"Nossas Iniciativas De Sustentabilidade Não Começaram Com Essas Três Letrinhas – ESG. Está Na Nossa Ancestralidade" - Revista Algomais - A Revista De Pernambuco
"Nossas iniciativas de sustentabilidade não começaram com essas três letrinhas – ESG. Está na nossa ancestralidade"

Revista Algomais

As ações de ESG do Grupo Cornélio Brennand são abordadas por sua diretora de Pessoas & Sustentabilidade, Catharina Machado. Ela explica as iniciativas inovadoras na área de governança, os avanços e metas no uso de energias renováveis, além dos projetos sociais que incentivam a educação e auxiliam organizações a obterem recursos financeiros.

Respeito à cultura ancestral da empresa. Conexão com as tendências e o futuro dos negócios. Cuidado socioambiental. Esse tem sido o segredo da trajetória de sucesso do GCB (Grupo Cornélio Brennand) nestes 108 anos de atuação no mercado.  O que começou como uma fábrica de cerâmica, expandiu-se em três grandes operações: Vivix, fábrica de vidros planos; Atiaia Renováveis, uma das pioneiras na geração de energia limpa no Brasil, e Iron House, empresa especializada na concepção, planejamento e gestão imobiliária, a partir de projetos urbanísticos que valorizam o território, o meio ambiente e a convivência humana.

Essa preocupação do GCB com o social e a preservação ambiental, segundo Catharina Machado Ferreira, diretora de Pessoas & Sustentabilidade do grupo, esteve presente desde os seus fundadores. Ao longo do tempo, foi tomando uma dimensão maior. O que pode ser constatado no Relatório de Sustentabilidade que o GCB acaba de divulgar. O documento revela também os cuidados e as inovações destinadas à governança, de modo a manter os valores, como empresa familiar, afinados com uma gestão profissional. Na entrevista a seguir, concedida a Cláudia Santos, a diretora de Pessoas & Sustentabilidade detalha as ações de ESG (relativas a meio ambiente, ao social e à governança) do Grupo Cornélio Brennand.

No relatório de sustentabilidade, vocês prestam homenagem a Cornélio Coimbra de Almeida Brennand. Qual a importância do empresário para o grupo?

Ele faleceu este ano. Por isso, a homenagem. Nossas iniciativas de sustentabilidade não começaram com essas três letrinhas que vieram para o mercado (ESG). É algo que está na nossa ancestralidade, desde sempre, e Cornélio Coimbra teve influência fundamental na construção do nosso legado. Tinha visão empreendedora, coragem, ética e foco no longo prazo. O legado deixado por ele está muito forte na nossa cultura e decisões empresariais. Reconhecemos essa força da ancestralidade, da cultura, do que ele acreditava, como guia para a construção do nosso futuro. 

A família Brennand está na quinta geração, e a nova geração mantém viva a missão de seu Cornélio, que é gerar valor econômico e social nos territórios onde atuamos. Nossas decisões equilibram-se no crescimento econômico com responsabilidade socioambiental. Talvez seja esse legado nosso maior aprendizado: o cuidado com a comunidade do nosso entorno, o equilíbrio econômico, o desenvolvimento dos nossos fornecedores, a integridade na relação com os nossos colaboradores. Tudo isso está ancorado no papel social da nossa governança.

Nesse quesito governança, o grupo conta com um programa de formação de acionista. Como ele funciona?

Chama-se Proa (Programa de Desenvolvimento dos Acionistas) e visa desenvolver os talentos de cada um dos familiares da melhor forma. Esse processo trabalha fortemente o dom de cada um porque alguns integrantes da família têm mais afinidade e conseguem contribuir melhor, por exemplo, com ações relacionadas ao legado familiar. Já outros podem contribuir mais para os negócios. 

O programa existe para manter a família próxima do GBC, do entendimento do que é o grupo e do seu desenvolvimento. A ideia é obter o melhor de cada um e não encaixar todos no mesmo padrão. Em 2024, como consta no relatório, foi lançado o Proinha, que é esse mesmo programa mas voltado para os membros da família de até 15 anos. 

O grupo também possui Comitês de Legado e de Formação e ainda conta com a Academia Governança. A senhora poderia explicar cada uma dessas iniciativas?

A Academia de Governança é como se fosse a trilha de desenvolvimento, são os programas formais para desenvolver os membros da família e os executivos sêniores da organização, isto é, os presidentes e os diretores. São abordados diversos assuntos, como compliance, o impacto da inteligência artificial dos negócios etc. O Comitê de Formação é direcionado aos membros da família que estruturam as raias de desenvolvimento que o Proa vai oferecer, ou seja, quais os temas que os familiares terão que conhecer.

No Comitê de Formação entram os processos dos critérios seletivos. Isto porque, para cada um dos fóruns de governança, há uma seleção, quase como um programa seletivo que uma pessoa participa quando vai trabalhar em alguma empresa, na qual ela tem que cumprir determinados requisitos. O Comitê de Legado funciona para não deixar a história da empresa morrer. É muito importante o grupo contar com membros da família de diversas gerações, inclusive dos mais novos, com esse papel, para que a empresa não se distancie da sua história e dos valores dos nossos fundadores. Temos que honrar nossa história, sem perder nossos valores, nossas raízes, mas olhando para o desenvolvimento, para o futuro, para o mercado, para as tendências.

