Mais de 16 milhões de pessoas são atingidas por Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou derrame cerebral por ano, em todo o mundo. Desse total, 70% não conseguem retornar às atividades devido às sequelas, e cerca de 30% precisarão de auxílio para caminhar. Essa realidade já vem sendo atenuada com o tratamento precoce pós-AVC, iniciado logo após alta hospitalar, em países desenvolvidos, como o Canadá. Foi neste país, no estágio pós-doutorado no Jewish Hospital Rehabilitation-Laval, vinculado à McGill University-Montreal, que a Doutora em Neurociência e fisioterapeuta Katia Monte-Silva viu de perto como o atendimento imediato, intensivo e multidisciplinar pode ser efetivo e trazer os pacientes de volta às suas atividades laborais e sociais. No hospital canadense, o tratamento intensivo era realizado por cerca de seis meses, prazo estimado pela ciência com máxima capacidade para a recuperação do sistema nervoso, atingido durante um AVC.
Depois de voltar ao Recife, hoje (26), às 18h30, ela inaugura o Instituto de Neurociência Aplicada – INA Recife, em sociedade com as médicas neurologistas Raquel Goldstein e Valéria Salazar, e a também doutora em Neurociência e fisioterapeuta, Adriana Baltar. Instalado no empresarial Isaac Newton, no polo médico da capital, na Ilha do Leite, o INA Recife tem o propósito de inserir no Brasil a cultura do tratamento precoce do AVC, usando a neurociência em programas realizados por profissionais especializados, com mestrado e doutorado em suas áreas, que interagem entre si, facilitando a adoção de condutas para cada paciente.
Os programas são intensivos, com quatro horas diárias de tratamentos e usam tecnologias de última geração, como a robótica, e atividades práticas a fim de garantir autonomia aos pacientes para andar, se alimentar e tomar banho sozinhos, no menor prazo possível, o que irá permitir o retorno às rotinas e até ao trabalho, conforme o caso. As técnicas aplicadas visam o desenvolvimento da neuroplasticidade – capacidade do Sistema Nervoso Central de fazer uma recomposição neural diante de lesões cerebrais – como as causadas pelo AVC. A proposta do INA Recife se baseia em três eixos estratégicos: Assistência, Pesquisa e Ensino. “Além do centro de reabilitação queremos conectar a ciência e a assistência, aproximando o conhecimento científico da prática clínica. Vamos realizar pesquisas visando aplicação na clínica e levando questões da prática clínica para investigação em pesquisas”, declara Katia Monte-Silva.