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Noivos se casam em barco, jardins e até no Carnaval

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No lugar do altar, um barco, uma oficina de motos ou até mesmo as ladeiras de Olinda. Em vez de um padre, um familiar ou amigo muito próximo. E até a dama de honra abandonou os trajes de gala e vestiu a fantasia de papangu. Pode parecer estranho para alguns, mas esse tem sido o cenário de casamentos realizados recentemente em Pernambuco. As igrejas perderam a exclusividade como local de cerimônias das bodas e, cada vez mais, noivos optam por celebrar sua união em outros lugares que tiveram uma ligação afetiva com a história de vida deles.

Muitos aproveitam a beleza das praias do litoral pernambucano para realizar o enlace, mas a criatividade dos casais não tem limites. Carina Lima e Silva e Ricardo Franceshini Aires, por exemplo, decidiram fazer a cerimônia em plena segunda-feira de Carnaval em Olinda. “A gente tinha um plano de casar no fim do ano. Mas, de repente, meu marido recebeu a notícia no trabalho de que seria transferido para o Panamá, por isso, tivemos que adiantar tudo”, conta Carina que concedeu a entrevista a Algomais pelo WhatsApp na cidade do Panamá. “Ricardo sugeriu que fizéssemos o casamento no civil com a participação da nossa família. Mas precisávamos comemorar com nossos amigos. Daí propôs: por que não fazer no nosso bloco Comigo é Assim?”, conta Carina que topou a ideia na hora.

Agenda TGI

A decisão foi em dezembro de 2014 e, em pleno reinado de Momo do ano seguinte, o casal festejou a união com direito a bolo, docinhos, decoração, champanhe e vestido de noiva, às 9h, na saída do bloco. “A cerimônia foi realizada por um dos nossos melhores amigos. Foi incrível, ele falou palavras lindas”, diz, Carina emocionada. A cunhada da noiva entrou fantasiada de pagangu com as alianças e, em seguida noivos e convidados caíram no frevo. “O que eu pedi de presente de casamento foi que comprassem a camisa do bloco para que todos estivessem iguais e ajudassem na orquestra”.

Foliã apaixonada, Carina afirma que o casamento foi alegremente emocionante. “Foi a melhor decisão que tomei na minha vida pela ocasião especial que foi para mim e Ricardo e pela maneira simples e intensa como aconteceu”, diz, sensibilizada. “Adoro Carnaval, meus pais são foliões desde sempre. Agradeço por ter tido essa experiência diferente e única. Não posso explicar a sensação quando entrei dançando frevo com as músicas escolhidas por nós, cada uma tem um significado importante”, recorda-se a pernambucana.

Essa forte identificação dos noivos com o local da cerimônia é uma das características mais marcantes dessas bodas. “São celebrações mais emocionantes, fogem do protocolo, trazem muito da história e da identidade dos casais”, analisa Beatriz Braga, proprietária da Aurora Decor, empresa de decoração para eventos, que tem realizado muitas festas em lugares alternativos.

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O casamento de João e Luiza Limeira foi realizado na praia de Catuama e teve como altar um barco

O casamento da médica Luiza Gondra Limeira com o economista João Limeira ilustra bem essa ligação dos noivos com os lugares. Desde a infância eles frequentam a Barra de Catuama (Litoral Norte), onde suas famílias têm casas e todas elas possuem píer e barcos. “Ele é filho da melhor amiga da minha mãe. Os pais cresceram juntos. Nós nos considerávamos primos”, conta Luiza.

Todo esse envolvimento familiar e afetivo levou o casal a uma decisão inusitada: fazer a cerimônia na casa do pai do noivo, em Catuama, onde os convidados ficaram no gramado e o catamarã batizado de Cadelão serviu de altar. “O barco foi construído pelo meu sogro”, acrescenta Luiza. Com cerca de 350 convidados, o casamento foi realizado às 15h para dar tempo para as pessoas residentes no Recife chegarem ainda de dia.

Um amigo considerado praticamente irmão de João leu um poema que fez sobre Catuama e o que o balneário representava para os noivos. “Queríamos uma cerimônia que tivesse a ver com a gente e num local em que todos ficasse à vontade. Muitos convidados comentaram comigo que foi inesquecível, uma energia boa, todo mundo se emocionou”, salienta Luiza.

A VEZ DOS HOMENS

Outra característica desses casamentos não convencionais é a participação do noivo na organização da cerimônia. Tacio Sampaio Ulisses, por exemplo, é aficionado por motociclismo a ponto de ter uma oficina com várias motocicletas. Aos 60 anos, ele decidiu casar-se com Sandra, com quem vivia há 25 anos, mãe de seus três filhos. Tacio não teve dúvida que o melhor local para celebrar a os.

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Aficionado por motos, Tacio Ulisses casou-se com a mulher Sandra na sua oficina e as peças do local serviram de decoração

“Sandra gostou da ideia. Um amigo juiz nos casou. Foram 200 convidados e a festa foi num clima muito legal, menos formal, todos com roupas descontraídas”, conta Tacio. As peças da oficina fizeram parte da decoração. “Havia uma mesa com tampo de vidro e a base era um pneu. Uma bomba de gasolina decorou o banheiro”, relata Mariana Braga, sócia de Beatriz na empresa Aurora Décor.

O empresário André Turton foi outro noivo muito ativo na organização do casamento. Ele decidiu casar-se com a mulher Eduarda nos jardins do prédio onde viveu boa parte da vida com os pais no bairro de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes. “Sempre achei que ao casar em igreja e fazer uma festa grande perdia-se a intimidade que o casal quer ter com as pessoas que são importantes para ele. Eu e minha esposa queríamos algo mais intimista, mais próximo dos convidados”, justifica André.
O casamento teve cerca de 200 pessoas, o irmão de André fez a celebração, em seguida o avó disse algumas palavras. “Foi super aconchegante. A gente escolheu não fazer aquela sessão de fotos pousadas e tradicionais, mas tiradas de forma descontraída. O casamento no contexto geral foi melhor do que eu imaginava”, analisa.

Ter mais controle da organização do casamento, como fez André, é outro ponto em comum entre os noivos que decidem casar em locais não convencionais. Mariana Braga afirma que a internet tem influenciado esse comportamento. “Muitos nos pedem uma decoração semelhante à que viram no Pinterest”, ressalta, referindo-se à rede social de compartilhamento de fotos que tem o objetivo de inspirar ideias.

BEatriz e Mariana
Beatriz e Mariana se especializaram em decorar casamentos em locais alternativos

De olho neste filão, Mariana e Beatriz abriram o Jardim Aurora, uma casa toda ajardinada no bairro de Santo Amaro para quem deseja realizar casamentos no Recife. Também lançaram o site decoraria.com.br, que faz e-commerce de artigos para decoração de eventos. “Alugamos e vendemos produtos pontuais para pessoas que querem montar sua própria festa”, explica Beatriz, detalhando que, os noivos que se casam em locais alternativos são, em geral, jovens, “descolados” e financiam seu próprio casamento. Por isso, os familiares interferem menos, sem poder impor uma cerimônia religiosa. A ausência dos padres também acontece porque, pelo rito católico, eles não podem celebrar as bodas fora da igreja.

Carina – a noiva do Carnaval – disse que sua mãe chegou a perguntar se ela não gostaria de um casamento religioso. “Acredito em Deus, mas não participo de religiões. Para mim nunca foi importante casar num templo, mas sim com a bênção do amor da família e dos amigos. Claro que nossos pais querem que você case na igreja, mas no final das contas eles viram que o casamento foi maravilhoso”, garante Carina.

Por Cláudia Santos

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