Sócios da consultoria de gestão e governança, Carolina Holanda e Ricardo de Almeida contam a trajetória da empresa, que completa 35 anos, e explicam como foi criada sua metodologia, que antecipou temas do mundo corporativo contemporâneo. Com a premissa de que o desempenho de Pernambuco e de suas empresas são indissociáveis, também comentam os projetos voltados para a promoção do desenvolvimento do Estado.
Há 35 anos, os atuais sócios fundadores da TGI – Ricardo de Almeida, Francisco Cunha, Cármen Cardoso, Fátima Guimarães e Teresa Ribeiro – trabalhavam como funcionários em uma consultoria que decidiu transferir suas operações para o Rio de Janeiro. Eles, porém, optaram por permanecer em terras pernambucanas. Embora, à época, houvesse um ambiente de “baixo astral” em Pernambuco, os consultores tinham convicções de que o mercado local contava com empresas robustas e guardava latente um potencial de crescimento.
Junto com a decisão de não se mudarem para a Cidade Maravilhosa, veio também o proposito de fundar uma consultoria com proposta inovadora. Com formações distintas – no grupo há sociólogo, arquitetos, psicanalista e analista de sistemas –, os fundadores desenvolveram uma metodologia que se apoia na teoria psicanalítica e na sociologia, para entender os fenômenos organizacionais e promover mudanças, com foco em resultados. Um caminho que uniu ciência e a escuta dos clientes para criar soluções moldadas à realidade de cada empresa. O método de trabalho da TGI antecipou temas que só décadas depois ganhariam espaço no mundo corporativo, como a valorização de relações saudáveis, o papel do vínculo e o valor do conflito como motor de mudança.
A opção por Pernambuco que gerou a empresa, tornou-se uma marca do seu trabalho. A TGI consolidou-se como uma das vozes mais influentes na reflexão sobre o ambiente empresarial e o desenvolvimento de Pernambuco e do Recife. Os consultores partem da premissa de que o desempenho do Estado e de suas empresas são indissociáveis. Esse compromisso se manifesta em projetos de pesquisa e debate, como o Empresas & Empresários e, mais recentemente, o Pernambuco em Perspectiva, que propõe a formulação de um novo modelo de desenvolvimento para o Estado. Também está presente em iniciativas como a criação do INTG (Instituto da Gestão) e da revista Algomais.
Nesta entrevista a Cláudia Santos, o sócio-fundador da TGI, Ricardo de Almeida, e Carolina Holanda – que entrou na consultoria como estagiária e se tornou sócia – contam a trajetória da empresa, explicam a inovação da sua metodologia e de como ela se mantém atual diante dos desafios empresariais contemporâneos. Também afirmam que a TGI se mantém fiel ao seu negócio central: prestar consultoria em gestão e governança para lidar com "gente, resultado e mudanças" e contribuir para o desenvolvimento sustentável de Pernambuco e do Recife.

