João Alberto: 50 anos de muitas histórias

Quando João Alberto assinou sua primeira coluna social no Diario de Pernambuco, o Brasil e o Estado viviam um cenário completamente diferente. O País estava sob o comando da ditadura militar. No esporte, a seleção de futebol se preparava ainda para o tricampeonato mundial. O Porto de Suape, uma das âncoras da nossa economia atual, nem estava no papel. Enquanto isso, no jornalismo, era o mais antigo impresso da América Latina quem estava inovando. O jovem repórter, que começou a escrever no Jornal da AABB e passou na redação do Diario pelas mais variadas coberturas, começava a se posicionar no colunismo social com o destaque que carrega por 50 anos. Nesse jubileu de ouro da sua atividade profissional, ele coleciona boas histórias.

Responsável por uma das mais antigas colunas na imprensa brasileira, João Alberto começou a escrever um tanto por acaso, quando ainda era aluno da Escola de Cadetes no Ceará. Com facilidade nas disciplinas exatas, após um desentendimento com um professor, ele o desafiou: “o senhor ainda me dará uma nota 10 em redação”. O professor topou o desafio. Sua turma se mobilizou para ajudar o “caçulinha” (era o mais novo do grupo) a atingir a meta. Ele foi aprovado com a nota máxima.
Essa brincadeira na escola rendeu outros frutos, como o emprego no Banco do Brasil. Sim, João Alberto foi bancário por alguns anos. No concurso que ele prestou, o tema da redação foi o mesmo do desafio sobre a frase “Ordem e Progresso”. Aprovado, veio para o Recife, onde criou um jornal da classe, produzido com um mimeógrafo. Em um período que a AABB (clube dos funcionários do banco) tinha uma alta atividade social, João Alberto levava aquelas publicações para as grandes redações da cidade.

Da circulação dos jornais na redação, surgiu o convite para um estágio no Diario e os primeiros passos da nova carreira. Por anos, dividiu a atividade jornalística com a de bancário. “Não tinha repórter setorizado. Eu fazia polícia, economia, corpo consular, muito aeroporto, onde entrevistávamos as pessoas importantes que desciam no Recife”, conta João Alberto. Aos 18 anos, chegou a ser preso numa pauta no terminal aéreo dos Guararapes, por furar um bloqueio estabelecido pela política aeronáutica.

“O jornalismo na minha época era muito diferente. Havia muita gente nas redações. As matérias eram batidas na máquina de escrever, em uns papéis pautados. Era um jornalismo muito artesanal. Tudo mudou rapidamente com as novas tecnologias. Fui o primeiro jornalista a usar o computador em Pernambuco. Na época era uma coisa horrorosa! Um amigo prometeu me ensinar. Fiz um curso com ele e isso mudou muito nosso trabalho”, relatou.
Antes da Era WhatsApp, ele chegou a fazer mais de 40 ligações por dia para fechar sua coluna. “E era uma dificuldade para conseguir linha para fazer um telefonema. Às vezes esperávamos até 15 minutos. Por isso, muito do nosso trabalho era ainda de um jornalismo pé no chão. Circulávamos pela cidade caminhando ou pelo Jeep do jornal”. Desse tempo, ele afirma sentir falta da convivência com as equipes. “Tinha mais calor humano.”
Uma das pautas que ele não esquece foi quando colocou na cabeça que queria ganhar o Prêmio Esso. Ele reportou uma viagem de caminhão de uma transportadora do Recife até São Paulo levando cargas. “Foram 10 dias. Uma miséria, o caminhão atolava, não tinha onde dormir. Era uma verdadeira aventura. A reportagem foi bonita. Mas recebeu uma mísera menção honrosa (risos). Na época eram muitas menções honrosas”.

Ele conviveu muito tempo também com a censura. Um major acompanhava a redação, que não permitia nenhuma publicação relacionada a Dom Helder Camara, por exemplo. Um período cheio de tensões, mas também de “causos”. João Alberto conta que certa vez um fotógrafo colocou esporas, feitas com papel fotográfico, na bota do militar. “Esse major foi para o Cinema São Luiz sem perceber. À noite chegou decidido a prender o autor da brincadeira. Mas ninguém entregou”, contou entre risos.
Também conta de forma humorada que os maiores problemas, quando editava um suplemento do Diario, eram os artigos de Ricardo Noblat, . “Noblat colocava nas entrelinhas tudo que era safadeza e toda segunda-feira eu ia para a Polícia Federal me explicar. Fui várias vezes graças a ele”, recordou.

Se tem repórter que é resistente a novidades, João Alberto diz que sempre procurou ficar antenado com as tendências do que acontecia na comunicação. Sempre que viajava, comprava jornais, mesmo quando não conhecia o idioma. O objetivo era conhecer os formatos que estavam sendo testados mundo à fora. “Estou sempre me atualizando.”
Além do jornal impresso e colunista da Algomais, ele buscou uma atuação multimídia. Escreve o blog, está nas redes sociais e na TV. Para o futuro, João Alberto revela que não tem mais sonhos. Realizado, ele diz que já cumpriu tudo o que sonhava para sua carreira.

Ouça a nossa conversa com João Alberto, repleta de histórias engraçadas (uma inédita sobre um ex-governador do Estado), no primeiro episódio de 2020 do Pernambucast, o podcast da Revista Algomais.

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