O que você leva em consideração quando precisa escolher qual meio de transporte utilizará para se deslocar pela cidade? Tempo? Conforto? Preço? Será que alguma vez você já pensou na velocidade efetiva dos meios? Esse conceito, ainda pouco conhecido, foi utilizado pela pesquisadora Jessica de Lima, em dissertação do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da UFPE, para descobrir quais meios de transporte usados por pessoas de diferentes classes sociais que estudam e/ou trabalham no Bairro do Recife são mais ou menos eficientes. Para todos os níveis de rendas estudados, o metrô obteve o melhor desempenho. Já o carro, o pior. De acordo com a pesquisa, intitulada Transporte, velocidade efetiva e inclusão social: um estudo para o Recife, se a relação custo/renda for 1, o trabalhador precisa utilizar toda sua renda para pagar o seu meio de transporte. Se for 0,1, ele gasta 10% da renda. 0,2 corresponde a 20% e assim sucessivamente. Dessa forma, consegue-se estimar quantas horas por dia é preciso trabalhar para pagar pelo deslocamento.
A velocidade efetiva, então, varia de acordo com o salário do indivíduo. Isso significa dizer também que as pessoas com renda mais elevada se veem diante de uma maior variedade de opções de meios de transporte. A partir de uma análise socioeconômica dos entrevistados, Jessica de Lima calculou a velocidade efetiva do carro, moto, ônibus, metrô, bicicleta, além do deslocamento feito a pé.
TARIFAS | Com uma tarifa baixa (R$1,60) e uma velocidade média de 41km/h, os resultados indicaram que o metrô foi o modo mais efetivo para todas as rendas. A pesquisa aponta também que o metrô seria o mais indicado para receber investimentos do poder público. Em contrapartida, o sistema metroviário do Recife é considerado pequeno, subsidiado a 80% e corre o risco de fechar nos fins de semana. “Do ponto de vista da velocidade efetiva, ele é muito bom. Mas está passando por uma crise substancial. É difícil você defender uma expansão do metrô com esse cenário”, aponta Jessica de Lima.
A pesquisa também mostrou que a bicicleta e o transporte a pé variaram entre o segundo e o terceiro lugar em diferentes níveis renda. O ônibus ficou em segundo lugar para os níveis de renda mais elevados e a moto não teve um bom desempenho, já que alternou entre o quinto, quarto e terceiro lugares. O carro, por sua vez, foi considerado o meio de transporte menos efetivo. A velocidade média de 12,5 km/h, os altos custos fixos (R$ 8.707) e variáveis (R$ 1.417) anuais e os elevados níveis de engarrafamento fizeram do automóvel o modal menos eficiente.
“Eu sempre achei que era mais fácil convencer as pessoas quando você fala de dinheiro e sobre quanto isso afeta o bolso delas”, explica Jessica de Lima. Um de seus objetivos era justamente incentivar as pessoas a utilizar menos o carro e mais o transporte coletivo e não motorizado. Segundo ela, já existem leis como a Política de Mobilidade Urbana Sustentável, de 2012, que preveem isso. Na prática, contudo, o estímulo a aquisição e uso do automóvel permanece, em nível do governo federal, por meio dos incentivos fiscais a montadoras e reduções de IPI e, em nível municipal, pela priorização de gastos com infraestrutura viária para carros.
Para que a população tenha maior e melhor acesso aos meios de transporte efetivos, a pesquisa sugere políticas públicas de inclusão social. Algumas sugestões são investimentos de infraestrutura de transporte público de média e alta capacidade como BRT, VLT, além do metrô, a implementação de mais ciclovias seguras e melhorias nas calçadas da cidade. “A solução técnica existe”, conclui Jessica de Lima.
(Da UFPE)