Como a TGI foi criada?
Ricardo – Cármen (Cardoso), Fátima (Guimarães), Teresa (Ribeiro), Chico (Francisco Cunha) e eu – sócios fundadores da TGI – trabalhávamos na consultoria Macroplan, que se transferiu para o Rio de Janeiro. Mas decidimos não ir. Sabíamos que nosso lugar era o mercado de Pernambuco, então deixamos de ser técnicos dessa empresa e empreendemos a TGI.
Somos de áreas distintas, e essa diversidade foi muito importante para construir a metodologia da TGI. Eu, com minha formação em sociologia, Chico e Fátima em arquitetura, Cármen em psicanálise e Teresa em análise de sistemas. Foi nessa teia de saberes que desenvolvemos uma metodologia muito importante e que nos distingue hoje nesse mercado.
Quais os diferenciais e as vantagens da metodologia da TGI para o cliente?
Carolina – A base da metodologia foi a percepção sobre os processos de gestão, governança e desenvolvimento de equipes. Foram realizados estudos sistemáticos em que a base da metodologia era a psicanálise, a psicossociologia para entender como aconteciam esses processos, como construir um novo entendimento sobre os fenômenos organizacionais.
Ricardo – Nós, os fundadores, nos reuníamos semanalmente para realizar esses estudos sistemáticos, a partir da teoria psicológica (psicanálise principalmente) e da sociologia. Também trouxemos autores, como o francês Eugène Enriquez (professor emérito de Sociologia da Université de Paris 7), que passou uma semana aqui fazendo seminários, além de outros especialistas. Nosso intuito era saber como nosso trabalho pudesse ser efetivo, ter robustez consistente e não uma simples moda que não se sustenta.
Carolina – Uma de nossas preocupações é o cliente ter resultado com nosso trabalho. Hoje, fala-se do emocional dentro das empresas, em como construir vínculos e relações saudáveis. Mas essas questões já pensávamos há 35 anos. É um dos nossos principais diferenciais: a escuta da singularidade de cada empresa, a forma como ela funciona. É um trabalho que não cabe em pacotes prontos, porque cada empresa, cada empresário, cada gestor, tem sua singularidade. Outro entendimento original nosso é o de que precisamos construir vínculos sólidos de confiança com o cliente.
Ricardo – Não trabalhamos apenas para o cliente nem pelo cliente, trabalhamos com o cliente. É uma parceria, juntamos nossa competência em gestão e governança à competência do cliente no seu negócio. Somos especialistas em método, e o cliente especialista no negócio dele.
Carolina – Na nossa metodologia, sabemos que não há ausência de conflito nas empresas. O conflito é, pelo contrário, matéria-prima do nosso trabalho, faz parte da dinâmica da organização e precisamos entender como administrar tais conflitos para induzir um ambiente mais saudável e passível de inovação. A partir do conflito, pode surgir algo novo.

Como você entrou na TGI, Carolina?
Carolina – Entrei na TGI como estagiária no ano 2000. Estudava psicologia, sempre tive interesse na psicanálise e soube que as inscrições para o programa de estágio estavam abertas. Eu me interessei pela TGI porque sabia que a metodologia tinha a psicanálise como base. O programa de estágio era bem robusto, com muitos candidatos e várias etapas.
Ricardo – Nosso programa de estágio era muito desejado. Era um processo seletivo rigoroso. Os estagiários começavam um processo de formação desde que entravam. Isso é outra diferença da TGI. Temos uma equipe que foi desenvolvida a partir dessa metodologia e, desde o início, incorporava a prática de estudar. Sempre acreditamos numa escolha mútua entre a TGI e o estagiário. Depois do estágio, ele passa a ser trainee e em seguida entra na sociedade. Atualmente temos 12 sócios, dos quais 7 foram estagiários, com exceção de Carla Miranda, que trabalhava conosco na outra consultoria.

Carolina – Fazemos uma capacitação e a seleção já começa com esse intensivo de conhecimento. Quem passa para a próxima etapa continua o processo de formação da metodologia, de saber quais são nossos pressupostos, porque ser consultor não é algo transitório. Mas, sim, uma escolha de vida. É importante esse sentimento de pertencimento e cá estou eu há 25 anos, estagiária, trainee e depois sócia.
Outra característica da TGI é não se ater apenas ao atendimento a clientes mas, também, estudar Pernambuco e o Recife. O que levou vocês a se interessarem pelo desenvolvimento do Estado?
Ricardo – Compreendemos que são destinos vinculados. Não é possível haver empresas competitivas num ambiente estagnado. Também não é possível um estado dinâmico, desenvolvido, com empresas atrasadas. Desde o início, estudamos os padrões de gestão e governança das empresas e os padrões de desenvolvimento de Pernambuco. Nossa finalidade foi conhecer para intervir, influenciar no ambiente empresarial e no desenvolvimento do Estado e, depois, do Recife, também, por intermédio do projeto O Recife que Precisamos, em parceria com o Observatório do Recife. Nenhuma organização está imune ao ambiente, e nosso ambiente imediato é Pernambuco, por isso, nosso slogan é: sintonia com o mundo, crença responsável no Brasil, compromisso radical com Pernambuco e com as empresas aqui instaladas.
Quando começamos na TGI, havia um ambiente de baixo astral com o qual não compactuávamos. Tínhamos clientes que investiam muito em competitividade, apesar da instabilidade do País, que enfrentava alta inflação. Sem ufanismo, fizemos uma reflexão qualificada sobre o ambiente de negócios em Pernambuco, por meio da pesquisa Empresas & Empresários.

