Música, remédio prazeroso

Desde antes de Cristo, a música já era utilizada para acalmar espíritos. Hoje, ela vem sendo aplicada para fins terapêuticos em hospitais e clínicas.

Profissionais como o pediatra, músico e compositor Fernando Azevedo têm constatado na prática os bons resultados dos sons musicais para os pacientes. Juntamente com outros dez médicos de especialidades diferentes, Azevedo canta e toca para pessoas que estão hospitalizadas. “Levamos um ‘cardápio’ de música clássica à MPB para elevar o estímulo das pessoas que estão nos leitos”, relata o médico e músico. Ele e seus colegas já se apresentaram no Hospital Otávio de Freiras, no Imip e no Hospital Universitário Oswaldo Cruz, onde a Orquestra de Médicos do Recife foi criada.

“Percebo que todos ficam mais felizes e estimulados com a melodia. Não é apenas o medicamento que trata um paciente enfermo”, assegura. Para ele, a música consegue esse efeito por atingir as pessoas de forma lúdica, aliviando-as um pouco daquela realidade estressante em que se encontram num hospital.

E é fácil entender como acontece esse efeito. Segundo a médica intensivista Cláudia Ângela Vilela de Almeida, a música libera endorfina, substância produzida pelo cérebro responsável por proporcionar a sensação de felicidade, humor, bem-estar e prazer; e diminui a produção de cortisol, hormônio liberado pelo nosso organismo quando estamos em situação de estresse.
“A música também melhora a imunidade, principalmente quando o paciente está na UTI, pois ele fica mais calmo, diminui ansiedade, a incidência de delírio e, assim, melhora a qualidade do sono”, justifica Cláudia. A intensivista coordena o projeto de extensão Música para o Coração e a Alma, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE). No projeto alunos e profissionais do Departamento de Música do Centro de Artes e Comunicação e de outros setores da universidade, além de funcionários do hospital, músicos convidados e corais se apresentam para os pacientes internados.

Durante um período de 30 minutos a duas horas, eles cantam e tocam à beira dos leitos. No repertório estão presentes estilos musicais dos mais variados, desde músicas espirituais a marchinhas de Carnaval. “Às vezes eles passam muito tempo deitados, por essa razão ficam deprimidos e isso mexe também com familiares que os acompanham no hospital. A necessidade de algo que os conforte e torne a visita dos parentes agradável é imensa”, justifica Cláudia.

O projeto que surgiu com o objetivo principal de promover por meio da música a humanização da assistência à saúde no HC-UFPE, especificamente na UTI, já tomou proporções maiores e passou a ser executado em outros departamentos.

MEMÓRIA
Sons musicais também são empregados na estimulação cognitiva. “Estudos comprovam que a música vem sendo cada vez mais utilizada em pacientes com doenças neurodegenerativas, como Alzheimer, Parkinson, demência senil e hiperatividade, por estimular as áreas emocional e motora”, explica Vânia Ribeiro, psicopedagoga e sócia da clínica Amigos da Memória.

A música é utilizada no espaço para estimular seus alunos com ou sem doenças neurodegenerativas a recordar. “Pesquisadores como Weinstein (que publicou artigo sobre o tema na Archives of Neurology), mostram ser possível trabalhar a canção com idosos com demência porque a percepção, a sensibilidade, a emoção e a memória para a música podem permanecer por muito mais tempo do que as outras formas de memória”, ressalta a fonoaudióloga Lúcia Liberal também sócia do espaço.

Escutar uma música que costumava ouvir numa determinada época pode ser uma forma de um indivíduo exercitar a memória e lembrar-se de seu passado. “A música é positivamente aplicada no resgate da história de vida dos alunos, uma vez que é conhecida como a linguagem da emoção”, informa a psicopedagoga. “Isso acontece porque ao escutarmos uma canção que apreciamos, desencadeia-se atividade no hipocampo, região do cérebro que desempenha um papel fundamental na ativação da memória e nas emoções vinculadas à socialização”, esclarece a psicopedagoga.

*Por Paulo Ricardo Mendes (algomais@algomais.com)

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