A quantidade de ciclistas circulando pelas ruas do Recife cresceu visivelmente nos últimos anos. Junto a essa mudança no perfil de mobilidade da cidade, aumentaram também as tensões na busca do respeito no trânsito, pelo direito de usar o espaço público e por melhor infraestrutura. Representando essas bandeiras, que pertenciam a cidadãos sem voz e sem organização, surgiu há 4 anos a Ameciclo (Associação Metropolitana de Ciclistas do Grande Recife), que hoje reúne cerca de 500 associados.
De acordo com Lígia Lima, que é uma das coordenadoras da Ameciclo, a organização nasceu a partir do movimento Massa Crítica Recife. “É um movimento que tem como proposta se reunir uma sexta-feira por mês e pedalar na cidade sem um destino específico. Tem gente que quer lutar pela bicicleta vai para lá, tem gente que só quer passear. Mas chega uma época na cidade que começou a se falar muito de bicicletas, aí sentimos a necessidade de se aprofundar um pouco mais e de ser um grupo de referência para poder falar sobre esse tipo de modal”, afirma. Após organizado, a Ameciclo passou a se inserir em diversos espaços de discussão sobre mobilidade, defendendo o modal.
O primeiro grande passo da Ameciclo aconteceu ainda na fase de construção da associação, quando seus coordenadores foram convidados a participar das discussões do Plano Diretor Cicloviário da Região Metropolitana do Recife (PDC). “Foi um período de muitas discussões, em que muitas de nossas sugestões foram acatadas. Isso foi estimulante. Conseguimos construir esse plano junto com o poder público”. O PDC foi pioneiro no País ao propor a construção de uma rede cicloviária de caráter metropolitano, integrando as bikes ao sistema de transporte coletivo.
Outra iniciativa de relevância da associação foi a construção em conjunto com outros movimentos da 1ª Conferência Livre de Mobilidade do Recife. “Um dos objetivos dessa conferência era chamar atenção para os poucos espaços de participação que tínhamos dentro da esfera municipal. A Conferência Municipal de Trânsito e Transporte, que é a conferência oficial, que deveria acontecer de ano em ano, não acontece desde 2007”, declara Lígia. O evento teve a representação de mais de 70 instituições participando e lançou uma carta de propostas para os candidatos à prefeitura do Recife em 2014.
Para qualificar as discussões e formulação de propostas para o poder público, a Ameciclo realiza também pesquisas relacionadas à mobilidade de bicicletas e participa de estudos em conjunto com outros grupos, inclusive nacionalmente. Entre as pesquisas estão as contagens de ciclistas (que são realizadas em cruzamentos durante todo o dia, das 5h às 20h). Em parceria com a Transporte Ativo, por exemplo, a organização contribuiu na realização da Pesquisa do Ciclista Brasileiro. “Foi a partir dessa pesquisa que entendemos que a maioria dos ciclistas recifenses são do perfil de renda de até dois salários mínimos, que são a população de baixa renda”.
No retrospecto dos estudos realizados pela associação estão ainda um estudo qualitativo em parceria com a Valença & Associados (no momento em que foram implantadas as ciclofaixas de lazer) e o Ideciclo (Índice de Desenvolvimento Cicloviário). O Ideciclo, inclusive, foi uma metodologia criada pela associação para a avaliar a estrutura cicloviária no Recife, com o objetivo de mensurar como está evoluindo a malha cicloviária da cidade em termos de qualidade e quantidade.
NA PRÁTICA
Além dessas ações que são estratégicas para a promoção da bike como alternativa de mobilidade na cidade, a organização desenvolveu recentemente o projeto Bota pra Rodar. A iniciativa associou uma ação de reutilização de bicicletas a um sistema de compartilhamento de bikes em duas comunidades de baixa renda (Caranguejo e Tabaiares).
O projeto conseguiu colocar 20 bicicletas para circular, organizou duas estações de reparo e dois bicicletários. “Essa foi a primeira vez que trabalhamos com o público que mais precisa, que são as pessoas de baixa renda do Recife. O projeto aconteceu durante o ano de 2016 e foi concluído em fevereiro deste ano. A própria comunidade montou o seu sistema de compartilhamento, desenvolveu o como seria cadastro, quanto tempo cada um ficará com a bicicleta. Eles se revezam para fazer o conserto e a manutenção. Um sistema comunitário autogerenciado”. (http://www.ameciclo.org/projetos/bota-pra-rodar)