gente Nossa, movimento teatral da época; traduzindo peças e atuando no Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP); na direção artística do Teatro de Estudante de Pernambuco, ao lado de Ariano Suassuna. Ainda trabalhou como jornalista e diretor, e fez parte do corpo docente do curso de Teatro da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), criando também o Teatro Popular do Nordeste (TPN), paralelamente com o Teatro Arena do Recife.

Para o professor do Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPE, Anco Márcio Tenório Vieira, é neste momento que Hermilo passa a ter destaque no teatro e, consequentemente, alguns autores se desenvolvem inspirados no seu trabalho, como Ariano Suassuna. Nos seus estudos, Vieira avalia a importância do intelectual sob o ponto de vista de sua existência. “Se Hermilo não tivesse existido, como seria? O gênero artístico ficaria desequilibrado? Se a reposta for positiva, então ele é importante. Se pensarmos nele como escritor e pensador intelectual, percebe-se que a partir do seu trabalho se teve uma construção daquilo que se passou a chamar de o Teatro do Nordeste”, ressalta.

Hermilo, segundo Vieira, faz parte dos intelectuais pernambucanos que têm importância não só em Pernambuco, mas também nacional. “Ele é um dos maiores encenadores da segunda metade do século 20. Traz uma leitura inteligente, instigante e inovadora do teatro. Um dos principais romancistas e novelistas da sua geração”. Entre os diferenciais de sua abordagem está a forma como constrói a estética teatral. “Borba dialoga com o romancista e dramaturgo alemão Bertolt Brecht, por meio da forma anti-ilusionista do poeta e a partir daí cria a sua própria encenação. Algo que nenhum de seus contemporâneos conseguiu fazer”, analisa Vieira. Mas, ao contrário do alemão, que realizava críticas artísticas ao desenvolvimento das relações humanas capitalistas, Hermilo, na literatura, embora fosse de esquerda, evitou abordar um viés de documentário político-sociológico, trazendo em suas obras um cunho mais memorialístico e autobiográfico.

Para conhecer o multiartista
Neste ano em que se comemora um século de Borba Filho, suas obras voltaram a ser discutidas e revisitadas por críticos literários, leitores e até editoras. Para o professor da UFPE e dramaturgo Luís Reis, responsável por um dos principais textos escritos sobre Hermilo, Fora de Cena, no palco da modernidade, a versatilidade da escrita do intelectual permite ao leitor conhecer a genialidade do artista a partir de suas obras. “No teatro, temos a peça A Donzela Joana e Sobrados e Mocambos, que são fundamentais para conhecer um pouco da história do País e também porque foram escritas na sua maturidade, depois de ter pisado em vários palcos”, explica. Dos ensaios, Reis indica Diálogo do Encenador. “Primeiro estudioso a se aprofundar no teatro com esse gênero literário na década de 1960”, justifica.

No âmbito da cultura popular, o professor sugere Apresentação do Bumba meu boi, pois para Reis, enquanto a sociedade da época enxergava apenas como uma dança do folclore brasileiro, Hermilo já vislumbrava, nessa manifestação, uma forma de expressão artística moderna. O professor também destaca duas obras que foram reeditadas pela Cepe: a novela Os Ambulantes de Deus e a Coletânea de Contos. “São textos escritos no auge de sua sofisticação e força de entendimento humano, é pura poesia”, analisa.

Anco Márcio Tenório Vieira compartilha da mesma opinião quanto às indicações de livro de Reis. “É uma boa introdução para as obras de Hermilo”, observa. Ainda acrescenta a tetralogia de romances Um Cavalheiro da Segunda Decadência: Margem das lembranças; A porteira do mundo; O cavalo da noite e Deus no pasto. Ainda indica Por um Teatro do Povo e da Terra: Hermilo Borba Filho e o Teatro de Estudante de Pernambuco, de Luiz Maurício Britto Carvalheira. “Primeiro texto sistemático sobre o intelectual e que ao mesmo tempo mostra opiniões e movimentos que marcam aquela época”, justifica.

 

Veja mais das comemorações do centenário:

Uma semana de atividades para celebrar o centenário de Hermilo Borba Filho

 

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