“Novos ciclos de investimentos com grandes empresas serão divulgados em breve”

André Teixeira Filho, presidente da Adepe, explica as ações da agência para desenvolver o Estado, como os incentivos aos arranjos produtivos locais, fala dos gargalos na infraestrutura logística e no abastecimento hídrico, e afirma estar otimista com a perspectiva de aportes de players industriais em Pernambuco.

Passado o imbróglio mais tenso da Reforma Tributária, em especial nas questões relativas aos incentivos fiscais, o presidente da Adepe (Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco) André Teixeira Filho está otimista com a chegada de novos investimentos ao Estado. Ele reconhece que existem gargalos de infraestrutura porém afirma que já estão sendo enfrentados pelo governo, como a condição das estradas. “A governadora vem anunciando rodovias que estão sendo revitalizadas ou duplicadas, como a BR-232 e a BR-104”, ressalta.

Natural de Caruaru, onde foi secretário de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Economia Criativa, ele também conhece de perto os problemas de abastecimento de água em Pernambuco. Uma situação corroborada, segundo ele, pelas dificuldades financeiras da Compesa. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ele fala da perspectiva de reestruturar a empresa com um empréstimo de R$ 1,1 bilhão (já aprovado pelo Senado) e da possibilidade de uma parceria público-privada. Também informa sobre as ações da agência para incentivar os arranjos produtivos locais e dos planos de estimular o audiovisual no Estado.

Quais são os planos da sua gestão à frente da Adepe e como as mudanças na Reforma Tributária impactaram o trabalho da agência que atua com incentivos fiscais para atrair investimentos?

Um dos grandes pontos da nossa gestão é a atração de investimentos. Minha gestão iniciou em março de 2023, no acaloramento da Reforma Tributária, que impacta na chegada de novas indústrias e de ciclos de investimentos. Ou seja, um cenário de insegurança no Brasil em que muitas empresas não conseguem investir sem saber o que vai acontecer. Isso dificulta a tomada de decisão.

Ainda assim, conseguimos fechar novas atrações de investi mento das empresas Solar Coca-Cola e Ball. Somando as duas, temos quase R$ 700 milhões de novos investimentos. Também teremos um novo ciclo de investimentos da Stellantis, com R$ 13 bilhões. A atração de investimentos é um processo capitaneado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico.

Quando houve uma decisão em torno da Reforma Tributária, conseguimos destravar algumas negociações, que já estão em curso, com grandes fábricas. Isso vem sendo possível porque a governadora do Estado Raquel Lyra brigou pela reforma e pelo novo ciclo de incentivo fiscal das empresas automotivas que saíram de Pernambuco. Depois de tudo isso, eu vejo novos ciclos de investimentos com grandes empresas que serão divulgados em breve.

A logística e a infraestrutura são gargalos na atração de investimentos. O que vem sendo feito, neste sentido?

Para haver investimentos, é preciso ter estradas boas e uma boa logística. A governadora vem anunciando rodovias que es tão sendo revitalizadas ou duplicadas, como a BR-232 e a BR-104. Estamos fazendo investimento em pouco mais de R$ 2 bilhões para melhorar as estradas e trazer novas indústrias, pois sem es trada não existe logística.

E, quando falamos da PE-60, falamos também da Solar que está sediada em Suape e se comprometeu a investir, sabendo que a gente vai fazer um grande investimento entre R$ 60 e R$ 80 mi lhões na estrada. Recentemente conseguimos, junto ao Governo Federal, mais de R$ 100 milhões para melhorar a dragagem inter na do Porto de Suape e conseguir receber navios maiores. Isso vai facilitar que novas rotas cheguem aqui. Eu estou extremamente animado para os próximos anos no Estado.