O objetivo era compreender o que pensam, como agem e quais os padrões de gestão e governança dos empresários que fazem diferença no mercado pernambucano, independente do seu segmento. Os critérios para participar dessa amostra intencional é que fossem empresários inovadores, tivessem características associativas e visão compreensiva do desenvolvimento do Estado. Queríamos conhecer, mobilizar e qualificar o debate do padrão de gestão e do desenvolvimento de Pernambuco.
Essa discussão teve uma participação importantíssima dos parceiros da imprensa. A primeira edição de Empresas & Empresários foi feita em parceria com a revista Exame, que tinha uma sucursal no Estado. A partir da segunda edição, fizemos parceria com o Sistema Jornal do Commercio de Comunicação. No final das pesquisas, fazíamos um evento e publicávamos os resultados. Publicamos três livros. Isso evoluiu, mas após 12 edições de Empresas & Empresários, veio a pandemia.
Como ocorreram as discussões na pandemia?
Ricardo – Lançamos o projeto Pernambuco Além da Crise, agora em parceria com a Algomais. Realizamos discussões online com empresários, especialistas de várias áreas e integrantes do poder público sobre como superar o momento pandêmico. Eles também escreveram artigos para e-books que publicamos. Após a pandemia, realizamos, em parceria com a Rede Gestão e a Algomais, o projeto Pernambuco em Perspectiva. Partimos da hipótese de que o modelo de desenvolvimento do Estado, iniciado em 1950 sob a liderança do Padre Lebret, foi exitoso, mas se esgotou. Esse modelo não abarca o atual contexto de mudanças climáticas, a crise fiscal estrutural do Brasil, a disrupção digital avassaladora e a polarização social.
Tudo isso num contexto que evoluiu para questões muito desafiantes. Por isso, é preciso redesenhar o modelo de desenvolvimento para o Estado. Esse redesenho é o que o projeto Pernambuco em Perspectiva está se propondo a fazer em parceria com algumas das melhores cabeças pensantes de Pernambuco. No final, também será elaborado um livro com as conclusões.
Falando em livro, a TGI também conta com a Editora INTG. Por que vocês decidiram publicar as obras?
Ricardo – A instituição INTG (Instituto da Gestão) surgiu com a necessidade de ser uma organização mais aberta para que outras pessoas, além dos sócios da TGI, pudessem participar. Realizamos, no INTG, nossos estudos, pesquisas, publicações, capacitações. Na TGI, somos exclusivamente consultores e, no INTG, pesquisadores e editores.
Criamos a Editora INTG como uma forma de sistematizar nossas reflexões e preservar nossa propriedade intelectual por meio da publicação de livros. São mais de 30 títulos publicados pela editora, além da Algomais, que surgiu em 2006. Num primeiro momento, a revista foi um projeto desenvolvido com Luciano Moura e Sérgio Moury Fernandes. Víamos um grande potencial da revista como veículo que também fosse um canal para refletir sobre Pernambuco. A revista tem sido, desde o seu início, parceira em todas as nossas iniciativas.
Como surgiu o evento Agenda TGI e quais seus objetivos?

Ricardo – Nasceu da necessidade de nos confraternizar com os clientes, aproveitando a confraternização de fim de ano para além da festa. Fazemos um balanço do ano que está terminando e projeções para o seguinte. O formato tem agradado. É o evento empresarial de final de ano mais aguardado do Estado, frequentado por 700 pessoas, entre empresários e formadores de opinião.
Carolina – Eu coordeno a Agenda TGI há algum tempo. Estamos na 27ª edição. É um evento que preparamos com muito cuidado, porque entendemos que é um momento em que os empresários acessam esse balanço anual, as perspectivas e tendências para o próximo ano. Também é um momento de relacionamento, de encontrar outros empresários e executivos.
Qual o propósito do projeto social Ponto Cidadão?
Carolina – Se o nosso foco é desenvolver o Estado, precisamos também nos engajar em movimentos para fazer a diferença na realidade local. Sou diretora pedagógica do Ponto Cidadão, projeto sediado em Igarassu que apoia jovens em situação de vulnerabilidade econômica e social na preparação para o primeiro trabalho. Nosso alvo são jovens que saem da escola ou estão no início da faculdade. O intuito é prepará-los para assumir um cargo de auxiliar administrativo. É a porta de entrada para a empresa e vem surtindo resultados consistentes com mais de 85% de empregabilidade.

