*Por Rafael Dantas, repórter da Revista Algomais (rafael@algomais.com)
Consolidação é a palavra repetida várias vezes por Mateus Marchioro sobre o momento atual e, também, acerca dos desafios da Stellantis, a âncora do polo automotivo de Goiana, na Mata Norte pernambucana. O gaúcho, que está há sete anos na fábrica, foi convidado para ser o plant manager da empresa após a pernambucana Juliana Coelho assumir o cargo de head global do modo de produção da companhia, em janeiro deste ano.
Em Pernambuco, ele chegou como trainee em 2013, passou por treinamentos na planta modelo do grupo FCA, da Itália, e foi galgando funções, passando por vários postos, como as gerências da funilaria e da montagem, até assumir a direção da planta de Goiana, há seis meses.
A Stellantis é a fusão da Fiat Chrysler com a montadora PSA Group. As empresas são donas de marcas como a Fiat, Jeep, Peugeot, Citroën, entre outras. Em Pernambuco, a planta de Goiana fabrica quatro modelos (Renegade, Compass, Commander e Toro), que são comercializados tanto no mercado nacional, como seguem para exportação. Apesar do sofrimento da pandemia e da crise do mercado econômico, que afetam o setor, a empresa opera hoje em sua capacidade máxima. Mesmo tendo 80% dos fornecedores no País e mais da metade deles já em Pernambuco, Marchioro afirma que está nos planos do grupo a atração de mais sistemistas para o Estado.
O senhor que viu a planta nascer, qual o momento atual da fábrica?
A planta está no período de consolidação, depois de sete anos da inauguração. São quase 10 anos para quem começou aqui na empresa no início das obras. Tivemos um período de apresentar os lançamentos, com as pessoas conhecendo os nossos processos. Mas agora estamos nos firmando. Temos quatro grandes sucessos no mercado e estamos neste momento nos consolidando como um dos principais polos automotivos do Brasil. Esse é o cenário que eu vejo.
Quais os desafios que a Stellantis tem para 2022?
São vários! A indústria como um todo passa por diversos desafios, principalmente neste cenário de pandemia e pós-pandemia. Mas temos um desafio aqui de nos fortalecer cada vez mais frente a esses cenários, desenvolver as pessoas de dentro do polo e buscar fortalecer a nossa identidade como polo na região.
Como está a reabertura ou retomada após um momento em que a pandemia aliviou um pouco?
Ainda temos todos os nossos protocolos. Temos um grande cuidado com as pessoas, temos essa grande preocupação. Porém, o mercado tem voltado a se aquecer e estamos buscando nos posicionar da melhor forma possível nessa retomada. Hoje voltamos a produzir em capacidade total. Para nós é uma questão muito importante, após passar um pequeno período em que tivemos a necessidade de manter a fábrica fechada, como todas as indústrias do Brasil e do mundo. Mas não tivemos nenhum impacto no quadro de profissionais da planta. Claro, que o cenário global de cadeias de suprimento teve e tem seus impactos. Esse é um dos desafios importantes que a gente tem com o desabastecimento de componentes.
Qual o percentual de funcionários de Goiana e da região na fábrica atualmente?
A gente tem mais de 85% dos funcionários aqui da região. A planta está em Goiana, mas atendemos toda uma região. Trabalhamos muito o desenvolvimento das pessoas para a gente estabelecer essa cultura automotiva, que é muito singular dentro da indústria. Encontramos muita abertura e muita vontade de aprender. Temos um grupo de colaboradores muito jovens, sedentos por conhecimento. E contamos com parcerias de muitas instituições no desenvolvimento das pessoas.
Como vocês lidaram com uma mudança tão grande de cultura da matriz da mão de obra local para uma atividade até então desconhecida por eles, como o polo automotivo?
A gente teve uma fase de desenvolvimento das pessoas. Agora é o momento de consolidar porque é um conhecimento que conseguimos formar na região. A gente tem a planta, mas também todo um polo, que envolve milhares de profissionais, produtos e todas as tecnologias que compõem o carro. São mudanças do meu ponto de vista que foram bem feitas, uma transformação de muito sucesso, pois chegamos numa região onde não existia uma cultura automotiva.
E uma região com a cultura da cana-de-açúcar…
A região da cana-de-açúcar, onde graças à abertura ao novo, a vontade de aprender e de crescer das pessoas, pode ser transformada no polo de sucesso que é hoje. Com três turnos rodando, na máxima capacidade da planta, com quatro produtos que mostram a força da transformação que foi feita na região.
Qual o tamanho do polo e qual a capacidade de produção máxima?
Hoje trabalhamos com um volume de produção de mil carros por dia. Apenas a planta da Stellantis tem por volta de 5 mil pessoas trabalhando. O polo todo tem em torno de 13.600 profissionais, somando com o quadro de profissionais dos sistemistas e das empresas terceirizadas. Temos aqui, em Goiana, 16 sistemistas dentro do polo. Quando juntamos todos os demais que estão em outros municípios de Pernambuco, são 30 sistemistas.
Qual foi a produção anual da empresa no ano passado?
