Em tempos tecnológicos, comprar pela internet se transformou em uma ótima opção para quem busca comodidade e economia. Dentro da “lista online” dos consumidores, os livros também estão presentes. Se antes os sebos eram o destino certo para os que desejavam procurar obras literárias mais baratas e raras, nos últimos anos, os “endereços eletrônicos” especializados na venda de títulos vêm ampliando essas possibilidades. Com sites que congregam livrarias de todo o País, o leitor tem a apenas um click milhares de exemplares disponíveis. Mais facilidade, então, para achar aquela publicação esgotada e gastar menos.
Uma economia que pode chegar a 84%, segundo o principal site do setor no Brasil, o Estante Virtual (EV). Com aproximadamente 1.350 sebos e mais de um milhão de títulos disponíveis em sua página, o maior acervo do mundo em língua portuguesa, revela o poder que o e-commerce de livros vem ganhado. No último trimestre, foi registrado um aumento de 19% nas vendas e, em janeiro, 13.544 obras foram vendidas em apenas 24 horas. Com números como esses, ficou difícil até mesmo para os livreiros mais tradicionais dizerem não à internet. “Primeiro, entraram os sebos mais tecnológicos, que há muito tempo estavam querendo um site como o nosso. Aos poucos, foram entrando os outros e, por último, até os mais desconfiados aderiram a essa forma de venda”, conta o fundador do Estante Virtual, André Garcia.
Formado em administração, André resolveu abandonar o emprego e seguir carreira acadêmica. Foi esse o “start” para criar a E.V .”Eu lia cerca de cem livros por ano e tinha muita dificuldade em encontrar alguns deles, pois apenas seis sebos estavam com seu acervo disponível na internet”, lembra
O EV começou a funcionar em 2005 e o livreiro Amauri Mapa foi o responsável pela primeira venda do site. Paulista, ele havia acabado de transferir o sebo da agitada Vila Mariana, em São Paulo, para o bairro da Torre, no Recife, e viu na plataforma uma maneira de conseguir clientes mesmo estando longe do centro da cidade. “Desde que eu decidi sair de São Paulo, eu tinha a intenção de desenvolver um site para poder fazer as vendas, mas era algo complexo. Foi quando o Estante Virtual surgiu”, diz. Hoje, a página é responsável por 50% das vendas do empresário e Amauri comemora sua ida diária aos Correios para enviar os livros aos mais variados destinos do Brasil.
Antes mesmo do “boom” dos sites de livros, um dos sebos mais tradicionais da capital pernambucana, a Livraria Brandão, já apostava na venda à distância. Se antes os catálogos foram responsáveis por tornar o estabelecimento conhecido nacionalmente, hoje portais ajudam no faturamento das lojas da marca. “Por causa da falta de tempo e dificuldade de estacionamento, muitas pessoas preferem comprar online. Às vezes, tem gente que paga frete para mandar livro aqui mesmo para a Boa Vista (bairro onde a loja fica localizada)”, conta Martha Brandão.
Para quem pesquisa pelas “prateleiras onlines”, comprar pela internet pode sair uma verdadeira “pechincha”. “Tem livro que você encontra por R$3”, afirma a dona de brechó Ana Lúcia Cavalcanti, 68 anos. Ela é o que se pode chamar de uma devoradora de livros. São pelo menos 6 por mês. “O que mais gosto de fazer é comprar livros. Eu não sei viver sem ler.” As páginas de venda de obras literárias foram, então, uma descoberta valiosa para Dona Ana. Depois de procurar nos sebos físicos e não encontrar, recebeu, então, a dica de pesquisar na web. Menos de dois anos se passaram e mais de 100 títulos já chegaram à correspondência da casa dela.
Se os ambientes virtuais que reúnem sebos geralmente são associados à venda de livros usados, isso não significa que não se possa encontrar exemplares novos.
Depois de passar por uma reformulação em 2014, o Estante Virtual oficializou a entrada no mercado de livros novos. “Há muitos anos, as livrarias convencionais estão se concentrando nos títulos mais vendidos. Isso cria uma demanda não atendida dos livros de catálogo”, coloca André.
Cliente antigo dos endereços eletrônicos de exemplares usados, o fotógrafo Eduardo Queiroga, agora também aproveita a web para encontrar obras recentes. “Mesmo que eu veja uma obra na livraria, eu prefiro comprar em sites especializados, porque eu acredito que eles ajudam a evitar o desaparecimento e até colaboram com o surgimento de outros sebos”, reflete.
MAIS OPÇÕES. Se o Estante Virtual foi pioneiro, já não está mais sozinho nesse nicho do mercado. O Livronauta é um dos mais antigos concorrentes e, ao longo dos anos, as opções para os consumires vem crescendo. Motivado tanto pelos índices positivos do segmento como pela insatisfação de clientes e vendedores com os sites até então existentes, o ex-livreiro do Estante, Julio Daio Borges, resolveu colocar no ar o Portal dos Livreiros.
Com apenas 6 meses de funcionamento, a página já apresenta números expressivos. São cerca de 7 mil exemplares disponíveis e só no mês de setembro, foram mais de 200 mil acessos. O portal ainda não cobra mensalidade, apenas um percentual de 10% sobre a venda (incluindo a taxa da forma de pagamento). Enquanto, segundo ele, no Estante, os livreiros chegam a pagar 20% sobre o que vendem. “Os livros tendem, então, a ficar mais baratos, no Portal dos Livreiros, para o consumidor final.”
No endereço online, o leitor ainda pode vender ou trocar os livros que têm em casa e não usa mais. “Nós estamos abertos a esse tipo de vendedor, bem como a autores, pequenos editores e até pequenas livrarias”, completa Julio.
Outra alternativa para os amantes da literatura é o Sebos Online. Ativada desde 2007, a página foi formulada pelo analista de sistemas Alcir Teodoro apenas como um complemento de um software para livrarias desenvolvido por sua empresa. Nele, os livreiros expõem gratuitamente suas obras. “O site foi pensado como algo a mais para os nossos clientes, porque queríamos auxiliar nas vendas”, explica Alcir.
Se comparado a concorrentes como o Estante Virtual, o Sebos Online possui uma estrutura mais defasada, o que não deve continuar assim por muito tempo. Depois de notar as boas perspectivas para o comércio de exemplares no ambiente virtual, Alcir também resolveu entrar de vez no segmento. O site passará por um “upgrade” e sua nova versão deve ser lançada no próximo ano, juntamente com uma comissão sobre a venda dos livros.
Um diferencial da página, que conta com cerca de 6 milhões de itens no acervo, é poder encontrar além das obras literárias, discos de vinil, VHS, DVDs e CDs.