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Francisco Cunha

Na reinvenção do Recife como Cidade Parque, a garantia do melhor para os mais pobres!

Muito do que vem sendo feito no Recife, em termos de melhoria da qualidade dos equipamentos e dos espaços públicos na última década, tem a benéfica influência do que foi feito na Colômbia, em especial nas cidades de Bogotá e Medellin que passaram e continuam passando por um vigoroso processo de mudança desde que estiveram dominadas pelo narcotráfico, nas últimas décadas do Século 20. Medellin, por exemplo, foi considerada a cidade mais violenta do mundo antes da morte de Pablo Escobar em 1993 e, em 2013, foi eleita a cidade mais criativa do mundo. Mudou completamente em duas décadas, coisa que o Recife pode muito bem fazer também!

O conhecimento e a influência benéfica, sobretudo da exitosa experiência de Medellin, no Recife, deu-se por obra catequética de Murilo Cavalcanti que hoje acumula o cargo de secretário de Segurança Urbana do Recife mas, há quase duas décadas, tem feito o trabalho incasável de intercâmbio entre o Recife e a Colômbia, em busca de uma referência bem-sucedida de mudança, sobretudo no que diz respeito à cultura de paz e segurança cidadã.

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E um dos princípios do urbanismo restaurador que é feito nas cidades colombianas é, justamente, “o melhor para os mais pobres”. Eu mesmo, nas viagens de observação que fiz para lá, pude testemunhar isso. Exemplo marcante são as famosas bibliotecas- -parque com equipamentos impecáveis nos bairros mais pobres. O mesmo se dá com o mobiliário urbano que é igual nos bairros mais abastados de Medellin e nas comunas mais carentes e distantes do centro.

Este princípio, por exemplo, foi exemplarmente adotado no Recife já no primeiro Compaz — Centro Comunitário da Paz, construído no Alto Santa Terezinha, em um prédio novo e de alta qualidade arquitetônica, inclusive com o maior e mais ventilado dojô para a prática esportiva de lutas marciais (uma tradição do local) do Brasil. O mesmo padrão foi adotado nos demais Compaz construídos e em construção em outros bairros do Recife.

Este princípio me vem à mente no momento em que, após a realização do Seminário Recife Cidade Parque – Carta do Recife do Futuro para o Recife do Presente (tema da reportagem de capa deste número da Algomais), leio opiniões de participantes e, principalmente, de não participantes, dizendo que a ideia do Recife como uma cidade-parque é excludente porque o Recife é uma cidade pobre e injusta. Inclusive alguns dizem que os equipamentos já construídos no âmbito do Parque Capibaribe, como é o caso do Parque das Graças, são para “ricos” porque instalados num bairro “rico” da cidade.

Este tipo de opinião ou é fruto de desconhecimento da realidade ou de má militância político-partidária. Quem assim se manifesta ou não viu ou viu e omite o que foi feito no Parque do Caiara (os Jardins Filtrantes) e no Cais da Vila Vintém, ambos em locais que por eles certamente são considerados “pobres” da cidade. Mas, na realidade, a qualidade é a mesma, nas áreas “ricas” e nas chamadas áreas “pobres”.

Além disso, os demais parques e áreas publicas destinadas ao lazer, como é o caso, por exemplo, do parque que está sendo construído, o maior da cidade, na área do antigo Aeroclube, em uma região reconhecidamente “pobre” da cidade, é inspirado nos mesmos princípios dos aplicados na simultânea reforma da orla, esta teoricamente situada numa área “rica”.

Inclusive, este é justamente um princípio que promove a democratização dos espaços públicos que são, por natureza, acessáveis por todos os habitantes da cidade. As cidades mais desenvolvidas do mundo fazem dos seus espaços públicos áreas de convívio de qualidade entre habitantes de todas as classes. E é isso que devemos perseguir incansavelmente no Recife.

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