*Por Rafael Dantas
Jorge Melguizo, ex-secretário de Cultura Cidadã e Desenvolvimento Social de Medellín, foi o palestrante da abertura do I Encontro Brasileiro de Urbanismo Social. Com um auditório lotado no Museu Cais do Sertão, ele apresentou 10 aprendizagens, 10 propostas e 10 estratégias sobre como virar o jogo da violência urbana, a partir das experiências vividas no seu município, que já foi a mais violenta do mundo. A conexão entre o Recife e a cidade colombiana já é antiga, desde a concepção do primeiro Compaz na capital pernambucana, mas o evento desta semana reúne também outros especialistas que são referências nacionais e internacionais na temática. Nesta semana, pela primeira vez está na cidade o ex-prefeito Sergio Farjado, que foi o pioneiro entre os gestores de Medellín a reverter a lógica de enfrentamento a violência extrema vivida na região.
Melguizo abriu o evento explicando que na expressão urbanismo social, o mais relevante não é o urbanismo, mas o social. Em vários momentos da palestra, o especialista ressaltou que o grande desafio na experiência colombiana foi a construção da sociedade e não das estruturas que tornaram Medellín tão famosa internacionalmente. “Nosso projeto é de construção de uma sociedade, não só a construção de uma cidade. As obras físicas são secundárias do urbanismo, que é principalmente um projeto social, educativo e cultural”.
Crescido na Comuna 13, que era o território mais violento de Medellín, quando a cidade era a mais violenta do mundo, Melguizo destacou que a reversão de abordagem e de prioridade da gestão pública é acima de tudo uma decisão política. Seu bairro, que era alvo de operações militares, passou a ser alvo de atenção do poder público, de serviços e de novas infraestruturas, com foco principal na primeira infância. “A primeira aprendizagem é que é necessária vontade política. Ou melhor, a vontade dos políticos que nos governam.”
Ele destacou que a vontade política deve se converter em orçamento. Além de dedicar uma parcela maior do orçamento às regiões mais pobres, violentas e de maior densidade habitacional, Melguizo falou uma mensagem muito repetida por Murilo Cavalcanti, secretário de segurança cidadã do Recife, ao defender projetos de alta qualidade para as regiões mais pobres: “A qualidade deve ser uma condição suprema em todos os projetos físicos e sociais”. A preocupação em dedicar receitas para manutenção dos equipamentos e serviços foi outro alerta dado pelo especialista.
Numa aula cheia de testemunhos de transformação do que aconteceu em Medellín e do que ele já viu na experiência recifense, Melguizo destacou ainda a necessidade de promover experiências de transformação urbana, agir de maneira simultânea na cidade, ouvir de forma intensa a comunidade, valorizando o que já existe e as capacidades no território, e ter foco na infância e adolescência. Foram várias as lições e desafios para o Recife, que tem como horizonte simbólico o ano de 2037, quando completará 500 anos, e para os participantes de diversas cidades do País presentes no evento. O I Encontro de Urbanismo Social acontece até o dia 12, com palestras, oficinas e visitas. A edição da semana da Algomais tratará sobre as experiências e os desafios pernambucanos na perspectiva do urbanismo social.
*Rafael Dantas é jornalista, especialista em gestão pública, mestre em extensão rural e desenvolvimento local e doutorando em comunicação (rafael@algomais.com | rafaeldantas.jornalista@gmail.com)