Cerca de 500 pessoas compareceram ao Recife Antigo, nesta quinta-feira, 19 de setembro, para homenagear o educador recifense reconhecido mundialmente, Paulo Freire. Nesta data, ele completaria 98 anos, e os alunos e professores da rede de ensino do Recife organizaram o evento "Abraço a Paulo Freire", um ato simbólico que foi da Avenida Rio Branco até o Marco Zero.
Na ocasião, de maneira lúdica e interativa, atores apresentaram esquetes teatrais sobre os feitos, o pensamento e passagens da vida do educador. "Estamos aqui defendendo o legado de Paulo Freire, que vive dentro da nossa rede de ensino. O modelo revolucionário de Paulo Freire insere o aluno para ser alfabetizado diante da realidade em que vive e não dentro de quatro paredes. Ele é uma referência no pensar da pedagogia e nós estamos trazendo os alunos aqui para essa reflexão, para pensar no futuro que o Brasil precisa", pontuou Bernardo D´Almeida, secretário de Educação da Prefeitura do Recife.
O legado de Paulo Freire está presente na Política Municipal de Ensino do Recife adotada desde 2015, e preconiza uma escola inclusiva, democrática e justa, que respeita a autonomia e dignidade do ser humano. “Para ter a sociedade democrática, justa e igualitária que desejamos é preciso que tenhamos pessoas críticas que saibam interpretar a realidade que nos cerca para transformá-la para melhor”, completou o secretário.
O aluno da Escola Municipal Pedro Augusto, na Soledade, Davi Vieira Santana, contou que sempre participa de projetos que homenageiam Paulo Freire e já realizou apresentações escolares que contam a história do educador."Ele foi um grande incentivador da leitura. É ótimo falar da vida dele porque eu sempre aprendo mais", afirmou o estudante que está no 7o ano.
Engajado socialmente, em 1960 ao lado do então prefeito do Recife, Miguel Arraes, Paulo Freire foi um dos fundadores do Movimento de Cultura Popular (MCP), experiência fundamental para a criação do seu método. Paulo Freire criou o método de ensino de alfabetização de adultos que utilizava palavras relacionadas ao cotidiano e realidade dos alunos, na maioria trabalhadores e camponeses. Os agricultores aprendiam palavras como cana, enxada, colheita e eram levados a pensar nas questões sociais relacionadas ao seu trabalho. Em 1962, ele alfabetizou 300 trabalhadores da agricultura em 40 horas, na cidade de Angicos, Sertão do Rio Grande do Norte.
Essa experiência o acabou levando ao Programa Nacional de Alfabetização em 1963 pelas mãos do presidente João Goulart. O programa pretendia alfabetizar 5 milhões de brasileiros. Após o golpe militar em 1964, foi perseguido pela ditadura e acusado de agitador, tendo sido preso por 70 dias e em seguida exilado no Chile. Em 1980, com a Anistia retornou ao Brasil, sendo radicado em São Paulo onde passou a lecionar na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC). Paulo Freire é o brasileiro com mais títulos de Doutor Honoris Causa de várias universidades, quase 40, entre elas Harvard, Cambridge e Oxford.