*Por Romildo Moreira
A cada dia que passa fica mais evidente a necessidade de se criar alternativas além das leis de incentivo para que não haja interrupção no processo criativo de grupos, companhias e artistas independentes na produção de seus espetáculos. Obviamente, os recursos advindos de Leis de Incentivo, como o Funcultura, são muito bem vindos, mas não podem tornar-se o único instrumento para tal. A Lei Rouanet, do Governo Federal, não tem demonstrado eficiência em sua aplicação às artes cênicas em Pernambuco e na Região Nordeste, no tocante a montagem de espetáculos, pelo seu caráter de Mecenato. Os poucos municípios que dispõem de Leis de Incentivo à Cultura, não funcionam regularmente, nem tampouco atendem as necessidades de seus próprios territórios. De forma que os projetos pernambucanos que não são aprovados no Funcultura, amargam a causticante peregrinação em busca de apoios, enquanto aguardam a nova convocatória do próprio Funcultura, na tentativa de aprovação. E essa insegurança não gera atmosfera sadia para o processo criativo de teatro, dança, circo e ópera.
O fluxo de espetáculos montados em cidades como Caruaru, Olinda e Recife, antes da existência das leis de incentivo, comparado com o fluxo nos dias atuais nestas mesmas cidades, ver-se uma seta vertiginosamente em declínio, tanto em quantidade, quanto em qualidade dos espetáculos produzidos, possivelmente causados por duas acomodações que são: de um lado, a dos produtores (conjuntos artísticos e artistas individuais) aos mecanismos de leis de incentivo; do outro, a dos órgãos de cultura em reduzir a sua participação à Lei de Incentivo (com raras exceções). – Que não se veja, portanto, as leis de incentivo como vilãs, e sim como uma entre outras possibilidades de recursos para se levar novos espetáculos à cena.
Também se faz necessário, e muito, que grupos e companhias mantenham os seus propósitos temáticos e de forma de produção, para que não se ausentem do público, mesmo que para isso voltem aos velhos tempos em que se recorria a fontes como: rifas, festas temáticas, feijoadas, bazares, vendas antecipadas de ingressos, etc. – Usar a criatividade também neste particular é fundamental, como fez o ator Tatto Medinni, em Recife, que lançou mão de uma campanha de doação espontânea na internet para por em cena o seu espetáculo “Jr.”, que estreou, com sucesso, no último Festival Janeiro de Grandes Espetáculos, no Teatro Hermilo Borba Filho.
Um novo formato de organização artística, praticado na atualidade, denominado de “coletivo”, já se pronuncia de alguma maneira para escapar da nociva dependência das leis de incentivo, criando redes de ajuda mútua, para montagem ou circulação das obras, e assim ter liberdade total na criação dos trabalhos e na longevidade deles. Contudo, não podemos eximir o papel das instituições públicas em criar outras formas de incentivo à cultura, por estar ciente de que atores da arte e da cultura providenciam, a sua maneira, alternativas para continuar trabalhando. – Este esforço não pode ser unilateral.
Em tempos transitórios de instabilidades política e econômica como esse que atravessamos no cenário nacional, exemplificando com a junção das pastas de Educação e Cultura em um só Ministério, esperamos que, pelo menos, sejam garantidos programas dedicados às artes cênicas, geridos pela Funarte, como o Klaus Viana, o Míriam Muniz e o Carequinha, por ser público e notório que tradicionalmente os orçamentos destinados à Educação não são parcos como os também tradicionalmente destinados à Cultura. – E que a Cultura retome seu status de Ministério o mais breve possível!
DICA DE ESPETÁCULO PARA A INFÂNCIA E JUVENTUDE:
“Vento Forte Para Água e Sabão”, da Cia. Fiandeiros.
Local: Teatro Hermilo Borba Filho
Dias: Sábado 14/05 e domingo 15/05, às 16h.
Preços: R$ 10,00 e R$ 5,00.
Informações: 33553319 / 33553320
*Por Romildo Moreira - ator, autor e diretor de teatro