Temos um processo de follow-up para saber qual a avaliação dos gestores em relação aos jovens, e as empresas sempre voltam a solicitar novos candidatos. Apesar de não terem experiência profissional, esses jovens têm um diferencial maior em relação aos que não participaram do Ponto Cidadão porque temos um processo de seleção. E os jovens buscam se inscrever, pois enxergam resultados. Nossos dois gerentes e muitas pessoas da nossa equipe vieram do projeto.
Com as novas tecnologias, o que mudou na área de consultoria em gestão e governança nesses 35 anos? Quais as tendências?
Ricardo – Nesses 35 anos, mudaram os perfis, as expectativas das pessoas. Aconteceram mudanças geracionais, como a geração Z, e as mudanças são mais aceleradas e mais disruptivas em função das novas tecnologias. Mas todas as empresas antes, agora e no futuro são feitas por gente, precisam produzir resultados e vivem em ambientes de mudança. Então, nosso negócio é prestar consultoria em gestão e governança para dar conta de gente, resultado e mudanças.

Carolina – O contexto sempre muda, a geração atual é diferente das anteriores, porque cresceu de modo diferente. Agora está entrando, no mercado de trabalho, a primeira geração de nativos digitais. Isso tem implicações na forma de pensar e desejar um futuro, de se colocarem em relação aos projetos profissionais. Mas as empresas continuam precisando lidar com pessoas, passar por mudanças, dar resultados, considerando o contexto em que estão inseridas. Questões que sempre foram importantes para a TGI, levando em consideração as singularidades, tendências e conjuntura do mercado. E, agora, tudo está mais rápido com a tecnologia.
As questões psicossociais, por exemplo, sempre foram consideradas pela TGI, e agora, haverá implantação da norma NR1 (pelo Ministério do Trabalho), em que as empresas precisam obrigatoriamente ter ações que estamos defendendo há 35 anos: cuidado com o vínculo, criar um ambiente saudável de trabalho. Essa lei vai entrar em vigor em 2026 e as empresas precisarão assegurar ambientes de trabalho saudáveis, ações concretas para minimizar riscos psicossociais dos empregados, como adoecimentos psíquicos, depressão, burnout, etc.
Há 35 anos, ressaltamos a importância de vínculos saudáveis com as pessoas e que os líderes precisam cuidar de suas equipes. Cuidar significa respeitar, pensar em ações de desenvolvimento, reconhecimento, engajamento, ter um clima saudável para haver uma boa produção.

Quais as perspectivas para os próximos 35 anos da TGI?
Ricardo – Nós, fundadores, tivemos o cuidado de preparar a sucessão e renovação da equipe. Temos um programa permanente de inclusão de novos talentos. É um processo permanente de atualização e engajamento de novos quadros. Vale ressaltar que não queremos empregados na área técnica. Nossos empregados são todos na área administrativa e financeira.
Acreditamos que, para lidar com empreendedores, as pessoas também devem ser empreendedoras, empreenderem sua carreira e a empresa que teremos à frente. A TGI sempre teve preocupação com os empregados. Sabemos a importância de cada um. Nosso lema é “casa de ferreiro, espeto de ferro”, ou seja, praticamos aquilo que orientamos aos nossos clientes. Recomendamos programas de participação de resultados, nossa prática de remuneração é moderna, há 35 anos temos remuneração variável, programa de incentivo, de desenvolvimento.
Carolina – Temos canal de comunicação aberto, reuniões sistemáticas para trabalhar com toda equipe, promovendo integração, engajamento, um trabalho de acompanhamento, pesquisa de clima. O que propomos para o cliente, experimentamos na TGI. Nos próximos 35 anos, vamos continuar acompanhando as tendências, engajados com Pernambuco e o Recife e alinhados com a formação da equipe. Essa questão da formação sólida, de quem vai estar no comando futuramente, continua por intermédio do processo de renovação, formação e desenvolvimento da equipe. Nosso planejamento estratégico a longo prazo é continuar acreditando em Pernambuco e acreditando que essa nossa forma de trabalhar é adequada.

