A desconfiança do mercado imobiliário sobre o desempenho das vendas em 2017 ainda é uma realidade, mas já existe uma tendência de retomada dos lançamentos por parte das empresas. A pesquisa por imóveis voltou a crescer e algumas construtoras identificam também um aumento na tomada de decisão de compra. Após o ciclo de grandes vendas do setor e do abrupto desaquecimento que veio com a crise do País, compradores, investidores e empresários aguardam algumas sinalizações de maior estabilidade da economia e ensaiam uma reação.
Alguns sinais da economia que contribuem para o reaquecimento do mercado já começaram a surgir como a queda da inflação (de 10,7% em 2015 para aproximadamente 7% em 2016 e com previsão de 5% em 2017, segundo o Banco Central) e a redução da taxa de juros (baixando de 13,75% para 13%). “Temos uma expectativa um pouco mais positiva para este ano no segmento imobiliário. Quando olhamos para o Índice de Velocidade de Vendas dos últimos meses alguns dados começaram a ser positivos e as expectativas são maiores quando olhamos a possibilidade de novas reduções de taxas de juros”, afirma Tobias Silva, economista da Fiepe.
Ele ressalta que o Boletim Focus (informativo do BC), sinalizou que a taxa chegue a 10,5% ao final de 2017, mas o núcleo de economia da Fiepe é um pouco mais otimista. “Acreditamos que pode chegar em torno de 9,5%”, afirma. Para uma retomada de fato da dinâmica do setor, ele lembra que outros índices precisam melhorar. “Falta ainda uma melhoria na oferta de crédito e na geração de empregos. Isso faria o mercado imobiliário se movimentar de forma mais forte”, analisa Tobias. Outras notícias recentes que contribuem para esse cenário mais positivo foram o aumento dos limites de financiamento de imóveis anunciados pela Caixa (a cota que pode ser financiada passou de 60% para 70% nos usados e de 70% para 80% dos novos) e o aumento dos valores para financiamento de imóveis pelo FGTS, anunciado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Mariana Wanderley, diretora da Pernambuco Constutora, afirma que as recentes mudanças na Caixa Econômica e no FGTS já influenciam consumidores a decidirem pela compras. “Mesmo no auge da crise os clientes não deixaram de existir, mas não concretizavam a compra. Essas notícias mais recentes impulsionaram para que esses compradores não deixassem para depois”.
Do lado negativo está a conjuntura política, que afeta diretamente as expectativas, na opinião do presidente do Sinduscon-PE (Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Pernambuco), Gustavo Miranda. “O cenário está muito instável e as instituições dando mostra de fragilidade. A nossa percepção é de que enquanto não se resolver a questão política, a economia não voltará a rodar de maneira satisfatória”, analisa.
LANÇAMENTOS. Apesar das intempéries políticas, empresas como a Pernambuco Construtora esperam que o sol volte a brilhar no setor, já que a procura e até o fechamento de vendas melhoraram no final de 2016. “Temos lançamentos preparados para sair em 2017, mas vai depender da postura do mercado. Temos produtos em Piedade, Casa Amarela, Caxangá. Vamos analisar de perto a evolução das vendas até para ver qual produto lançar primeiro”, informa Mariana Wanderley.
Com uma expectativa de crescer 10% em 2017, a Moura Dubeux lança três empreendimentos de alto padrão e luxo e cinco no segmento econômico através da bandeira Vivex. “A gente acredita que 2017 será o início da recuperação do setor. Há um conjunto de fatores para isso, como a diminuição dos estoques pela redução do número de lançamentos. Há uma demanda reprimida aguardando oportunidades para voltar a comprar”, estima Homero Moutinho, diretor da Moura Dubeux Pernambuco.
Na avaliação do empresário Thiago Monteiro, da Haut e da MaxPlural, o mercado sai mais saudável após a crise. “Passou o momento do boom, quando qualquer coisa vendia e rápido. O mercado viveu uma microbolha em algumas regiões da cidade. Comprava-se muito na linha da especulação. Sairemos mais maduros dessa crise”, diz.
Monteiro analisa que o comprador está mais criterioso antes de fechar a compra. “Há uma maior atenção ao acabamento dos imóveis e à estética. A compra tem um nível de qualificação maior que há três ou cinco anos”. Ele lembra que fatores como a relação do edifício com a cidade, respeitando a qualidade de vida do cidadão, passaram a ser mais valorizados pelos compradores. “É preciso oferecer um produto diferenciado, alinhado as principais práticas do mercado, muita tecnologia incorporada, além de localização estratégica. Os empreendimentos se valorizam quando o edifício se integra ao tecido urbano, sendo bom para quem vai morar, mas também para os pedestres”. A Haut trará três lançamentos para 2017 (nos bairros Boa Viagem, Poço da Panela e em Casa Forte).
Com um imóvel a ser lançado este ano no bairro de Casa Amarela, a Trio Empreendimento é menos otimista e ressalta a necessidade de haver algumas ações para melhorar o ânimo dos compradores. “Até a mudança na economia chegar aos consumidores demora um pouco. Não temos crescimento, mas temos mantido o desempenho. A velocidade da venda reduziu e há uma espera por redução de preços e por uma política mais ousada de promoções”, afirma.
A Construtora Conic, porém, acredita que a maior procura dos consumidores em 2016 foi um prenúncio de mais vendas neste ano. “O sentimento de confiança aumentou. A pesquisa e procura por imóveis está maior. O cliente que estava muito reservado, deixou de estar tão cauteloso e volta a avaliar possibilidade de decisão de negócios”, afirma André Luiz, superintendente comercial da marca. Após um 2016 sem lançamentos, a Conic trará de três a cinco empreendimentos em 2017. Os anúncios devem começar ainda no primeiro semestre, se estendendo ao longo do ano. Os imóveis compactos, com otimização do uso dos espaços, e a aposta em bairros consolidados seguem como tendências na sua avaliação.
Já a MRV tem a expectativa de trazer cinco novos empreendimentos ao mercado em 2017, o que representa cerca de 2,5 mil unidades. “Teremos imóveis em lugares bem distintos, pulverizando os produtos em novas regiões, diferenciando um pouco do que vinhamos fazendo. Neste ano o mercado deve aumentar o volume de vendas e de produtos”, prevê Diogo Lemos, diretor comercial da construtora. Voltada principalmente para o segmento Minha Casa, Minha Vida, a empresa tem expectativa de ofertar habitações populares em Camaragibe, Caxangá e Jaboatão. “Há um déficit habitacional ainda grande. A demanda não reduziu. Nosso objetivo será atingir as pessoas que hoje estão procurando apartamentos, mas ainda estão pagando aluguel”, diz Lemos.