No ano passado foram produzidos na nossa planta 253 mil veículos.
O início da operação do polo promoveu uma mudança nos números da balança comercial do Estado. Como são atualmente as exportações da Stellantis?
Hoje a gente exporta para toda a América do Sul, parte da América Central e também para o México. Do total da nossa produção, entre 12% a 15% é destinado para o exterior.
Para quais países estão indo esses produtos?
Obviamente a Argentina é o mercado que tem o maior peso. É um dos principais destinos de exportação da América do Sul, depois do Brasil. Mas temos uma grande atuação também no Uruguai, Paraguai, Chile e os outros países da América do Sul e Central.
Atualmente qual a composição de componentes nacionais e quanto é ainda importado pela fábrica?
Cerca de 75% dos fornecedores de componentes são nacionais. Quase metade disso é, entre 35% a 40%, produzido aqui em Pernambuco.
Quais as expectativas de trazer novos sistemistas? Vocês pretendem aumentar ainda mais a produção de componentes locais?
Nosso plano é passar dos 30 sistemistas que temos atualmente aqui para chegar a 50. Esse é o nosso plano de desenvolvimento. Continuaremos tendo uma parcela de importados pois muitos dos nossos modelos também são compartilhados com outras regiões do mundo. Produzimos os mesmos carros de diferentes regiões, por isso também temos uma matriz de fornecimento global para alguns itens específicos, de alta tecnologia principalmente. Mas o nosso plano é realmente regionalizar o maior número possível de componentes.
A Yazaki, que foi instalada em Bonito para produzir chicotes, foi a mais nova sistemista em Pernambuco?
Além da Yazaki, que foi instalada em Bonito, chegaram ainda duas sistemistas em Igarassu, a Benteler e a Itaesbra.
Existe alguma nova sistemista engatilhada para chegar em Pernambuco?
Tem. Temos um plano para chegar a 50. Claramente tem…
Como é a relação com as cidades da região?
Temos uma boa aproximação, uma boa relação. A gente tem diversos programas de educação da rede básica, educação socioambiental, onde as crianças do ensino fundamental vêm aqui para a planta conhecer sobre a educação ambiental. Temos uma parceria grande, nos sentimos parte da comunidade.
O polo é visto como uma grande oportunidade para diversas pessoas da região. Inclusive, conversando com as pessoas daqui, sentimos orgulho de poder fazer parte do grupo Stellantis de como o polo abriu portas para pessoas que trabalhavam antes em empregos sazonais. Hoje elas podem ter uma estrutura e o suporte que a gente oferece. É uma grande oportunidade para essas pessoas se desenvolverem.
Vocês anunciaram na pandemia um plano de expansão. Quais as perspectivas para os próximos anos de aumento de capacidade e de equipe a partir desses investimentos?
Nossa planta está hoje em máxima capacidade, que alcançamos em 2019. Estamos no meio de um ciclo de investimentos. Serão R$ 7,5 bilhões no ciclo todo. Recentemente já aumentamos a capacidade, com a implantação de um novo turno. Agora, o investimento será direcionado ao desenvolvimento de novos carros, de novas tecnologias. Não desenvolvemos localmente só para Goiana. O que é desenvolvido aqui pode ir para outras plantas da Stellantis pelo mundo e vice-versa. Aqui em Pernambuco temos desenvolvimentos feitos na planta de Goiana e temos também o polo de desenvolvimento de softwares no Porto Digital, que desenvolve para o mundo inteiro. Esse ciclo de investimentos compõe todos esses desenvolvimentos que serão feitos na região, seja no Software Center no Porto Digital, seja nos produtos de novas tecnologias aqui para o polo de Goiana. Esse ciclo é até 2025.
Como funciona o escritório da Stellantis no Porto Digital?
Na verdade, trata-se do Software Center da Stellantis, que é um centro de desenvolvimento de software que trabalha conectado com os demais núcleos de alta tecnologia do grupo no mundo. Ele fica localizado na área do Porto Digital, no Recife, fazendo parte de um ecossistema muito dinâmico e inspirador. Lá temos simuladores que são compartilhados mundialmente e utilizados para atualização e desenvolvimento de software, principalmente de powertrain. É um ativo que fortalece a América do Sul e faz da região não só um polo produtor de carros, mas também um centro de inteligência automotiva.
Algum plano futuro para o polo?
Planos existem. Somos uma das mais modernas e inovadoras plantas da Stellantis. Vamos estar sempre na vanguarda da inovação e estamos sempre nos preparando para os vários desafios da indústria automotiva.
Gostaria de destacar algo mais?
O polo automotivo se destaca principalmente pelas pessoas que tem. A parte toda da tecnologia que temos é fantástica, mas o grande diferencial que temos são as pessoas que trabalham aqui, com foco em garantir a máxima qualidade e máxima satisfação do cliente. Sempre pessoas antenadas nas novas tecnologias e como melhorar a cada dia o processo e aquilo que a gente entrega de resultado. Em frente a todos os outros polos que existem no Brasil e no mundo, o nosso recurso humano é o grande diferencial.