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Mais Vida nos Morros: Inovação que vem do alto

Revista algomais

Casas, muros e espaços públicos do Morro da Conceição ganharam novas cores e luzes nos últimos meses. Intervenções urbanísticas e estéticas também estão previstas em outros espaços do Recife, fruto do Mais Vida nos Morros. Antenado com tendências de inovações urbanística internacionais, o programa promovido pela prefeitura, enche os olhos dos cidadãos que moram na parte baixa da cidade e mexe com a sensação de pertencimento e de cidadania dos moradores dessas regiões periféricas da cidade.

Tudo começou no Alto do Maracanã, com o uso de geomantas coloridas – uma tecnologia made in Pernambuco mais barata que os muros de arrimo para conter encostas com risco de desabamento. Também foram criadas cinco áreas de convivência, além de 20 hortas colaborativas. O projeto já alcançou seis regiões de morro da cidade, como Córrego do Jenipapo, Mangabeira, Alto José do Pinho e Três Carneiros. No Morro da Conceição, além das pinturas, o projeto reformou duas praças públicas, instalou iluminação de LED, criou hortas comunitárias, parklet e áreas de convivência. A intervenção priorizou também a eliminação de pontos de acúmulo de lixo e investiu em arte urbana e paisagismo, com o apoio de mutirões populares.

Agenda TGI

De acordo com o secretário de Inovação Urbana do Recife, Tullio Ponzi, o Mais Vida nos Morros é inspirado em cases da Colômbia, México e Venezuela que apontam para uma mudança de comportamento dos cidadãos quando o poder público cria uma nova ambiência. “No exterior as intervenções visavam a combater a insegurança ou o vandalismo. Aqui nosso desafio era associado à defesa civil, pois mais de 500 mil recifenses vivem nas áreas de morro. Nossas ações incluem como diferencial o ingrediente do engajamento e envolvimento do morador. Tentar fazer com que ele se observe como o grande agente de defesa civil”.

Na prática, além de convidar a população para participar dos mutirões de pintura, o poder público tem uma ação de escuta dos moradores acerca das iniciativas a serem implantadas no local. “Além de reivindicar, convidamos o morador para ser parte da solução. Ser o grande protagonista de fato da transformação do seu bairro, pois ele é o especialista da sua comunidade”, argumenta Ponzi.

Morador do Morro da Conceição, Fabiano Silva, 40 anos, é um dos entusiastas da iniciativa. Profissional autônomo e vice-presidente da Quadrilha Junina Tradição, ele destaca o impacto da iniciativa no olhar que a cidade passa a ter sobre a comunidade. “As pessoas passaram a enxergar o Morro não apenas como um lugar suburbano, periférico. Mas a observar o nosso patrimônio cultural e as manifestações artísticas”.

Mais do que as melhorias de infraestrutura promovidas pelo projeto, Fabiano destaca a mudança na população. “O significado maior é esse legado de contribuir ainda mais para a politização da comunidade”, avalia Fabiano. Esse destaque dado pelo morador é percebido também na experiência das cidades colombianas, como foi destacado por Nathalie Renner, no livro As lições de Bogotá & Mendellín. “Para que as intervenções e seus equipamentos sejam legítimos, é imprescindível a participação social. (…) A comunidade se transforma em um ator fundamental da orientação do desenvolvimento”, afirmou a coordenadora da equipe de segurança cidadã do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), ao se referir à experiência de transformação urbana e cidadã de Mendellín.

Uma das propostas do Mais Vida nos Morros é impulsionar também o turismo de base comunitária, que é aquele em que as comunidades se organizam enquanto arranjos produtivos locais e desenvolvem atividades de exploração turística. No País, um dos cases mais conhecidos são as visitas e hospedagens nos morros do Rio de Janeiro. Em Pernambuco há experiências nesse segmento na Ilha de Deus e na Bomba do Hemetério.

O Morro da Conceição já possui uma vocação natural para o turismo religioso, com as festividades em torno do dia de Nossa Senhora da Conceição, além de uma força cultural associada às quadrilhas juninas e uma visão privilegiada da cidade. “Quando acontece uma intervenção dessa se fortalece bastante esse local enquanto roteiro turístico, que já tem um potencial cultural, religioso e gastronômico. E ele está articulado com outros lugares, como o Alto José do Pinho e o Alto Santa Isabel, que também são fortes culturalmente”, aponta o secretário.

Ponzi destaca a possibilidade de impulsionar hostels nesses lugares, o que já acontece durante a Festa de Nossa Senhora da Conceição. Ele destacou ainda uma articulação do evento Restaurante Week em levar uma ação para a comunidade em 2018. “Por que um navio que chega ao Recife com alguns milhares de turistas, que trazem milhões para a nossa economia no Bairro do Recife e no Riomar não podem também visitar essa região e deixar R$ 100 mil em consumo no morro? Nos diálogos que estamos tendo com a comunidade já estão surgindo propostas de diversas atividades para potencializar isso”, revela.

Mais que uma ação para resolver questões estritamente urbanas ou para dinamizar a economia, o projeto vai ganhando contornos de uma política pública de cidadania e desenvolvimento sustentável para os morros do Recife.

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