Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) atestam que o glaucoma é a segunda causa de cegueira no mundo. Caracterizada pelo aumento da pressão intraocular, a doença provoca danos no nervo óptico, é silenciosa e muitas vezes descoberta em estágio avançado, o que torna a cegueira irreversível. “Por isso, o diagnóstico e o tratamento precoce são aliados para conter o seu desenvolvimento. E o maio verde, mês de prevenção e combate ao glaucoma, tem o dia 26 como a data especial para alertar a população sobre os perigos da patologia”, destaca Roberto Galvão Filho, oftalmologista do Instituto de Olhos do Recife (IOR) e presidente da Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG).
No Brasil, há um percentual aproximado de 3,4% de pessoas, com idade acima de 40 anos, com glaucoma. “É uma doença multifatorial marcada pela destruição permanente de células da retina que formam o nervo óptico. Essa perda de células ganglionares leva à defeitos no campo visual, começando da periferia para o centro, levando à cegueira se não for tratada a tempo”, alerta Galvão Filho. Sua principal característica é ser assintomática nas fases iniciais. Quando o paciente percebe algum problema de visão, já tem perdido entre 40 e 60% do nervo óptico.
TIPOLOGIA – Quase 90% dos pacientes com glaucoma desconhecem que são portadores. O Glaucoma de Ângulo Aberto é o tipo mais comum, representando 2,4% dos casos. “O aumento da pressão intraocular é o principal fator causador, mas defeitos vasculares, viroses e até deficiências na imunidade já foram postulados como causa”, relata o oftalmologista do IOR. O glaucoma é mais frequente após os 40 anos, atingindo o pico de prevalência entre pacientes com idade entre 60 e 70 anos.
Segundo Galvão Filho, não existe prevenção para a doença, mas esta pode ser combatida com informação, detecção e tratamento nas fases iniciais, quando os danos no campo visual ainda não se instalaram. “O diagnóstico precoce só pode ser realizado em consultório oftalmológico. O paciente precisa saber o que é o glaucoma e seus fatores de risco, dentre eles, pressão intraocular elevada, histórico familiar, miopia, ser da raça negra, ter hipertensão arterial ou diabetes”, explica o médico.
EXAMES – O glaucoma pode ser diagnosticado por meio de exames de imagem. Aparelhos de tomografia óptica computadorizada (OCT) podem achar a doença até oito anos antes dos primeiros sinais. De acordo com Galvão Filho, o paciente com a patologia pode e deve ter uma vida normal depois do diagnóstico, bastando seguir as orientações do seu oftalmologista.
Quanto ao tratamento, este é realizado a base de colírios e procedimentos cirúrgicos com lasers e cirurgias fistulizantes, além de implantes de tubos de drenagem internos, microinvasivos e externos. “O colírio é bastante eficiente e resolve mais de 80% dos casos, contudo, precisa do uso diário e constante por toda a vida”, explica o médico.
O cuidado inicial com laser, principalmente o laser seletivo, tem avançado como tratamento de primeira escolha em muitos países, com o benefício de apresentar poucos efeitos colaterais e ter o mesmo resultado de redução da pressão por mais de cinco anos com uma só aplicação e um custo muito menor que os colírios.
RISCOS – Galvão Filho recomenda pequenas mudanças de hábitos na rotina, que ajudam a tratar a doença. “Sabemos por estudos clínicos controlados, que a prática regular de exercícios físicos reduz a pressão intraocular e pode melhorar o fluxo sanguíneo para o nervo óptico. Outros dados indicam que a meditação pode ter o mesmo efeito. Além de melhorar as condições vasculares e imunológicas do indivíduo, a alimentação saudável também pode fazer bem e prevenir o glaucoma. Contudo, não há ainda estudos conclusivos a esse respeito”, diz.
Outro fator de risco é a ligação entre diabetes e glaucoma. Inclusive, a doença já foi chamada de “diabetes do olho”, em um passado recente. “O que sabemos de fato é que o diabetes apresenta um risco importante para se desenvolver glaucoma. Os mecanismos para isso parecem ser elementos vasculares que podem estar associados às duas condições”, destaca o médico.
O estresse também pode contribuir no desenvolvimento da doença, modificando fatores vasculares e imunológicos que podem aumentar a pressão intraocular, diminuir o fluxo de sangue para o nervo óptico e apressar a morte de células afetadas pelo glaucoma.
SUS – A rede pública de saúde brasileira oferece tratamento para a doença. Muitas cidades do Brasil fornecem o colírio, sem custo, pelo SUS, e a maior parte dos procedimentos cirúrgicos também estão disponíveis.
Atualmente, a Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG) está no processo de certificação do laser seletivo para ser oferecido ao SUS. “Estamos também preparando um guia de diagnóstico e tratamento eficiente da doença para oferecer às cidades interessadas em tratar seus pacientes. A SBG se propõe a ajudar na implantação do atendimento adequado e na orientação do acompanhamento dessas pessoas”, informa Galvão Filho.