Faz muito tempo, somos abusados por políticos de todos os matizes e, para agravar o problema, cultivamos a crença de que tudo isso um dia passará. Enquanto não passa, os escândalos se sucedem, cada vez maiores e mais estridentes, induzindo uma pergunta que não quer calar: serão assim todos os políticos?
A resposta é não, embora sejam cada vez mais raros os casos de conduta irretocável. Um homem vivido entre novembro de 1920 e novembro de 1983 honrou a classe política. Saiba o que ele fez em 60 anos de existência. Vale a pena.
Para começar, quando ele chegou encheu de alegria o lar de Josefa e Clementino de Souza Coelho, grande proprietário de terras, comerciante e industrial renomado, então o maior acionista da Chesf.
O menino estudou, graduou-se médico, mas logo foi seduzido pela política, elegendo-se deputado estadual para a legislatura 1947/1950 e, em 1951, deputado federal. Foi várias vezes deputado, depois secretário da Fazenda de Pernambuco, governador do Estado, e mais tarde senador pela Arena-I, impulsionado pelos votos do também candidato Cid Sampaio, da Arena-II. Logo ele se tornou presidente daquela Casa, onde proferiu a frase que lhe iria marcar a vida.
Saiba-se, desde já, que no Legislativo e no Executivo Nilo Coelho foi um homem fiel às suas convicções, tanto que participou ativamente do Bloco Parlamentar Revolucionário, origem da Arena, mas não hesitou em defender rigorosa investigação da explosão da bomba do Rio Centro.
Ele protagonizou uma carreira vitoriosa, ainda que, em algum momento, biônica, mas o fato indiscutível e que ele foi aprovado principalmente pelo voto direto. Foi assim, ora, que ele se elegeu deputado estadual, deputado federal e senador da República.
Mesmo como governador biônico, contudo, saiba-se que ele muito fez por Pernambuco. Desenvolveu a eletrificação rural, levando-a a mais de 200 distritos das zonas da Mata, Agreste e Sertão; implantou o Lafepe - Laboratório Farmacêutico de Pernambuco; a Fiam - Fundação de Desenvolvimento Municipal de Pernambuco, encarregado da integração dos programas municipais e estaduais; expandiu a rede rodoviária estadual e intensificou a política de irrigação, diversificando a produção irrigada da cebola, para o plantio de alho, algodão, uva, frutas e verduras.
Quer mais?
Criou a Comissão Estadual de Controle e Poluição das Águas, o Instituto de Pesos e Medidas e o Departamento de Trânsito de Pernambuco, além de construir estradas, o que lhe rendeu a alcunha de Governador Estradeiro.
Também criou a Companhia de Mecanização Agrícola e os Distritos Industriais de Pernambuco e substituiu a Imprensa Oficial por uma empresa de economia mista, a Companhia Editora de Pernambuco – Cepe.
Foi durante o governo Nilo Coelho que foi criado o Projeto Massangana, com mais de 20 mil hectares, considerado o maior projeto público de irrigação do País, onde foram implementadas culturas permanentes de banana, manga, acerola, uva, coco, goiaba, capim e citros; e culturas temporárias de feijão, melancia, tomate, abóbora e milho.
Tem mais: implantou a Fundação de Ensino Superior de Pernambuco, hoje Universidade de Pernambuco, e concluiu a construção da barragem de Tabocas.
Pelo reconhecimento dos valores pernambucanos Nilo Coelho condecorou Frei Damião, concedendo-lhe a Medalha Pernambucana do Mérito. Pelo seu valor, foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique de Portugal, deu nome à medalha concedida pela Prefeitura do Município de Petrolina a personalidades políticas e culturais da região.
Faleceu no exercício da presidência do Senado, onde, certa feita, em acalorado debate pronunciara a sua mais famosa frase. “Não sou presidente do Congresso do PDS, sou presidente do Congresso do Brasil”, deixando um exemplo de altivez. Foram palavras de valor inestimável, bastantes para definir o caráter de quem as pronunciou.