E é importante ressaltar que se cada novo membro da família quiser gerir o grupo do seu jeito, acaba fragilizando a organização por não ter governança, nem esse arcabouço de diretrizes, de acompanhamentos que fazem uma empresa que tem mais de 100 anos estar no mercado.  Inclusive, hoje na nossa estrutura organizacional, todas as posições de gestão, ou seja, diretoria e presidência, são ocupadas por executivos de mercado. Os membros da família integram as posições dos fóruns de governança que atualmente são ocupados por membros da terceira e da quarta geração. 

Estamos num contexto de preocupação com a preservação ambiental. Como o grupo atua nesse sentido?

A questão ambiental está consolidada na nossa cultura de sustentabilidade e, a cada relatório, isso vai amadurecendo. Ano passado, de forma transversal para todo o grupo, tivemos um plano de estratégia climática e o aperfeiçoamento dos inventários de emissão de gases de efeito estufa. Então, 100% das operações do grupo realizam esse inventário. 

Na Vivix, em 2024, fizemos uma revisão do planejamento estratégico, incluindo um pilar climático que busca soluções de combustível mais limpo para nosso processo produtivo. Também aumentamos nossa circularidade, aproveitando mais os cacos de vidro no processo, substituindo parte da matéria-prima e, consequentemente, usando menos energia. 

Hoje, a Vivix roda com 100% de energia renovável. Toda energia que ela utiliza é gerada por uma usina fotovoltaica da Atiaia Renováveis, nossa empresa de geração de energia. Em 2024 ela recebeu a certificação I-REC para sete de suas usinas. Esse certificado internacional atesta que nossa energia é limpa e de fonte renovável. No ano passado, mais de 1.390 GW foram produzidos de energia limpa e renovável, seja pela fonte das pequenas centrais hidrelétricas seja por energia solar. Isso, injetado no sistema e com uma perda muito pequena, corresponde a evitar uma emissão de cerca de 780 mil toneladas de CO2. 

Fabrica da Vivix Goiana

Uma outra conquista da Atiaia, ano passado, foi a certificação Lixo Zero para 100% das usinas e escritórios. Isso significa que todo resíduo gerado tem destino certo. Na Várzea, onde fica a sede do grupo, e em outros pontos da cidade, temos o programa Vale Luz, em parceria com a Neoenergia, são pontos de coleta de resíduos recicláveis.  Ano passado, só no ponto de coleta da Várzea, arrecadamos 39 toneladas desses resíduos. 

Além das iniciativas ambientais, vocês vêm investindo em programas no âmbito socioeducacional? 

Em 2024, conseguimos aportar verba para 11 novos projetos nessa área. Foram R$ 1,6 milhões investidos. Mas esses projetos também foram capacitados para receber outros R$ 18 milhões. Ou seja, uma ação estruturada abre portas para que outras empresas possam direcionar verbas de lei de incentivo. Existem muitos empresários, muitas pessoas que querem ajudar, mas desconhecem por onde começar e receiam direcionar verba para um projeto que não sabem para onde esse dinheiro está sendo direcionado. 

Também ampliamos programas sociais. Por exemplo, expandimos nosso programa de educação, o Evoluir, nos territórios da Atiaia. Ele é voltado para escolas públicas e privadas, sempre nos territórios onde o grupo atua, como em Tacaimbó, onde estamos construindo uma usina fotovoltaica em parceria com uma escola particular. Nosso interesse é reduzir o déficit de aprendizagem, trabalhando matemática, português e desenvolvendo habilidades socioemocionais em crianças, adolescentes e jovens adultos. Temos unidades do programa Evoluir em Goiana, por exemplo, onde está sediada a Vivix. 

A mesma coisa acontece com o programa Cirandar, que ajuda projetos a estarem aptos para receber verbas incentivadas. Por exemplo, você tem um amigo que faz um trabalho belíssimo numa comunidade e ele quer angariar recursos. Nem sempre se tem o conhecimento sobre as leis de incentivo e as regras a serem cumpridas para receber recursos governamentais. Então, o Cirandar identifica que aquele projeto é bacana e ajuda aquela instituição a cumprir os critérios para receber os incentivos. Além de ajudar a obter a verba incentivada, o programa, em parceria com a Zoom Social (agência de captação de recursos), também auxilia esses projetos a fazerem a gestão do recurso que recebem. 

Também no ano passado, tivemos o Minha Empresa Mais ESG, um programa bem interessante em parceria com o Sebrae, com o qual ajudamos no desenvolvimento de fornecedores para que se capacitem e entendam o que precisam fazer para ter, nas suas empresas, práticas mais próximas ao ESG. Temos visto que algumas pequenas empresas perdem espaço de fornecimento para as grandes por não cumprirem certos requisitos que hoje passam a ser obrigatórios, mas eu acho que temos o papel de ajudar. 

