Além de produtor, Lula Gonzaga realizou diversas oficinas de formação de animadores de maneira itinerante pelo Brasil e até no exterior, mas um problema de saúde o impossibilitou de viajar. Os filhos decidiram então encampar um sonho de ter um espaço para guardar a memória da animação no Estado e fundaram o Museu de Cinema de Animação Lula Gonzaga, na cidade de Gravatá. “Esse espaço é o resultado do sonho do Dom Quixote Lula Gonzaga de expandir a produção e o conhecimento sobre animação. Ele viajava num Gurgel com suas oficinas. Sem poder mais ser itinerante, esse trabalho precisaria ser local”, conta Silvana Delácio,esposa do pioneiro, que recebeu o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco.
Lá estão expostos equipamentos antigos para a produção dos filmes, como o taumatrópio, o zoetropo e a mesa pedagógica. Só visitando para entender as suas funcionalidades num período sem câmeras digitais ou softwares avançados de edição. Além desses instrumentos, o espaço guarda desenhos, cartazes, bonecos, filmes e livros que remontam essa memória, incluindo muitas referências do curta A Saga da Asa Branca (1979), que contou com narração de Humberto Teixeira e trilha sonora autorizada por Luiz Gonzaga. “Esse é o primeiro museu de animação do Brasil. Há muitas coisas que juntei desde 1970, inclusive equipamentos originais na época em que os filmes eram feitos à mão”.
O MUCA já recebeu realizadores, turistas e grupos de diversas faixas etárias interessados em mergulhar no universo da animação, além da possibilidade de realizar oficinas de produção “à moda antiga” que ainda são conduzidas pelo pioneiro. O espaço é aberto nas terças e sábados das 9h às 17h ou por agendamento pelo e-mail: cinemadeanimacao@gmail.com
LIVRO
Para quem deseja conhecer mais sobre essa memória, outra dica é a leitura do livro A História do Cinema de Animação de Pernambuco, escrito pelo professor Marcos Buccini. A publicação conta desde a origem dessa atividade no Estado até o ano de 2016.
“Uma aluna fez uma monografia sobre A animação no Ciclo do Super 8 em Pernambuco. Depois fiz meu doutorado contando toda a história desde 1968. O livro foi realizado com recursos do Funcultura em 2016. É uma história bem interessante que acompanha a evolução tecnológica e a questão cultural, com o forte regionalismo nessas primeiras produções”, conta o autor.
Ao todo, foram 267 obras catalogadas desde o final dos anos 60. Só durante o Ciclo do Super 8 foram produzidas 11 animações no Estado, de acordo com o pesquisador. Buccini realizou mais de 50 entrevistas nesta publicação que foi lançada pela Editora Serafina.
Sobre o trabalho dos pioneiros, Marcos Buccini e Rodrigo Carreiro escreveram em um artigo científico que “dos seis realizadores que resolveram encarar a empreitada de produzir um filme animado, somente dois – Lula Gonzaga e Walderes Soares – exploraram as técnicas de animação por um intervalo mais longo de tempo. Os demais tiveram apenas vivências casuais com o cinema de animação. Assim, por conta do isolamento dos agentes realizadores, da multiplicidade de técnicas e materiais em uma produção tão pequena e a falta da continuidade de novos filmes não se criou condições para o amadurecimento, o desenvolvimento e o compartilhamento das informações e dos processos no cinema de animação em Pernambuco”, constatam os estudiosos. “Somente em 2000 surge uma nova geração que, estimulada pelas facilidades das tecnologias digitais, dá início a uma produção sólida de animações”.