“Você tem que respeitar o consumidor, porque ele não pode ser substituído” – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

“Você tem que respeitar o consumidor, porque ele não pode ser substituído”

Revista algomais

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Nesta edição de aniversário da Algomais, estreamos a seção História de Sucesso, ao trazer a trajetória de Eraldo Barbosa dos Santos, conhecido como Lau. Aos 13 anos ele vendida copos nas feiras livres de Timbaúba e hoje é um bem-sucedido empresário do setor de revenda de automóveis.

Em cima de uma carroceria de caminhão, Lau com apenas 13 anos, saía do sítio onde morava com a família, na zona rural de Timbaúba, para vender copos na feira livre da cidade. Sacolejando em meio às mercadorias pelas estradas esburacadas da Zona da Mata, nos anos 1960, ele também comercializava nas feiras de São Vicente Férrer, em Itambé e em Itabaiana (PB). Logo passou a vender também tecidos e roupas e com os ganhos realizou o sonho de alugar uma casa na área urbana de Timbaúba e transferir para lá a família. “Aí, passamos a ter água encanada e energia, privilégios que a gente não tinha no sítio”, conta Lau que, depois dessa primeira conquista, passou a acumular outras tantas até se tornar um empresário de sucesso do setor de revenda de veículos.

Batizado Eraldo Barbosa dos Santos – “mas só me conhecem como Lau, o Eraldo, às vezes, até eu acho estranho” – ele hoje é dono da Disnove, concessionária da Volkswagen, com 110 funcionários e um volume médio de venda de 200 carros por mês. Ano passado, ele e sua equipe de funcionários comemoraram 50 anos de atuação no mercado. Nesta conversa com Cláudia Santos, Lau contou como conseguiu, com seu tino comercial, ousadia e uma incondicional prioridade ao cliente, erguer a empresa que já recebeu vários prêmios de melhor concessionária do Brasil e foi reconhecida pela Assobrav (Associação Brasileira dos Revendedores Volkswagen) como a 14ª concessionária em faturamento entre as de cerca de 600 revendas espalhadas no País. Aos 74 anos, Lau acompanha a segunda geração da empresa com os filhos Eraldo Júnior e Evandro, mantém hábitos simples e ainda encontra tempo para ser conselheiro do time do coração, o Náutico.

Como começou a sua carreira empresarial?

Sou timbaubense. Saí de Timbaúba e vim para o Recife já bem estruturado. O início mesmo foi bem difícil. Morava em um sítio. Comecei a trabalhar com 13 anos de idade, por necessidade. Foi quando dei uma “fugida” e fui para a cidade. Um tio me deu um apoio e comecei a trabalhar nas feiras livres, vendendo copo americano. Depois, passei a vender também tecidos e roupas prontas. Eu vendia na feira de Timbaúba no sábado, no domingo na feira em São Vicente Férrer, na segunda em Itambé e na terça em Itabaiana. Eu era uma criança e fazia esse trabalho sozinho.

Como o senhor se transportava de uma cidade para a outra?

Viajava na carroceria de caminhão, com as mercadorias. Naquela época as estradas eram péssimas. Várias outras pessoas também viajavam e com a carga alta. Era muito difícil. Aos 15 anos realizei o meu primeiro sonho que foi alugar uma casa na cidade com dinheiro que eu ganhava na feira e transferir a minha família para morar lá. A nossa origem é bem humilde, somos 10 irmãos, meus pais sofriam muita dificuldade para dar alimentação aos filhos. Aí, passamos a ter água encanada e energia, privilégios que a gente não tinha no sítio.

Continuei vendendo, foi aumentando o negócio e a quantidade das vendas. Depois, abandonei os copos e fiquei só com tecidos e roupas feitas nessas feiras. Aos 18 anos me casei com minha esposa Edilene. Tenho 55 anos de casado, cinco filhos, 14 netos, dois bisnetos. Depois desisti das feiras e comprei um carro, uma rural, para colocar na praça. Passei um ano e pouco, mas não me adaptei. Percebi que tinha motoristas com 20 anos, 30 anos nesse trabalho e só conseguiam ter aquele carrinho velho.

Então voltei para o comércio. Mas ao invés de ser no varejo, consegui comprar peças de tecido fechadas e vendia por atacado àqueles ex-colegas meus que faziam feira. Deu certo, foi ótimo. Depois, inventei de comprar carro e vender. Saía de Timbaúba, vinha para o Recife, pegava um ônibus e ia para São Paulo. Comprava um carro novo, vinha dirigindo de lá para cá. A primeira viagem que fiz foi em 1968.