Esses avanços relevantes que tivemos na agenda de 2024, olhando de forma transversal, mas também específica para cada negócio, mostram o quanto evoluímos por termos a governança bem estruturada. O reconhecimento vem de diversas formas. Ano passado, recebemos o selo WOB (Women on Board), que atesta que temos duas ou mais mulheres nos conselhos de administração das empresas. Isso garante o olhar da diversidade com a presença feminina. 

Outro reconhecimento foi o prêmio mundial da Siemens que a Vivix recebeu ano passado. A Siemens é uma grande fornecedora nossa e ganhamos na categoria inovação, concorrendo com multinacionais gigantes de todos os setores. 

A senhora disse que a Iron House é uma empresa de desenvolvimento urbano. Como é a atuação dela?

Parque do Paiva

Fundada em 2011, a Iron House atua em Pernambuco, Bahia e São Paulo e se diferencia pela criação de projetos urbanísticos que valorizam o território, o meio ambiente e a convivência humana. No Paiva, bairro planejado do litoral sul pernambucano, o negócio atua no desenvolvimento do destino, focando na centralidade do Parque do Paiva. A governança da área é realizada por meio da Associação Geral Reserva do Paiva que coordena ações de educação ambiental, gestão de resíduos, monitoramento de ninhos de tartarugas e campanhas de conscientização sobre a fauna marinha e terrestre.

No bairro da Várzea, a Iron House realiza o projeto No Nosso Quintal que, em 2024, recebeu exposições, feiras culturais, apresentações artísticas e oficinas formativas. A empresa vem transformando o espaço de uma antiga fábrica desativada em ponto de convivência dos moradores e visitantes do bairro. Em parceria com a Casa Zero 81, tivemos a primeira franquia social dessa organização, instalada na Várzea, que traz um programa de desenvolvimento para adultos, oferecendo cursos profissionalizantes. Não são exclusivos para os moradores do bairro. Foram cerca de 19 programas em 2024 para capacitação de mais de 400 pessoas. A ação ajuda na empregabilidade, na melhoria dos negócios dessas pessoas, fortalece o ecossistema local, amplia oportunidades e gera renda para a comunidade.

Mata da Varzea

No mesmo território, a empresa construiu uma rotatória para melhorar a mobilidade e firmou parceria com a Heineken para implantar a primeira microfloresta urbana do Recife. O projeto busca contribuir para a biodiversidade local, em sintonia com a vocação natural da região que abriga a Mata da Várzea, uma área de preservação superior a 600 hectares. A microfloresta tem 1.250 metros quadrados e fica dentro de uma área de propriedade da Iron House.

Com mil mudas de aproximadamente 60 espécies nativas da Mata Atlântica, a floresta apresentará alta densidade vegetal e oferecerá importantes serviços ambientais para a melhoria da qualidade de vida da população, como a redução da temperatura, o aumento da umidade do ar, a retenção da água das chuvas, a diminuição da poluição sonora, a filtragem de gases tóxicos e a mitigação da poluição, entre outros. É desenvolvido com a colaboração do paisagista Ricardo Cardim, responsável pela metodologia Floresta de Bolso.

Quais os planos futuros do grupo em relação ao ESG e, mais especificamente, sobre o crescimento dos negócios? 

Para cada um dos nossos negócios, há um plano estratégico e temos desafios relacionados a esses planos para 2025.  Nosso grupo é diversificado, atuamos em muitos setores: energia, indústria, urbanismo. Nesse sentido, articulamos para seguirmos alinhados à contemporaneidade. Em energia, o grupo tem planos de expansão de capacidade instalada para chegar até 1.7 GB, como é o caso da Atiaia, priorizando as nossas fontes limpas. Esse crescimento está integrado a todas as ações socioambientais estruturadas nas quais investimos. 

Olhando para a Vivix, seguimos investindo fortemente na eficiência energética, em inovação para o processo produtivo, e isso é importante para a questão da descarbonização, de investir na busca de energias mais limpas no processo produtivo. Por isso, precisamos aprofundar também nossas práticas de economia circular e implementar projetos dentro do nosso pilar de estratégia climática. 

Ainda sobre a Vivix, vale destacar o estudo do biometano, que é um dos combustíveis renováveis que oferece muito menos emissão de gases do efeito estufa. Então, ela já realizou esse estudo para substituir parte do que hoje é utilizado de gás no forno float, que fica ligado 24 horas. A projeção, na Vivix, para os próximos anos, é um crescimento anual de 4%. 

Também planejamos o fortalecimento dos nossos programas sociais como um todo, ampliação das nossas ações com a Casa Zero, reforçando parcerias para o desenvolvimento dos territórios, além de um compromisso muito forte no desenvolvimento do urbanismo sustentável, por meio da Iron House. Quando a gente fala da Iron House, a ideia é continuar com foco no urbanismo sustentável, integrando infraestrutura, meio-ambiente e inclusão social. 

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