Além das obras de infraestrutura feitas pelo governo para viabilizar melhorias logísticas, a própria Adepe realiza obras para apoiar a implantação de empreendimentos. A agência conduz a aplicação de R$ 52 milhões em obras de requalificação de distritos industriais, mercados públicos e centros comerciais em 13 cidades com o objetivo de proporcionar infraestrutura adequada para operação de empreendimentos em todo Estado. Entre os municípios beneficiados estão Exu, Vitória de Santo Antão, Escada, Canhotinho, Pesqueira, São Bento do Una, Lagoa Grande, Abreu e Lima, Caruaru e Taquaritinga do Norte.

Outro fator de impacto na infraestrutura é o abastecimento de água. Como está essa questão, principalmente no interior?

A situação da Compesa é que (salvo engano, na ordem de grandeza) a governadora já teve que colocar do caixa do Estado de R$ 300 a R$ 400 milhões só para manutenção da empresa. Não é investimento. Estamos fazendo uma reestruturação e, agora, para investimento estamos fazendo um empréstimo de R$ 1,1 bilhões para que a Compesa consiga prometer e entregar muita coisa que estava no papel há décadas. É o caso da Adutora do Agreste.

A gente conseguiu também muita coisa com pequenos investimentos. Tanto a governadora quanto eu somos do Agreste de Pernambuco que é a região que tem mais gente e menos água no Brasil, nascemos com falta de água. Então, uma das cinco principais propostas da governadora é levar água para o Estado como um todo, começando com água encanada nas casas das pessoas. Por isso está se pensando o que fazer com a Compesa daqui para frente, ela tem que ser autossustentável e tem que voltar a fazer investimento em Pernambuco.

Qual seria esse futuro? Está em vista a privatização da Compesa, como vem acontecendo na Sabesp?

Não. Privatização a governadora já disse que não faz, mas ela está aberta a parcerias público-privadas. Uma concessão é uma parceria e, com ela, abre-se um novo ciclo de investimento. Então a gente está organizando a casa para que a conta seja de investimento e não de manutenção. O pagamento da dívida passada é obrigação do Estado, mas investimentos futuros podem ser feitos por meio de uma parceria com o setor privado.

Em relação ao Polo de Confecções, que apesar de sua pujança, enfrenta ainda dois grandes gargalos: a informalidade e o uso de práticas que danificam o meio ambiente. Como a Adepe tem atuado nessas duas áreas?

A gente vem trabalhando primeiro com capacitação e qualificação do Polo de Confecções. Rodamos agora uma qualificação para ajudá-los a exportar. Ou seja, fazer com que, de fato, o polo comece a vender para o mundo como um todo.

Trabalhamos também para fazer com que o Estado compre do Polo de Confecção. Está tramitando na Assembleia Legislativa um projeto de lei que garante que Pernambuco possa comprar do seu polo. Lógico que por meio de um credenciamento público, para poder ajudar o pequeno e o médio como prioridade. São demandas como fardamento escolar, que é uma coisa gigante, são mais de mil escolas mas, também, fardamento de polícia, médico etc. São produtos que, ao comprar, fazemos uma licitação e, às vezes, ganha uma empresa de São Paulo, do Rio Grande do Sul, de fora do País.

Esse dinheiro não fica dentro do nosso Estado e temos o segundo maior Polo de Confecção do Brasil, perdemos apenas para São Paulo. Precisamos dar valor ao que temos porque vamos fazer com que seja uma logística de entrega mais barata e vamos garantir que esse dinheiro fique com o pequeno e médio confeccionista aqui de Pernambuco.

A questão da qualificação de mão de obra é sentida em vários setores e, ao mesmo tempo, há uma interiorização das universidades. Como estão esses dois movimentos?

Fazemos uma qualificação muito mais empreendedora das empresas junto com a Secretaria de Trabalho e Empreendedorismo. Como a Adepe fica responsável pelos Arranjos Produtivos Locais, por exemplo, estamos atentos para fazer qualificação no Polo de Confecção, na bacia leiteira, na parte de fruticultura, ovino, caprino, piscicultura e assim por diante. Também fazemos parceria com a Secretaria de Ciência e Tecnologia, responsável pela UPE.

