(Da Fecomércio-PE - Foto: Alepe/Breno Laprovítera)
Segundo o recorte local realizado pela Fecomércio-PE, o índice de Intenção de Consumo das Famílias pernambucanas (ICF-PE) oscilou ligeiramente para cima em setembro, voltando ao patamar observado em junho e julho deste ano. Com o resultado de 82,3 pontos, o índice mante-se estável na média dos últimos 6 meses (desde abril). Nesse sentido, o ICF-PE vem sinalizando certa estagnação no ímpeto de compras em dois trimestres consecutivos, ou seja, de abril a junho e de julho a setembro.
Observando o gráfico da série histórica recente, é evidente a trajetória de recuperação ocorrida desde agosto de 2021 até abril de 2022, e logo em seguida uma tendência de desaceleração a partir de maio. Destaca-se ainda que mesmo com os avanços recentes o índice ainda se encontra abaixo do nível observado no período pré-pandemia, quando superava 85 pontos, e muito aquém do nível considerado de otimismo para o consumo, que é de 100 pontos ou mais.
Pernambuco: evolução do ICF (valores em pontos) – dezembro/2019 a setembro/2022
Fonte: CNC. Elaboração Fecomércio-PE.
Entre os fatores que explicam a estagnação do indicador, ressaltam as incertezas sobre os rumos da economia nos próximos meses, especialmente após a eleição presidencial, cujo rumo traz diferentes expectativas às classes de consumidores, sobretudo quanto a condução de políticas para geração de emprego, distribuição de renda e incentivos ao consumo. Nos próximos meses, em função desse ambiente de incertezas, a tendência é de que o índice de consumo permaneça estável ou volte a avançar apenas lentamente.
O avanço nos meses anteriores, principalmente entre maio e julho, estiveram muito atrelados ao movimento do mercado de trabalho formal, que passou a registrar bons resultados no estado, com saldo positivo de empregos (admitidos subtraídos de desligados) em todos os setores.
Pernambuco: saldo mensal do emprego formal – janeiro/2022 a julho/2022
Fonte: MTP. Elaboração Fecomércio-PE.
Com efeito, apenas dois subíndices do ICF-PE se encontram no patamar de satisfação ou otimismo (100 pontos ou mais), e entre eles se encontra o subíndice que aborda a situação atual da empregabilidade, que alcançou 101,4 pontos em setembro, com avanço de 1,2% na comparação com agosto e de 24,7% na comparação com setembro do ano anterior.
A retomada mais intensa das atividades, sobretudo nos serviços de atividades aglomerativas, como espetáculos artísticos e eventos esportivos, e o dinamismo dos serviços de transporte, seja de pessoas ou na área de logística, também têm contribuído para o crescimento da ocupação no estado, embora carregados de informalidade. Sobre esse aspecto, destaca-se que a PNAD/IBGE registrou 52% da população ocupada do estado em situação de informalidade, seja trabalhando por conta própria ou em atividades do setor privado e sem carteira assinada.
Nesse sentido, o desempenho no mercado de trabalho não tem sido suficiente para melhorar substancialmente a situação financeira das famílias, uma vez que a recolocação profissional nos serviços tende a ocorrer com menor nível salarial e o crescimento da ocupação via informalidade também ocorre com menor nível de rendimentos, já afetados pela alta consistente de preços ao consumidor (IPCA) desde o segundo semestre de 2020. Sobre esse aspecto, a PNAD/IBGE mostra que a renda da população ocupada no estado totaliza 6 semestres consecutivos em queda
Brasil e Pernambuco: variação (%) da massa de rendimentos da população ocupada – 1 semestre de 2019 ao 1° semestre de 2022 (base: mesmo período do ano anterior)
Fonte: IBGE. Elaboração Fecomércio-PE.
Na contramão da intenção de consumo, as famílias continuam apontando a possibilidade de continuar realizando gastos com o uso de crédito, fato que é corroborado pelo resultado do subíndice que aborda a propensão a compras a prazo, outro componente que superar os 100 pontos, ao lado do componente sobre o emprego atual.
Esse movimento se deve justamente ao fato de que, com o aumento generalizado de preços, muitas famílias recorrem à armadilha dos cartões de crédito para compensar a perda do poder aquisitivo e o orçamento apertado em determinado momento do mês, o que acaba comprometendo os meses seguintes, sobre o qual não existe certeza de que a renda será suficiente para quitar os débitos além dos gastos correntes mais essenciais, com moradia e alimentação, que em média compõem 2/3 das despesas domésticas segundo a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF/IBGE).
Pernambuco: ICF e subíndices - setembro/2021, agosto/2022 e setembro/2022
ICF e Componentes (sub-índices) | Set/21 | Ago/22 | Set/22 | Variação Mensal * | Variação Anual ** |
ICF Geral | 67,7 | 81,6 | 82,3 | 0,9% | 21,6% |
Emprego atual | 81,3 | 100,2 | 101,4 | 1,2% | 24,7% |
Renda atual | 77,9 | 97,0 | 98,9 | 1,9% | 27,0% |
Nível de consumo atual | 52,0 | 65,7 | 66,8 | 1,7% | 28,5% |
Compra a prazo | 92,4 | 100,1 | 101,6 | 1,4% | 9,9% |
Momento para duráveis | 57,0 | 63,1 | 61,4 | -2,8% | 7,7% |
Perspectiva profissional | 63,8 | 83,1 | 86,1 | 3,5% | 34,9% |
Perspectiva de consumo | 49,7 | 62,0 | 60,2 | -2,8% | 21,2% |
Fonte: Pesquisa direta CNC. Elaboração Fecomércio-PE. Nota: * base: mês imediatamente anterior; ** base: mesmo mês no ano anterior.
Nesse contexto, observa-se que o componente que avalia a perspectiva de consumo para os próximos meses se deteriorou entre agosto e setembro, com variação de -2,8%, o mesmo ocorrendo com a avaliação sobe a aquisição de bens duráveis. Ambos os componentes atualmente se encontram no nível mais baixo em relação ao ICF consolidado (60,2 pontos e 61,4 pontos, respectivamente).