*Por Wanderley Andrade
Exposição de artes plásticas, palestras, leituras dramáticas, maracatu, coco de roda e banda de jazz. Prato cheio para quem não perde uma boa programação cultural. Essa é a proposta da Praça, evento organizado pela igreja protestante “A Ponte”, localizada no Bairro do Recife, no Cais do Apolo. A ideia é criar um ambiente agradável, permeado pela arte, e discutir a relação da sociedade atual com sua cultura.
A igreja “A Ponte” surgiu em 02 novembro de 2014, liderada pelo pastor Guilherme Franco, da Igreja Presbiteriana de Candeias. No início, era um pequeno grupo com pouco mais de 30 pessoas, que se reunia nos domingos em um estúdio fotográfico no centro do Recife. Mas logo o espaço ficou pequeno e, em 31 de maio de 2015, transferiu-se para um galpão próximo à comunidade do Pilar, no Recife Antigo. A igreja tem como característica o constante diálogo com a cultura. O evento “Praça” é uma das iniciativas que se encaixam nessa visão.
“A Praça é uma espécie de virada cultural dentro da ‘Ponte’. É o nosso movimento em direção a uma conversa mais próxima com a sociedade. Queremos criar um ambiente de convivência onde arte, beleza e produção intelectual possam ser bem-vindos”, explica Samuca Dantas, líder de criação e comunicação da igreja.
O grupo de percussão, Amart, da Primeira Igreja Batista do Recife será uma das atrações. Criado em 1997, traz no repertório elementos da cultura popular brasileira, como o maracatu, o coco de roda, a ciranda e a literatura de cordel. “Nossa proposta será levar um batuque bastante lúdico e interativo. Faremos uma mistura de ‘pife’ com maracatu, um pouco de poesia, um jogo de percussão corporal, coco de roda para o povo dançar, e a velha e boa ciranda”, conta Jocemar Mariz, líder do grupo. Ele aponta o evento como uma importante ferramenta de diálogo entre a igreja e a cultura popular. “Avalio como uma oportunidade de dialogarmos com nossas manifestações culturais e assim tentarmos aproximar nossas igrejas da nossa cultura. A partir disto, bons frutos poderão ser colhidos.”
Além do grupo de percussão, a “Praça” terá a apresentação do Quarteto Minuet, exposições artísticas com nomes como Edull e o grafiteiro Zeroff e um painel com o músico Silvério Pessoa. O evento acontecerá neste sábado (2), às 16h.
Entrevista – Silvério Pessoa
Ele nasceu em Carpina, cidade da Zona da Mata Norte de Pernambuco. A música o acompanha desde a infância – sua mãe, dona Ivete, era professora de acordeom. O tempo passou e trouxe para o músico mais uma paixão: ensinar. Mas o ofício de educador não amainou a força da música sobre sua vida. Hoje, Silvério Pessoa está entre os grandes nomes do cenário musical pernambucano.
Doutorando em Ciências da Religião, Silvério é um dos nomes que estará no evento “Praça”, da igreja “A Ponte”. Ele contou a Revista Olhar Cristão como será sua participação.
Como será sua participação no evento?
Fui convidado pela “Ponte” para apresentar num momento interativo, minha tese de doutorado, que é sobre música cristã contemporânea. Será uma apresentação simples: mostrarei como anda o desenvolvimento e a evolução da minha pesquisa, e depois abriremos uma roda de bate-papo. Eles acreditam que o tema é bem oportuno, inclusive para a galera jovem, e mexe com arte, movimentos artísticos modernos contemporâneos.
Como aconteceu o primeiro contato com a “Ponte”?
A Ponte promove algo que nós cientistas da religião acreditamos ser imensamente necessário, que é o diálogo inter-religioso. As religiões dando as mãos, encontrando diferenças, encontrando pontos em comum, mas com um objetivo do bem de seus crentes, de seus fiéis, da humanidade. Costumo fazer uma garimpagem em todos os meios de comunicação, principalmente dos novos movimentos religiosos contemporâneos, e vejo a igreja “A Ponte” como inserida nesse novo campo religioso moderno. Costumo seguir os cultos via Instagram, Periscope e também sigo o pessoal pelo Facebook. Mas, na realidade, o momento mais “humano” mesmo, considerando que tudo hoje é virtual, deu-se numa apresentação do Marcos Almeida no Teatro Santa Isabel. Ele trouxe o espetáculo Culto é Cultura, um projeto solo dele, que é uma figura muito legal. Nesse dia, conheci o pessoal que faz a coordenação da “Ponte”.
Como você avalia a proposta da “Ponte” de trabalhar a cultura popular na igreja?
Não há outro caminho no campo religioso contemporâneo, não só no Brasil, como no mundo, que não seja aproximar a crença, a fé, o sagrado, à cultura. A teologia é toda reinterpretada de acordo com as religiões. Os ritos, rituais, celebrações, todos são diferentes uns dos outros, isso é o que torna as religiões enriquecidas, e tudo isso está inserido dentro do campo cultural. A cultura sem as religiões, irá ficar manca, não existe. Toda cultura tem em seu contexto social, político, econômico, educativo, pedagógico, artístico, as religiões. As religiões são instituições que deixaram marcas profundas no campo artístico. O que existe de mais moderno hoje é aproximar a cultura, os templos da cultura de cada povo. E essa cultura é toda diluída. Posso citar a própria cultura pernambucana: a Zona da Mata tem uma cultura, o Agreste tem outra, e o Sertão também. E a “Ponte” está instalada num espaço estratégico, que é a cultura urbana, de periferia, do menos favorecido. Isso é riquíssimo. O catolicismo está aí com os padres artistas, o movimento gospel em franca expansão, o budismo saiu dos mosteiros e está peregrinando aqui pelo ocidente e pelas várias sociais, enfim, não tem outra saída.
Confira a programação completa:
http://somosaponte.com/praca/
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*Por Wanderley Andrade é jornalista