Projeto “Nossa História, Nossa Memória” registra trajetórias femininas que moldaram o patrimônio cultural de Pernambuco. Foto: Salatiel Cícero
Por séculos, mulheres negras, rurais e periféricas foram pilares da cultura pernambucana, embora pouco reconhecidas como autoras de sua própria história. Agora, parte desse silêncio é rompido com o lançamento da plataforma “Nossa História, Nossa Memória – Temporada Mulheres na Cultura”, disponível no site nossahistorianossamemoria.com.br. A iniciativa reúne registros em áudio, vídeo e texto de 15 mulheres que atuam na preservação dos patrimônios material e imaterial da Zona da Mata de Pernambuco.
Mais do que um acervo, o projeto é um ato de salvaguarda da memória coletiva. O site apresenta entrevistas, biografias, fotografias e documentos que revelam a força feminina por trás das tradições locais. Das danças e músicas ao artesanato e à culinária, o conteúdo retrata o papel das mulheres na transmissão de saberes e na manutenção de práticas culturais que atravessam gerações. “Mais do que registrar histórias, o que fazemos é restituir a dignidade simbólica de quem sempre esteve à frente da cultura popular, mas raramente teve o direito de ser ouvida. Essas mulheres são o coração da memória coletiva da Zona da Mata”, afirma o jornalista Salatiel Cícero, coordenador geral do projeto.
Entre as personagens retratadas estão a socióloga Zita Barbosa, de Lagoa do Carro, idealizadora do projeto Bolos de Pernambuco; a trombonista Larissa Michele, de Aliança; e a mestra Cristiane Mota, de Vicência, que lidera um maracatu formado apenas por mulheres. As histórias também destacam nomes como Edriene Melo, liderança quilombola em Trigueiros; Rosemary e Ezter Liu, irmãs de Carpina que atuam no audiovisual e na literatura; e Mestra Jel do Coco, de Tracunhaém, que comanda o grupo Panela de Barro. Cada trajetória reforça a presença feminina como guardiã de saberes e tradições da cultura popular.
A comunicadora popular Josinalda Marinho, apresentadora do podcast, ressalta a emoção de ouvir e compartilhar essas narrativas. “Cada entrevista é um encontro de mundos. As histórias chegam carregadas de emoção, de luta, de ancestralidade. Não é apenas um registro técnico, é uma conversa entre gerações. É a voz de uma mulher de Nazaré dialogando com outra de Goiana, de Carpina, e Tracunhaém. É o Brasil profundo se reconhecendo no espelho da sua cultura”, destaca. A plataforma também oferece acessibilidade completa, com legendas, audiodescrição, transcrições e tradução em Libras.
Realizado com incentivo da Fundarpe, da Secretaria de Cultura e do Governo de Pernambuco, por meio do Funcultura, o projeto celebra a contribuição das mulheres na formação do patrimônio cultural do Estado. Ao reunir suas vozes e experiências, a iniciativa transforma memória em presença e reconhecimento. “Essas mulheres não apenas fazem parte da história”, resume Salatiel Cícero. “Elas são a própria história — e a prova viva de que o patrimônio cultural é, antes de tudo, humano.”
Serviço
O quê: Mulheres com atuação no patrimônio cultural de Pernambuco têm suas trajetórias registradas em plataforma online
Quando: Terça-feira, 28 de outubro
Onde: https://nossahistorianossamemoria.com.br/terceira-temporada/
Mais informações: @podcastnossahistoria

