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Inovação para o passageiro

Revista algomais

O contraste entre os milhares de carros no engarrafamento e os deslocamentos simples e eficientes dos pedestres ganhou o nome de “Paradoxo” na criação do arquiteto e artista plástico Luiz Rangel (quadro ao lado). Para sair dessa encruzilhada em que as grandes cidades entraram com o crescimento do transporte individual, a tecnologia tem sido uma aliada importante. Inovações são testadas com o objetivo de reduzir os impactos ambientais dos veículos motorizados. Outras, ancoradas em ferramentas digitais, auxiliam a rotina dos passageiros ao usar o serviço dos coletivos. Uma verdadeira corrida − empresarial e cidadã − em busca de melhor qualidade de vida urbana.

Algumas inovações são mais visíveis na cidade, como o sistema de bicicletas compartilhadas ou o BRT. A oferta de serviços de compartilhamentos de carros, como o Uber, afeta não apenas os taxistas. Mas tem também incentivado parte dos motoristas a deixarem em casa seus veículos, um fenômeno que gera menor necessidade de vagas de estacionamentos. Outras novidades, porém, são mais discretas. Estão embarcadas dentro dos ônibus ou beneficiam os passageiros nos terminais ou mesmo por meio de celulares.

As empresas de ônibus pernambucanas têm feito investimentos para acompanhar as novidades tecnológicas do setor. Hoje, a “menina dos olhos” dos grupos empresariais que atuam com transporte é a telemetria, de acordo com Gustavo Van Der Linden, diretor de engenharia e responsável pela gestão ambiental da Caxangá e Metropolitana. Trata-se de uma tecnologia de monitoramento e medição de várias informações em tempo real sobre os veículos para os motoristas e para as empresas de forma online.

“A telemetria reduz bastante o consumo de combustível, pois auxilia os motoristas a dirigirem de forma mais eficiente. Chegamos a reduzir em 7%, em uma das linhas de teste. É uma economia que cobre os custos do investimento”, afirma Gustavo. Além dessa diminuição, que já traz uma grande vantagem para o meio ambiente, com a redução de poluentes, a tecnologia tem conseguido outros ganhos no trânsito, como a diminuição de acidentes e de custos operacionais com a manutenção.

De acordo com Marcelo Bandeira, assessor executivo das empresas Pedrosa, Transcol e São Judas Tadeu, o grupo começou a usar a telemetria em agosto do ano passado. A gestão online da frota permite mapear eventos que ocorrem nos veículos, como freadas e acelerações bruscas, realização de curvas acentuadas ou mesmo problemas mecânicos. “Associada a essa tecnologia, temos um programa de condução ecológica, que atua no pilar da capacitação dos motoristas. Eles acompanham diariamente, por meio de um aplicativo, o resultado do consumo de combustível de suas viagens”, afirma.

Para estimular que seus funcionários motoristas se engajem na redução do consumo, as empresas trabalham com programas de bonificação por desempenho. Aqueles que alcançam as metas, geram saldos que se transformam em premiação em dinheiro.
Outras medidas que foram embarcadas no sistema de ônibus são relativas à bilhetagem eletrônica, que reduz a circulação de dinheiro nos coletivos, e a biometria facial, que registra a imagem dos usuários. Esta última tem como objetivo combater a evasão de passagens e a fraude no uso dos cartões do VEM.

Uma mudança aparentemente simples nos coletivos, a troca das rodas dos veículos, também tem promovido melhorias. “Estamos substituindo as fabricadas com aço por alumínio forjado. Elas apresentam metade do peso da convencional e têm uma resistência cinco vezes maior”, afirma Marcelo Bandeira. Características que, segundo o empresário, traz dois benefícios imediatos: a diminuição de consumo de combustível, devido à redução direta do peso e a queda em até 25ºC da temperatura do cubo de roda. “Isso aumenta a vida útil dos pneus, já que o maior índice de avarias é provocado pelo calor”.

O uso de GPS na administração das frotas de ônibus é outra novidade a favor dos usuários. “Esse sistema de rastreamento nos auxilia no controle da pontualidade e regularidade das linhas de ônibus”, afirma Gustavo. Com as informações desse sistema, é possível evitar que vários coletivos passem num mesmo horário nas paradas ou em intervalos de tempo muito grandes. Com os congestionamentos nas metrópoles, esse é um problema de difícil administração das empresas.

INFORMAÇÃO
De Pernambuco nasceu há quatro anos a tecnologia do CittaMobi. O aplicativo de apoio aos passageiros de ônibus está presente em 73 cidades e 11 Estados brasileiros. Só na Região Metropolitana do Recife ele é acessado mais de 3,4 milhões de vezes por mês. “Para os usuários do transporte público, a principal vantagem é ter um único app com diversas funcionalidades extremamente úteis no seu dia a dia: previsão de chegada dos ônibus em tempo real, canal para receber vagas de emprego geolocalizadas, compra de crédito para o bilhete eletrônico, e até possibilidade de informar sobre alagamentos e deslizamentos”, afirma o gerente de produtos, Fernando Matsumoto.

Além dos benefícios para os usuários, a tecnologia permite também que os órgãos gestores do transporte aumentem o seu relacionamento com os cidadãos. “O app pode atuar como meio de comunicação de duas mãos: a prefeitura pode falar com o cidadão, e vice-versa, por meio de pesquisas e alertas de calamidade”.

O universitário Renan Silva, que mora no bairro da Boa Vista e estuda na Universidade Federal Rural de Pernambuco, usa diariamente o CittaMobi. “Consigo otimizar o tempo de espera. Vejo também em qual parada virá a opção de ônibus que atenda o meu trajeto mais rápido”. Ele revela que ao saber que o transporte vai demorar um pouco mais, ele usa o tempo para resolver alguma questão no caminho, como pagar uma conta ou fazer uma compra rápida.

Renan Silva (foto ao lado) usa o aplicativo CittaMobi. As informações fornecidas pelo app o auxiliam a gerenciar melhor o tempo. Foto: Tom Cabral

Uma das novidades do setor é o monitoramento por meio de câmeras nos ônibus, estações e alguns corredores. Essa tecnologia atinge um dos principais receios da população no transporte público, que é a segurança. De acordo com o diretor institucional da MobiBrasil, Djalma Dutra, hoje todas as estações e veículos do BRT são monitoradas por câmaras e está em curso uma parceria com a Secretaria de Defesa Social para disponibilizar essas imagens. “Eles terão a oportunidade de acompanhar o que acontece no sistema de forma online. E com essas imagens terão a possibilidade de agir”.

Pesquisa recente do Instituto de Políticas de Transporte & Desenvolvimento recomendou que seja realizada a fiscalização eletrônica no trajeto do BRT no Recife. Essa medida tem por objetivo coibir a invasão de veículos particulares nas faixas exclusivas.

*Por Rafael Dantas, repórter da Revista Algomais (rafael@algomais.com)

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