A ativista pela educação Malala Yousafzai visitou Pernambuco no último dia 23 e teve a oportunidade de conhecer o Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF), uma ONG sediada em Olinda com 50 anos de dedicação à luta pelo Direito à Educação, Comunicação e Cultura. Nesse encontro, Malala ouviu atentamente as vozes das meninas quilombolas, indígenas e periféricas que participam dos projetos apoiados pelo Fundo Malala, uma organização fundada por ela e seu pai, Ziauddin Yousafzai, com o propósito de garantir a educação das meninas ao redor do mundo. A visita foi marcada por momentos de troca e inspiração para a continuidade dessa importante causa.
Durante uma roda de diálogo enriquecedora, Malala Yousafzai direcionou perguntas às 15 jovens ativistas pela educação de Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro e Pará. Essas jovens representavam organizações notáveis, como o CCLF, Conaq – Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas, ANAÍ – Associação Nacional de Ação Indigenista, Blogueiras Negras, Grupo Curumim e Coletivo Mangueiras. Malala, aos 25 anos, demonstrou grande interesse nas políticas educacionais do Brasil e nas experiências escolares das meninas em seus respectivos territórios. Seu objetivo era compreender as barreiras enfrentadas por elas e seus pares no acesso ao direito à educação, além de conhecer suas inspirações e trajetórias dentro do ativismo junto aos Ativistas pelo Direito à Educação do Fundo Malala no Brasil e os projetos apoiados. Foi um momento significativo de troca de conhecimento e experiências inspiradoras.
Vitória Érika, uma jovem quilombola proveniente do Quilombo Feijão e Posse, em Mirandiba, Pernambuco, teve a oportunidade de compartilhar sua jornada educacional com Malala. Vitória é integrante do projeto Educquilombo, realizado pelo Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF) em parceria com a Articulação Social das Comunidades Quilombolas de Mirandiba (ASCQUIMI). Em seu relato, Vitória destacou seu desejo de se tornar uma professora quilombola no futuro. Ela expressou sua inspiração tanto em Malala quanto em sua tia Maria José, que é uma professora quilombola em sua comunidade. Vitória compartilhou os desafios enfrentados em sua jornada educacional, como a falta de infraestrutura adequada na escola em que estudou durante sua infância. No entanto, ela ressaltou sua determinação em lutar por uma educação de qualidade para as crianças de seu quilombo. Atualmente, Vitória está cursando Pedagogia, graças às experiências vividas nos últimos anos no projeto Educquilombo e ao seu crescente conhecimento sobre a história de Malala. Ela está construindo sua vida através da educação, impulsionada por suas aspirações e comprometimento com sua comunidade.
Com grande empatia, Malala Yousafzai ouviu atentamente todas as meninas e também se abriu para receber suas perguntas. Questões como “O que significa conhecimento para você?” e “Quem são suas inspirações?” foram levantadas para a laureada com o Nobel da Paz. Ao encerrar o diálogo, Malala expressou seu agradecimento e parabenizou o trabalho das meninas. Ela as elogiou pela coragem demonstrada ao compartilhar suas histórias e ressaltou o poder transformador de suas ações. “Obrigada, meninas, por dedicarem seu tempo e trazerem seus pensamentos para esta sala. Vocês são extremamente corajosas e suas histórias me inspiram. Ao impactar a vida de uma menina, de uma escola… vocês já estão transformando o mundo. Podemos realizar essas mudanças, mas precisamos da ação de cada uma de nós. Tenham orgulho do trabalho que realizam, juntas vocês são mais fortes e têm um impacto significativo.”
Com a convicção de que “educação e conhecimento são ferramentas de emancipação”, Malala também teve a oportunidade de presenciar a performance cultural da Batucada de Adolescentes e Jovens do Grupo Curumim. Eles reinterpretam músicas tradicionais do maracatu e coco, acrescentando letras que promovem o feminismo, a luta contra o racismo e a importância da educação. Para Rogério Barata, ativista pela educação do Fundo Malala no Brasil e coordenador do projeto Educquilombo, o encontro no CCLF foi um marco histórico. Ele afirmou: “Essa Roda de Diálogo e os momentos de imersão de Malala nas expressões culturais das meninas reforçam a essência do CCLF como um espaço político e acolhedor, dedicado à articulação e ao fortalecimento da luta pelos Direitos Humanos, em particular o Direito à Educação. Não apenas qualquer educação, mas uma educação pública, com maior investimento estatal e uma abordagem político-pedagógica que permita que estudantes, especialmente as meninas, construam e desenvolvam seus projetos de vida para a construção de uma sociedade que seja antisssexista e antirracista”. Também estiveram presentes no encontro as ativistas da Rede Malala Ana Paula (Anaí), Paula Ferreira (Campanha Nacional pelo Direito à Educação), Givania Maria (Conaq) e Cássia Jane (Centro das Mulheres do Cabo).