A relação entre fome e mudanças climáticas foi aprofundada por pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), durante debates recentes sobre segurança alimentar e nutricional. A professora Rosana Salles da Costa, coordenadora do Instituto de Nutrição Josué de Castro da UERJ, destacou como a insegurança hídrica, uma consequência das mudanças climáticas, pode diminuir o acesso a alimentos saudáveis. Segundo ela, a redução da qualidade e quantidade de água prejudica áreas de cultivo e, consequentemente, o abastecimento de alimentos para a população.
Além disso, o aumento dos preços dos alimentos, causado pela diminuição da produção, também foi discutido. A professora enfatizou a necessidade de políticas públicas eficazes para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e melhorar a segurança alimentar, através de ações coordenadas entre os diferentes níveis de governo.
A segurança alimentar está relacionada ao direito a uma alimentação adequada, enquanto a insegurança alimentar se manifesta quando esse direito não é garantido em termos de quantidade ou qualidade. No Brasil, a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA) classifica a insegurança em três níveis: leve, moderada e grave. A insegurança alimentar grave, que reflete a fome, é particularmente alarmante, afetando famílias que frequentemente passam o dia sem comer ou fazem uma única refeição diária.
Dados recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua mostram que 10,8% dos lares chefiados por mulheres enfrentam insegurança alimentar moderada ou grave, em comparação com 7,8% dos lares chefiados por homens. A pesquisa também revela que 74,6% dos lares com insegurança alimentar grave são liderados por pessoas pretas e pardas. A professora Rosana Salles da Costa observou que os lares chefiados por mulheres, especialmente mulheres negras, são os mais afetados.
O estudo incluiu a apresentação de dados preliminares de pesquisas da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), além de novas ferramentas como o aplicativo VIGISAN e a plataforma FomeS. Essas ferramentas, financiadas por diversas instituições, fornecem dados essenciais sobre mudanças climáticas, insegurança alimentar, insegurança hídrica, saúde e estado nutricional infantil.