O avanço tecnológico no combate ao câncer de próstata tem feito toda a diferença tanto no diagnóstico, como no tratamento. Mais de 90% dos casos de câncer podem ser revertidos se a doença for detectada em sua fase inicial. Para interromper a propagação do tumor e aumentar as chances de cura, é necessária, em muitos casos, a retirada total da próstata, o que, porém, pode provocar disfunção erétil e incontinência urinária.
Médico urologista do Hospital Esperança e doutor em cirurgia do câncer de próstata, Misael Wanderley aponta que a chamada cirurgia robótica aumenta as chances de preservação da função erétil e a manutenção da continência. “O procedimento utiliza uma tecnologia capaz de tornar o processo cirúrgico bem mais preciso, menos invasivo e com maior possibilidade de preservação de estruturas que não necessitam ser removidas”, explica o especialista.
A prostatectomia (retirada da próstata) é realizada por meio da técnica laparoscópica (ou seja, por vídeo), utilizando um sistema de braços robóticos de ampla precisão controlados pelo cirurgião. “Uma câmera permite ao médico ter uma visão tridimensional do corpo do paciente, algo semelhante a um filme em 3D”, explica Tibério Moreno Júnior, doutor em urologia pela Universidade São Paulo. “Pinças robóticas se articulam de forma semelhante ao punho do cirurgião e isso permite muito mais precisão na operação. A articulação dos nervos da ereção permanece intacta”, acrescenta o urologista.
Na cirurgia convencional, havia a necessidade de realizar o corte do umbigo até a raiz o pênis, o que gerava dor, cicatrizes e requeria um longo tempo de internamento com o uso da sonda. O paciente só retornava às atividades cerca de dois meses após o procedimento. “Já com a tecnologia robótica, são apenas de cinco a seis furos minúsculos e a dor pós-operatória é mínima. Esteticamente é ótimo e o tempo de recuperação é de pouco mais de duas semanas”, compara o médico.
O procedimento robótico é responsável por uma taxa de cura de 90% a 95%, caso o câncer seja diagnosticado em sua fase inicial. De acordo com Tibério Júnior, a taxa de incontinência é de aproximadamente 2%; e a recuperação da ereção chega aos 80%. “Nenhuma outra técnica cirúrgica permite uma chance tão grande de melhoria”.
Misael Wanderley ressalva, porém, que quanto mais avançada está a doença maior são as chances de o enfermo sofrer a perda da ereção e da continência urinária. “Alguns métodos terapêuticos podem diminuir as chances de sequelas, mas os riscos dessas consequências não dependem exclusivamente de terapias avançadas, mas também de fatores ligados à doença em si e de sua extensão”, salientou.
O gestor institucional do centro universitário Unibra, Airton Vasconcelos, 53 anos, aprendeu na prática a importância do tratamento precoce. Após 13 anos realizando os exames de rotina, foi diagnosticado com câncer de próstata. Os níveis da taxa de PSA (um marcador para o tumor) estavam elevados. “Foi quando o meu médico me pediu para fazer um acompanhamento a cada seis meses. Eu, como um bom brasileiro, passei um ano sem ir ao consultório, o que agravou bastante o quadro. Quando retornei à consulta, o teste acusou o dobro do tamanho da próstata e o estágio já estava bem avançado”, relembra Vasconcelos, que também é coordenador da pós-graduação de Inteligência Policial dos Estados de Pernambuco e Paraíba.
Por muito pouco, Airton não sofreu uma metástase (propagação do tumor para outras regiões do corpo). “Se eu não tivesse acompanhado o caso, o câncer teria se espalhado para os outros órgãos, coisa de um mês e meio. É preciso deixar de lado o preconceito, o machismo e zelar pela saúde”, alertou, referindo-se ao exame de toque retal.
O apoio que recebeu dos familiares foi fundamental para superar a doença e seguir a vida normalmente. “O suporte da minha família, principalmente da minha esposa, foi incondicional. Também sou muito grato à empresa onde trabalho, que me deu um grande presente ao pagar a minha cirurgia”.
Após a operação, Airton preocupou-se com a possibilidade de sofrer com disfunção erétil e incontinência urinária. Porém, em pouco mais de duas semanas estava recuperado. “Claro que existiu aquela aflição, mas em 15 dias voltei ativamente a minha vida sexual. A cirurgia foi um grande sucesso”, comemora.
FISIOTERAPIA
A fisioterapia é outro recurso utilizado para tratar a incontinência urinária e disfunção erétil em pacientes submetidos à prostatectomia. De acordo com a fisioterapeuta Silvana Uchoa, professora da Unicap (Universidade Católica de Pernambuco) e da clínica Physios, existem exercícios de contração para o fortalecimento do assoalho pélvico, musculatura em forma de rede que vai do pênis ao ânus e sustenta bexiga, intestino e próstata.
“São exercícios que chamamos de cinesioterapia”, explica Silvana. Outra técnica empregada é o biofeedback, cujo objetivo é fazer com que o homem tenha consciência dos músculos usados no controle da micção. Pode parecer estranho, mas a maioria das pessoas não conseguem contraí-los de forma consciente. “Colocamos eletrodos na região perineal, perianal ou intracavitório, que são conectados a um computador, permitindo ao paciente conferir em tempo real os exercícios de contração, relaxamento, fortalecimento e resistência do assoalho”, explica a professora.
Outro meio é a eletroestimulação, na qual, eletrodos são colocados na região perineal, perianal ou intracavitório, que emitem correntes elétricas de baixa intensidade. O método atua diretamente no fortalecimento do assoalho pélvico.
Esses métodos são mais eficazes se iniciados logo após a cirurgia, de acordo com Silvana “Quando isso acontece os resultados são excelentes. Comparado com o que víamos, o percentual de homens curados está aumentando”, afirma a especialista, indicado que a cada dez pacientes com casos sérios, cinco estão recuperando a boa função erétil com procedimentos fisioterápicos.
*Por Marcelo Bandeira, da Revista Algomais (redacao@algomais.com | marcelobandeirafig@gmail.com)