Moendas de Mata Grande (por Paulo Caldas)

Em Moendas de Mata Grande (edição do autor-editora Bagaço), Sílvio A. Costa na sua primeira incursão pelos labirintos da ficção literária já chegou falando alto as coisas da gente. As cenas criadas colocam o leitor a caminhar do partido da cana ao roçado e daí para o terreiro da casa-grande. Tem o cheiro do mel de engenho, o canto do canário engaiolado, o doce da rapadura salivando nos cantos da boca. São os chamados detalhes certificadores, ferramentas da verossimilhança que passam pelo fio da foice afiada, quando o foco da panorâmica gira pela casa-grande e fecha a lente na donzela Veremunda costurando no alpendre.

Naquela atmosfera, a narrativa vez por outra se apresenta com passagens de tempo um tanto apressadas, contadas ao ritmo das moendas, untando com melaço as cenas esperadas. Na construção dos personagens, embora bem definidos tanto no aspecto físico quanto psíquico, Silvio opta pelo que se define por alternativa retrato, quando não pulveriza detalhes ao longo do texto, de modo que impõe ao leitor maior observância, caso específico do Mulato Zémaria.

Na sequência da leitura, o conteúdo traz à tona a submissão natural das mulheres ante a autoridade masculina, temperada com a mão de força e o poder patriarcal. Costa explora os fatos como se tivesse vivido, embora não imprima novos matizes à temática dos amores reprimidos, hoje ultrapassada.

O apego às formas estéticas mais elaboradas cede espaço ao impulso de manipular com doses de ansiedade a incursão perene dos usos e costumes, no binômio opulência x miséria. Desse modo, traduz com fidelidade a vida de então, filhos bastardos, segredos revelados, crias da casa, decadência e morte.

O livro poderia ter explorado com mais vigor as símiles, dada à predominância de cenas vivenciadas em cenários naturais. O mesmo pode se observar em relação às metáforas, estratégia que seduz o leitor afeito à beleza da escrita. O emprego do tempo verbal, no entanto, revela habilidade do autor no esmiuçar da movimentação e gestual dos personagens.

Marinheiro de primeira viagem, conforme anuncia o poeta Paulo Gustavo nas orelhas do livro, o autor deixa vestígios do noviciado ao abraçar marcações entre diálogos, recurso que lhe serve de bote salva-vidas na travessia da correnteza narrativa.

*Paulo Caldas é escritor

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