Imagino em que estado estavam as estradas…

Eram muito ruins. Eram quatro dias de ônibus daqui para lá. E de lá para cá, eu saía de São Paulo, dormia em Vitória da Conquista (na Bahia) sozinho, dentro do carro, porque eu não podia ter custo. Saía de Vitória da Conquista e ia dormir em Timbaúba. Geralmente fazia três viagens para São Paulo por mês. Continuei lutando com muita vontade, com muita disciplina, com despesas altas, porque depois que casei fiquei com despesas de duas famílias.

Até que apareceu uma oportunidade de trabalhar na Disnove que já era revenda autorizada da Volkswagen em Timbaúba. O então o proprietário me chamou para trabalhar para ele, disse que não tinha nenhum conhecimento em automóveis, era fazendeiro e não estava satisfeito com o negócio. Eu disse a ele que não queria, porque nunca tinha sido empregado, sempre fui independente. Então, ele me fez uma proposta irrecusável para sócio, sem entrar com o dinheiro.

Como foi seu desempenho?

Para você ter uma ideia, a Disnove em nove meses, de janeiro até o dia 4 de outubro de 1972, vendeu oito carros, menos de um carro por mês. A situação era complicada. Eu entrei em 4 de outubro e até o final do ano, vendi 57 automóveis. Aí começaram a dizer: “esse cara não pode sair da empresa”.

E qual foi esse segredo dessa performance?

Nessa época eu era aquele garoto muito bem aceito na cidade, trabalhava na área. Sempre digo que temos que respeitar nosso maior patrimônio: “sua excelência, o cliente.” Sem ele não existe mercado. Depois, em segundo lugar, vêm os nossos colaboradores. Do servente até o diretor, para mim era o mesmo tratamento.

Em 1977 o sócio faleceu e ficou a revenda com os herdeiros que me convidaram a continuar sócio. Não aceitei porque sabia que ia ter estresse. Eles perguntaram se eu comprava a empresa. Fiz uma proposta dando uma parte de entrada e outra parte parcelada. Eles recusaram e aí decidi sair. A Volkswagen soube que eu ia sair, chamaram os herdeiros e pressionaram “Lau não pode sair daqui”. Eles seguraram, um pouco depois me procuraram e fechamos o negócio. Continuei com a Disnove em Timbaúba e sempre com muito sucesso e muito trabalho.

Quando o senhor veio para o Recife?

Fiquei até 1998 em Timbaúba. No período de 1977 a 1998, eu coloquei dois postos de gasolina aqui no Recife, além de uma loja de seminovos. Fui investindo aqui.

Foi tateando o mercado?

Isso. Meu sonho, era ir para a uma cidade grande porque eu estava me sentindo ocioso no interior. Havia quatro marcas de revenda por lá (a Volkswagen que era nossa, a Chevrolet, a Ford e Fiat), mas era difícil essas três venderem igual a mim. Eu estava muito bem ranqueado lá. Meus colegas perguntavam por que eu queria sair de lá se eu estava muito bem. Eu disse: olha, eu tenho um sonho de ir pra um lugar grande porque no meu entendimento se eu for para a porta da igreja matriz em Timbaúba, de 7 horas da manhã até 7 horas da noite, pedindo esmola, no final do dia vai passar umas duas mil pessoas. Se eu for para uma capital e ficar na matriz fazendo o mesmo, ao invés de duas mil, vão passar umas 20 mil pessoas. Onde tenho mais chance de ter um bom dinheiro? Isso era raciocínio de matuto mesmo.

Vim pra cá com muita dificuldade, descapitalizado, porque o investimento aqui foi grande, foi maior do que eu previa, do que eu possuía. Mas a maior venda dessa concessionária (localizada na Av. Caxangá) no ano, antes de eu assumir, foram 240 carros, ou seja, média de 20 carros por mês. Eu já cheguei a vender aqui 600 carros num mês, uma média de oito mil carros por ano. Fiz reformas no imóvel, comecei a comprar uma área vizinha para ter espaço. Adquiri essa revenda da Disnove em 1998. Depois solicitei à montadora autorização para construir uma filial no Arruda. Temos uma loja lá muito bem localizada e bem aceita naquela região.

Qual o volume de vendas da Disnove?

Em 2014 foram vendidos no Brasil 3,5 milhões de carros. As montadoras terminaram o ano de 2022 com 1,9 milhão de unidades vendidas, ou seja, com quase 50% das vendas de 2014. Nós vendemos em média 200 carros por mês, entre novos e seminovos. O poder aquisitivo caiu e houve muitas oscilações no País. O que as montadoras estimam é que as vendas continuem em torno de dois milhões de carros no máximo. Deus queira que passe, mas a previsão é de 100 mil carros a mais.

Leia a entrevista completa na edição 207 da Algomais: assine.algomais.com

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