Entre tantos detalhes cruéis que envolveram a jovem de 16 anos, estuprada por 33 homens no Rio, chama a atenção a mensagem que ela postou no Facebook depois do terrível acontecido: “obrigada pelo apoio de todos. Realmente pensei que seria julgada mal."
Na certa a jovem acreditou que a sociedade impingisse a ela a culpa por ter sido violentada. E esse pensamento não foi à toa. Muitas mulheres nem chegam a fazer a denúncia após o estupro, temendo ser acusadas por ter seduzido os homens. Para muitos brasileiros não faltam razões para pensar dessa forma: a mulher estava com roupas curtas, bebendo, em lugar e hora errados.
Um pensamento, que como lembrou a jornalista Claudia Colluci, em artigo na Folha de S. Paulo, chegou a ser revelado em pesquisa do Ipea, de 2014: 26% dos entrevistados consideram que “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”.
Mais recentemente, a revista Veja elogiou a mulher do presidente interino Michel Temer, Marcela, entre outros atributos por ser “recata”. O que causou críticas e sátiras nas redes sociais. Ora, não se trata de criticar a primeira-dama interina – afinal, todos têm o direito de ser o que são. Como diria o mestre Caetano Veloso, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. O que não se pode, porém, é colocar o recato como um padrão ideal a ser seguido pela população feminina.
Mulheres são vistas pelos homens como objetos sexuais e não como seres humanos que têm o direito de se vestir e andar como bem entendem. Esse é o real motivo que as tornam vítimas de atos de barbárie. Um ponto positivo é que a terrível experiência da jovem carioca provocou repúdio nas redes sociais e levantou revelou a chamada “cultura do estupro”. Já passou da hora de expurga-la de nossa sociedade.
Cláudia Santos