Inovações no combate ao câncer de próstata – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

Inovações no combate ao câncer de próstata

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O câncer de próstata é uma das doenças que mais assusta e mata os homens no País. No Brasil foram mais de 61 mil novos casos diagnosticados no ano passado e aproximadamente 13 mil mortes. Apesar dos números, graças aos avanços na medicina em aproximadamente 90% dos casos da enfermidade detectados na sua fase inicial se alcança a cura, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca). Nesta edição em que também participamos da campanha do mês Novembro Azul, apresentaremos como a maior precisão dos diagnósticos e o desenvolvimento de medicamentos e de novos equipamentos tecnológicos aplicados à urologia alavancaram as chances de sucesso dos tratamentos e reduziram os efeitos indesejados da cirurgia.

De acordo com o médico oncologista Eduardo Inojosa, responsável técnico e oncologista da Oncoclínica Recife, o aumento do índice de homens com câncer de próstata se deve principalmente ao envelhecimento da população. “O primeiro fator de risco é a idade. A maioria dos pacientes de câncer de próstata está acima dos 60 anos. Envelhecendo aumenta a chance de incidência da doença. Existem outros fatores, como os hereditários, mas não são tão comuns. É uma enfermidade que não está relacionada diretamente com os hábitos de vida”, diz Inojosa. Não existem evidências científicas consolidadas de fatores comportamentais que podem acelerar esse câncer que não a idade. O que a ciência já comprovou é que a incidência na população negra é mais elevada que a média.

Uma mudança significativa, ocorrida nas últimas décadas, em relação ao diagnóstico é o fato dos pacientes buscarem o diagnóstico mais cedo e a maior popularização dos exames. O urologista do Hospital Esperança Misael Wanderley, que é doutor em cirurgia de câncer de próstata, afirma que os homens que são dignosticados com o tumor estão chegando aos centros médicos, em sua maioria, na fase inicial da enfermidade. “Entre 70% e 80% dos pacientes chegam ao hospital com a doença ainda localizada e apenas 30% quando o estágio está mais avançado, com as células cancerígenas já fora da próstata. No passado era o inverso. Isso se deve principalmente ao maior rastreamento dos casos, com o uso da ferramenta do teste de PSA (Antígeno Prostático Específico) no diagnóstico”, avalia.

Misael Wanderley: “Atualmente, mais homens chegam ao consultório na fase inicial da doença”. Foto: Diego Nóbrega

Mudanças tecnológicas significativas tornaram mais eficaz a detecção do tumor. Além do toque retal e do PSA, outra ferramenta que já está em uso de forma complementar é a ressonância magnética multiparamétrica. “Hoje conseguimos com imagem detectar áreas suspeitas da doença, aumentando assim o espectro de possibilidades de diagnóstico. Se houver algum indicativo no toque ou no PSA, podemos lançar mão desse exame antes de encaminhar o paciente para a realização da biópsia”, explica o especialista.

O engenheiro eletricista Hamilton Vilela, 56 anos, foi diagnosticado após anos fazendo os exames de rotina. Os números do PSA, em 2013, subiram abruptamente em uma das coletas, voltando a reduzir no teste seguinte. Com o PSA levemente ascendente durante três anos, em 2016, após o toque retal, ele foi encaminhado para realizar o exame da ressonância magnética prostática, que indicou 80% de chances de ter a doença. “Em janeiro fiz a biopsia e em fevereiro o resultado foi confirmado. Meu urologista me tranquilizou. Mas não é fácil ouvir sobre a doença. Fomos tratando e planejando a cirurgia”.

Hamilton foi operado e em 30 dias voltou a sua rotina normal e não sofreu nenhuma sequela. Foto: Tom Cabral

No final de abril Hamilton foi submetido à cirurgia de remoção do tumor com uso de robôs. Em cerca de 30 dias já voltou à sua rotina normalmente, sem nenhuma sequela. “Não senti absolutamente nada com a cirurgia. O incômodo foi apenas no pós-operatório, devido à sonda na uretra. A recuperação foi extremamente rápida. Em um mês voltei a trabalhar”, comemora.

TERAPIA

O tratamento do câncer de próstata também teve aperfeiçoamentos significativos nos últimos anos, tanto para os pacientes que foram diagnosticados na sua fase inicial, como para aqueles que chegaram ao serviço médico com a doença mais desenvolvida.

“Nos pacientes em estágios mais avançados, as medicações que surgiram nos últimos anos, aumentaram a sobrevida e melhoraram a qualidade de vida, pois têm menos efeitos colaterais”, afirma Diogo Sales, que é oncologista clínico no Imip e na Multihemo e também tutor do curso de medicina na Faculdade Pernambucana de Saúde. Ele explica que a chamada terapia alvo molecular age mais especificamente sobre as células cancerígenas do que os tratamentos convencionais, evitando os efeitos adversos. “São drogas bastante seguras, que têm se mostrado mais toleráveis ao organismo, evitando efeitos da quimioterapia que fazem mal aos pacientes, como a baixa nos leucócitos, a redução das defesas do organismo, queda dos cabelos, diarreias e especialmente a infecção, que pode levar o paciente ao óbito”.

