O monge que tomou banho de cuia (por Bruno Moury) - Revista Algomais - a revista de Pernambuco
Ninho de Palavras

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Bruno Moury Fernandes

O monge que tomou banho de cuia (por Bruno Moury)

Alguns gastam rios de dinheiro para estudar em Harvard, MIT ou Stanford. Claro, é importante. Estão atrás de mais conhecimento. Querem aprimorar o que sabem nas universidades de ponta desse mundo de meu Deus. São, na maioria, profissionais bem sucedidos com sede de mais aprendizado. Procuram esses centros do saber para estudarem técnicas de gestão. O intuito, quase sempre, é aplicar aos seus negócios. O custo é alto.

Mas os ensinamentos, muitas vezes, estão próximos. E de forma gratuita. Não é preciso ir para far far away. A vida é nossa melhor professora. Na última semana, fiz algo que há muito não necessitava. Faltou energia e o boiler elétrico não funcionou. Banho gelado nem pensar! O Recife anda frio que só a poxa. Enchi um balde d’água quente e tomei o velho banho de cuia. Me dei conta que ali está uma verdadeira aula de administração. Extraí pelo menos 10 ensinamentos. Harvard deveria estudar o banho de cuia e fazer um paralelo com o mundo dos negócios. Como ainda não o fez, faço eu:

Ali se aprende na marra o que é (1) controle de estoque, por exemplo. A água, sua matéria-prima, está num único balde que deverá servir para toda a jornada. Você precisa dividi-la racionalmente entre todos os departamentos: cabeça, tronco, membros e partes íntimas. Presente também ensinamentos sobre (2) otimização de tempo. À medida que o tempo passa, a água vai esfriando, razão pela qual é preciso celeridade. Se bobear e cantarolar durante o expediente, ao final do turno, a água estará gelada e você terá que interromper o processo produtivo no meio do caminho, tendo prejuízos. É preciso (3) eficiência e produtividade. Fazer mais com menos. Claro, (4) precisão nem se fala, pois o sabonete não poderá cair no chão. Não poderá haver desperdício de água para lavá-lo. Necessário, outrossim, (5) liderança. Ordens são dadas para que ninguém adentre ao recinto. Não pode haver distração. A palavra é (6) foco! Tem que focar nos detalhes, pessoal! Só assim você atingirá o sucesso.

O objetivo final é o (7) lucro: aquele resto d’água que sobra no fundo do balde e que lhe permite dispensar a cuia para que o derrame final seja triunfal. Para que tudo isso seja alcançado, não esqueça: (8) planejamento! Enquanto a água esquenta na chaleira, no fogão, todo o passo-a-passo deve ser planejado, afinal, não há execução sem planejamento. Há quem queira trabalhar o (9) marketing, convidando a esposa para assistir aquela cena linda de nu frontal. Por fim, é preciso pensar na (10) sucessão e passar para as próximas gerações todo o aprendizado.

Quem sabe não escrevo um livro sobre isso? Desses que vendem em aeroporto. Se já existe O monge e o executivo e O monge que vendeu sua Ferrari, que tal O monge que tomou banho de cuia? Posso ficar rico que só a moléstia dos cachorros. A literatura de aeroporto é o futuro do meu futuro. Que se exploda Machado, Bandeira, Drummond, Oswald, Meireles, Xico, Prata, Sabino, Joca, Rubem e afins. Eu quero é ficar rico para estudar em Harvard e poder apresentar a tese da cuia ao Tio Sam.

*Bruno Moury é cronista

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