(Da Cepe)
O arquiteto Fernando Guerra mergulhou na história do açúcar no Nordeste ao escrever uma tese acadêmica para a Universidade Federal de Pernambuco. Trabalho realizado, ele transformou a pesquisa em livro, que será lançado pela Cepe Editora no próximo sábado (10/09), às 10h, em evento aberto ao público no Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico, sediado no Centro do Recife. Açúcar: Riqueza e Arte em Pernambuco apresenta ao leitor os frutos da produção açucareira na arquitetura civil e religiosa, nos ritos, nas tradições e na religiosidade da população.
Com 164 páginas, o título remonta às grandes navegações empreendidas por Portugal no século 15, passa pelo surgimento das primeiras cidades no Brasil, quando o país era uma colônia lusitana, e se estende pelo século 19. “No período colonial, a arquitetura brasileira era uma cópia da arquitetura portuguesa. O modelo das edificações - igreja matriz, casa do administrador, casa de câmara e cadeia e a Santa Casa de Misericórdia - como se vê na Sé de Olinda, é português”, diz Fernando Guerra.
A riqueza e a arte resultantes do ciclo da cana-de-açúcar no Nordeste, ressalta Fernando Guerra, que é professor na Universidade Federal de Pernambuco, são visíveis em igrejas e casarões de antigos engenhos de açúcar. Ele cita a Igreja dos Santos Cosme e Damião, em Igarassu, na Região Metropolitana do Recife, construída no estilo arquitetônico maneirista, registrado no Brasil de 1530 a 1580. “O maneirismo é uma das primeiras manifestações de arte erudita trazidas para o país.”
De acordo com ele, Pernambuco e a Bahia foram os primeiros a receber influência do maneirismo nas edificações. O estilo “manifesta-se no Nordeste do Brasil ao constituir-se numa expressão artística de transição para o Barroco, destacando-se as cidades pernambucanas de Igarassu, de Olinda e do Recife; e Porto Seguro e Salvador, na Bahia. Um pouco mais tarde, se formariam núcleos no Rio de Janeiro e em São Paulo”, escreve Fernando Guerra, na publicação.
A arquitetura portuguesa traz para o Brasil os azulejos coloridos e azuis com fundo branco que ainda são vistos em fachadas e na área interna de edifícios religiosos em várias partes do país, diz o historiador. Ele também destaca cinco engenhos pernambucanos que chamavam a atenção pela produção de açúcar, pela beleza das edificações, pelos móveis e pelas obras de arte que possuíram ou ainda têm. Um deles é Monjope, que está definhando em Igarassu, no Grande Recife. “Foi um legítimo representante do período áureo do ciclo da cana-de-açúcar em Pernambuco. Cem escravos produziam uma média de dez mil arrobas de açúcar por safra, tornando-o um dos mais importantes do estado.”
O livro está dividido em sete capítulos e aborda também conflitos decorrentes da produção açucareira, o período holandês no século 17 e o declínio dos engenhos a partir da criação das usinas. ”O grande valor da economia açucareira do Nordeste nos séculos passados tornou-se indispensável para a compreensão da realidade atual da nossa região. Até os nossos dias, o açúcar é o produto mais importante da economia do Nordeste do Brasil e o maior condicionante de sua estrutura política e social, além de ter valor cultural, inclusive com importância para a culinária local, regional, nacional e no exterior”, avalia o pesquisador.