Segundo Diogo Sales: novas drogas seguras têm se mostrado mais toleráveis ao organismo, evitando efeitos da quimioterapia.

Já para os pacientes que são diagnosticados na fase inicial da doença, as chances de cura são bastante elevadas. “Mesmo quando é preciso fazer a retirada de toda a próstata é possível fazer de forma mais precisa e menos invasiva. Os avanços nesse tratamento permitiram aumentar a possibilidade de erradicar a doença com o mínimo de efeitos colaterais possível”, explica Misael.

O urologista explica que os métodos clássicos realizados para o combate ao câncer de próstata, além da retirada da glândula, são a aplicação de alguma energia (radioterapia ou outras), o uso de drogas, que é a quimioterapia, a hormonioterapia (que objetiva reduzir o nível dos hormônios masculinos no corpo) e a imunoterapia (que promove a estimulação do sistema imunológico). “Esse último tem avançado no tratamento dos cânceres em geral, com algumas aplicações no câncer de próstata, mas ainda está engatinhando”, explica.

Para os pacientes que precisam fazer remoção da próstata, a grande novidade é o uso da operação robotizada. “Com o uso das novas tecnologias é possível fazer a cirurgia de forma mais precisa e menos invasiva, aumentando a possibilidade de erradicar a doença com o mínimo de efeitos colaterais possível”, destaca Misael Wanderley.

As principais decorrências negativas do procedimento cirúrgico são a perda da ereção e a incontinência urinária. A incidência de ambas foi significativamente reduzida com o uso das novas tecnologias.

O servidor público Marcos Alexandre Tavares, 53, foi diagnosticado com o tumor em agosto do ano passado. Entre o resultado da biópsia e a cirurgia foram 60 dias. “Faço os exames de rotina desde os 45. Nunca fiquei intimidado em fazer. Ter esse diagnostico não é uma notícia agradável de receber. Mas é nesse momento que você percebe a fortaleza que você tem. Com apoio dos amigos e família, tirei de letra. Com o diagnóstico precoce e a confiança no meu médico, fiz uma cirurgia por meio da robótica, que é a menos invasiva possível. O pós-operatório foi muito tranquilo”. Com os avanços do tratamento, Marcos também não teve sequelas. “Os ‘bichos papões’ são a perda da ereção e incontinência urinária. Não tive nenhum problema com elas. Voltei à vida sexual normalmente”, afirma o servidor público.

É relevante destacar que o tratamento é diferente para cada tipo de paciente, principalmente em relação à idade. Como as células cancerígenas da próstata demoram muito para se multiplicar, em muitos casos os médicos preferem atuar freando o crescimento da doença, de forma paliativa, do que realizar procedimentos em busca da cura. Segundo os especialistas, a depender da idade do paciente, os efeitos colaterais do tratamento curativo podem ser mais danosos que o próprio câncer.

Apesar do tumor de próstata ser uma doença que surge com o envelhecimento, há exceções como o bancário Luiz Felipe Andrade, que foi diagnosticado aos 31 anos. Morador do município de Paudalho, ele teve a confirmação da doença na metade de junho passado. “Sentia dificuldade de urinar quando ingeria quantidade maior de líquidos. Chegou um momento que percebi que tinha uma coisa errada e procurei um urologista. Pediram exame de sangue, PSA e deu negativo. Estava normal. Mas a ultrassom identificou o crescimento do tamanho acima do normal para minha idade. A biópsia confirmou o câncer”, explica.

Em poucas semanas ele se submeteu a cirurgia de retirada da próstata. Após a operação, seu tratamento continua com quimioterapia, radioterapia e fisioterapia. “Sou o primeiro da família diagnosticado com câncer. O meu caso é bastante raro. A recuperação da cirurgia foi rápida, agora estamos numa fase de reeducação da questão urinária, por isso estou fazendo fisioterapia. No começo fiquei assustado, mas tem que correr atrás da cura, que é a única forma de lutar contra a doença”.

CUIDADOS

De acordo com Eduardo Inojosa, os homens devem começar a realizar os exames de rastreamento a partir dos 40 ou 50 anos. “Se houver alguém na família com histórico dessa doença é necessário começar 10 anos antes. Se o pai foi diagnosticado aos 48 anos, por exemplo, o filho deve procurar os especialistas aos 38”, explica. Como é uma doença assintomática na sua fase inicial, é relevante que haja uma investigação habitual, de rastreio.

Apesar dos cuidados com a saúde (alimentação ou atividades físicas, por exemplo), não atuarem especificamente sobre o câncer de próstata, eles são aconselhados pelos médicos, pois contribuem para estimular o sistema imunológico. “Isso vai combater as doenças no seu nascedouro. A cada dia células malignas estão se formando em nosso corpo e células benignas vão lá e as destroem. Uma vez que não haja mais esse equilíbrio, as células malignas prevalecem e elas começam a se desenvolver. Então, só a intervenção médica pode interromper esse processo”, alerta Misael Wanderley.

*Por Rafael Dantas – repórter da Revista Algomais – rafael@algomais.com

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