Jovens empresários inovam no Pólo do Agreste - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

Jovens empresários inovam no Pólo do Agreste

Revista algomais

*Por Rafael Dantas

Da Feira da Sulanca nasceu a vocação econômica do Agreste. Os retalhos e a informalidade costuraram o começo do Polo de Confecções. Após décadas de maturidade do setor, os pioneiros desse movimento viram surgir em seus filhos o novo tecido empresarial caruaruense. Hoje esse mercado é composto também por empreendedores de outras localidades do País. Com mais profissionalização e em novos segmentos produtivos, os protagonistas da nova geração enfrentam desafios mais globais. Eles têm a missão de tecer seus negócios diante de um cenário que exige mais tecnologia e inovação. Além disso, convivem com uma intensa transformação no perfil de consumo e com concorrentes que podem estar além das fronteiras do País.

Para os especialistas e representantes de classe, o arrojo empresarial é um ponto em comum nas diferentes gerações que administram as empresas da cidade. A formação acadêmica mais robusta, influenciada pela chegada das universidades em Caruaru, é uma das características dos jovens empresários. A conexão com as referências de outros mercados e a estrutura produtiva deixada pelos pioneiros são outros fatores que diferenciam o cenário da nova geração.

“Quem iniciou esse polo, como o meu pai, empreendeu por necessidade. Começaram sem financiamento ou herança. Essa segunda geração já teve mais escolhas. Empreende por vocação ou como sucessão familiar. Os primeiros passos já acontecem com muito mais conhecimento. O empreendedor fundador tinha a vivência e experiência, essa segunda geração tem o conhecimento técnico como principal diferencial”, analisa o presidente da Associação Comercial e Empresarial de Caruaru (Acic), Luverson Ferreira.

A Jodarc Roupas Profissionais tem atravessado essa trajetória. Fundada há 30 anos pelo casal Joana D'Arc Zeferino e Luiz Zeferino, a empresa familiar deu vários saltos nesse período. Hoje os dois filhos, Luís Diego e Rafaella, já dividem a direção com os pais. “Os nossos próximos passos serão a sucessão. Não deixaremos de trabalhar no negócio, mas nosso plano é que eles toquem o barco para frente”, comenta Joana D'Arc.

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O casal Luiz Zeferino e Joana D`Arc conta com a participação dos filhos Rafaella e Luís Diego na introdução de mudanças na fábrica de fardamentos. Foto: Tom Cabral

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Do começo, bem doméstico, produzindo peças íntimas, a Jodarc migrou para a fabricação de fardamentos. Ao identificar uma grande demanda desse produto, a marca se especializou no segmento e começou a crescer. A grande surpresa da empreendedora foi receber a sondagem da Fiat, quando a multinacional automotiva ainda estava se instalando em Pernambuco. Hoje a Jodarc é fornecedora não só da fábrica da Jeep Fiat Chrysler, de Goiana e de Betim (MG), como dos seus suppliers (fornecedores). Essa expertise chamou a atenção de outros gigantes que passaram a entrar no portfólio de clientes atendidos.

Para chegar no patamar atual de 240 funcionários, com uma produção de até 100 mil peças por mês, a empresa avançou bastante na gestão nos últimos anos. Um processo que já contou com a participação intensa da segunda geração. “Chegou uma fase em que a empresa precisava se remodelar, sair do endereço antigo e vir para o distrito industrial. Uma renovação que foi estrutural e gerencial”, comenta o diretor financeiro Luís Diego, que é formado em administração e tem dois MBAs de gestão.

A designer Rafaella implantou um sistema de fichas técnicas no processo produtivo que reduziu os desperdícios e os erros de produção. Ela aponta que um dos desafios da marca é alcançar novos mercados. “Atender a Jeep, que tem um nome muito forte, abriu as portas para outros clientes de grande porte”, justifica. A empresa começou a atender a Polícia Militar de Pernambuco neste ano e mira também crescer no fornecimento de fardas para a área militar.

Além da profissionalização, inovar é outro traço dos jovens empresários que começam a enveredar por novos segmentos produtivos, segundo o economista Pedro Neves, da Evolution Assessoria Econômica. “Boa parte tem aderido a novas formas de empreendedorismo e inovação. Setores de tecnologia da informação e design, entre outros, começam a se destacar na região. São empreendedores que não querem se restringir a uma fronteira regional. Seja na produção ou na comercialização”, comenta.

Primeiro empreendedor da família, o especialista em marketing digital Josival Júnior tem uma visão de mercado que ultrapassa os limites da cidade. Sua agência, a Buzz Lab, fundada em 2012, conta com uma cartela de clientes da Região Metropolitana do Recife, como a faculdade Facho, de Olinda, e de outras cidades do interior. Um dos grandes clientes da marca é a Millena Móveis e Eletro, que tem lojas espalhadas por municípios de Pernambuco e de Estados vizinhos. “Focamos em ampliar nossa atuação fora de Caruaru e consolidar nossa participação no mercado no Recife”, explica Josival Júnior.

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Josival Júnior fundou a agência Buzz Lab que atende clientes da Região Metropolitana.

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Para alcançar crescimentos que chegaram a 100% nos primeiros anos de empresa, uma das apostas do jovem empreendedor é oferecer uma grande variedade de serviços. “Desenvolvemos estratégias e soluções para resolver o problema dos clientes, usando desde mídias mais tradicionais a uma comunicação multiplataforma", explica. "Temos perspectiva de fazer investimentos em outros tipos de entrega, como a realização de eventos de nicho junto com outras marcas. Vamos testar esse mercado”, revela Júnior. A Buzz Lab tem atualmente 20 funcionários e deve crescer seu quadro em até 15% em 2019.

"O movimento empresarial de Caruaru é muito forte", destaca o consultor Eduardo Lemos Filho.

Desempenho como o de Josival Júnior é um exemplo da característica empreendedora dos empresários locais, segundo o consultor da LMS/TGI, Eduardo Lemos Filho. “O movimento empresarial de Caruaru é muito forte. São pessoas extremamente dedicadas ao trabalho, com uma visão de mercado enorme (conhecem o mundo todo) e muito otimistas, muito positivos. Os sucessores têm orgulho de onde vieram, respeito pelos fundadores e um compromisso de fazer suas empresas crescerem. Não são apenas herdeiros”.

*Rafael Dantas é repórter da Revista Algomais (rafael@algomais.com) e assina a coluna Gente & Negócios

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