O senhor mencionou os APLs. Qual é a importância desses arranjos produtivos, já que nem todo município consegue atrair grandes investimentos?

Temos dificuldades de atrair grandes indústrias para longe da capital e do Porto de Suape. Por isso, as estratégias para a região metropolitana e para o interior não devem ser iguais. O setor gesseiro, a bacia leiteira, a fruticultura, por exemplo, são polos muito mais importantes do que grandes indústrias, sem diminuir qualquer indústria do mundo que chegue naquelas regiões. Se chegar uma indústria que vai empregar mil a duas mil pessoas em Araripina ou Petrolina, nunca vai ser maior do que o Polo Gesseiro do Araripe, nunca vai ser maior do que o Polo de Fruticultura.

Se já existe algo grande, em que a região é qualificada, por que não potencializar? Estamos fazendo esse trabalho de qualificação nos APLs, porque esse dinheiro, quando é potencializado, tem retorno em empregos diretos, resultando em crescimento rápido da cidade e da região. Fazemos o trabalho de médio e longo prazo, que é a atração de investimento, mas a gente consegue fazer programas que vão poder potencializar todas as 12 macrorregiões com o que elas já são boas de fazer. E o que vou fazer agora é levar a tecnologia, a inteligência, para que eles consigam vender mais para ter uma lucratividade cada vez melhor.

Em relação ao desenvolvimento do Sertão, além da questão da água, alguns analistas afirmam que é preciso atividades ligadas à indústria e tecnologia, além de novas formas de agricultura. Como o senhor vê essa análise?

É o que a gente faz, por exemplo, por meio de programas de melhoramento genético dos caprinos. Ou seja, por meio de parcerias e investimentos, fazemos com que os rebanhos possam crescer e os animais da região possam ter mais qualidade e maior valor agregado. E assim a gente faz também com a fruticultura.

Outro setor que vocês trabalham é a economia criativa, que foi muito impactada durante a pandemia. O que tem sido feito nessa área?

Começamos a desmistificar a visão da economia criativa somente como cultura. Ela é cultura mas, também, deve ser trabalhada como uma empresa, como desenvolvimento econômico do Estado. A Fenearte, por exemplo, que a Adepe realiza há 24 anos, movimenta, nos dias da exposição, mais de R$ 50 milhões que vão direto para o bolso do artesão. Nós facilitamos o trabalho de venda do artesão que, nem sempre, é um grande vendedor ou um grande empresário. Melhoramos as lojas para eles consigam vender diretamente em grandes espaços, como o Centro de Artesanato, no Marco Zero.

Também trabalhamos em novos espaços de venda e na qualificação desse profissional. É um trabalho nosso abrir novos mercados para eles, levá-los para novos públicos fora de Pernambuco e até do Brasil. Eu acho que esse é um papel importante da Adepe, que é fomentar o artesão pernambucano para que consiga ter novos espaços, vender mais e melhor a partir do nosso trabalho. Além do artesanato, começamos algumas iniciativas no audiovisual por meio de grandes parcerias, entre elas, o Cine Pernambuco (Festival Cine PE). Esse setor vai ser o próximo que a gente vai abraçar.

Ano passado, vocês inovaram ao levar a Fenearte para outros espaços além do Centro de Convenções. O Circuito Fenearte vai continuar este ano?

Sim. A gente trouxe diversas ações que eram feitas paralelas e conseguimos colocar tudo dentro de um grande circuito, pois isso é uma forma de movimentar a economia do nosso Estado e das nossas cidades, que seriam Recife e Olinda. Então, nosso intuito é cada vez fazer com que a Fenearte cresça e, para ela crescer, não precisa ser, necessariamente, na parte física dentro do Centro de Convenções.

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