O pernambucano que alegrou o RJ (Abril/2016) - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

O pernambucano que alegrou o RJ (Abril/2016)

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Nenhuma empresa, ou país, ou cidade, ou pessoa, nada, enfim, se desenvolve enclausurada em si mesma. Pernambuco, por exemplo, tem muito dos seus feitos lastreados em mulheres e homens vindos de outros Estados, que aqui se fixaram. É a troca de saberes com que todos ganham. É como ensina o provérbio chinês: “Se dois homens vêm andando por uma estrada, cada um com um pão, e, ao se encontrarem, trocam os pães, cada um vai embora com um pão. Já se dois homens vêm andando por uma estrada, cada um com uma ideia, e, ao se encontrarem, trocam as ideias, cada um vai embora com duas ideias”.
Pernambuco, pois, tanto quanto recebeu também já deu ao Brasil mulheres e homens excepcionais, e Pedro Ernesto foi um deles. Tenha o prazer de conhecer esse pernambucano especial.
Nascido no Recife, estudou medicina no Rio de Janeiro, então a capital do Brasil, onde se fez, além de grande cirurgião, um político admirado. Tanto, aliás, que foi prefeito do Rio de Janeiro duas vezes, a primeira de setembro de 1931 a outubro de 1934, e a seguinte de abril de 1935 a abril de 1936. Chegou a ser cotado para a presidência da República, mas antes de postular o cargo foi preso, por motivos que você conhecerá mais adiante.
Como prefeito, foi considerado um dos maiores benfeitores das escolas de samba, mas não suponha que, nascido no compasso do frevo, haja ele vivido na cadência do samba. Ele marcou seu governo por atenção especial à saúde e à educação. Combateu o elitismo do ensino da época, democratizando-o com a construção de dezenas de escolas, e concluiu as obras dos hospitais Getúlio Vargas, Carlos Chagas e Miguel Couto.
Sua vida, contudo, tão plena de sucesso, também enfrentou atribulações.
Em 1922, conspirou contra o governo federal, embora sem participação direta no levante do Forte de Copacabana, que deflagrou as revoltas tenentistas. Em 1924, participou de novas articulações contra o governo federal, chegando a ser preso por alguns dias. Em 1930, participou ativamente da deposição do presidente Washington Luís e impediu a posse de Júlio Prestes, candidato eleito naquela disputa. No início de 1933, participou da fundação do Partido Autonomista do Distrito Federal, cujo principal ponto programático era a luta pela autonomia política da cidade do Rio de Janeiro, a capital da República. No ano seguinte, obtida ampla vitória nas eleições para a Câmara Municipal carioca, elegeu-se prefeito do Rio de Janeiro, o primeiro governante eleito da história da cidade, ainda que de forma indireta.
Em 1935, aproximou-se da Aliança Nacional Libertadora (ANL), organização antifascista e anti-imperialista, que reunia comunistas, socialistas e tenentes de esquerda. Em julho daquele ano, Pedro Ernesto protestou energicamente contra o fechamento da Aliança, decretado pelo governo federal, e denunciou a articulação de um golpe pelas forças conservadoras. Foi acusado de ter participado das conspirações levadas a cabo por setores da ANL, que levaram à deflagração, em novembro daquele ano, de insurreições armadas em Natal, Recife e Rio de Janeiro. Conquanto haja, efetivamente, sido assediado para participar da revolta pelo líder comunista Luís Carlos Prestes, principal líder do movimento, seu papel naqueles acontecimentos jamais ficou esclarecido.
Em abril do ano seguinte, foi preso e afastado da prefeitura carioca, permanecendo confinado por mais de um ano, vindo a ser solto, em setembro de 1937, quando foi alvo de entusiásticas manifestações populares. Naquela ocasião, pronunciou inflamado discurso contra o governo federal e declarou seu apoio integral à candidatura à Presidência do governador paulista Armando de Sales Oliveira. As eleições, no entanto, não se realizaram, em virtude do golpe de estado decretado por Getúlio Vargas, em novembro de 1937, parindo a ditadura do Estado Novo.
Revolucionário em 1922, 1926 e 1930, Pedro Ernesto era apelidado de "Mãe dos Tenentes", pelo respeito e admiração que nutriam por ele, além de ser seu médico. Pois foi exatamente por imposição dos tenentes, que Getúlio Vargas nomeou Pedro Ernesto prefeito-interventor do então Distrito Federal e, com a força conquistada por uma administração popular e humanista, ele fundou o Partido Autonomista, vencedor das eleições municipais de 3 de maio de 1935, obtendo a esmagadora maioria de 18 dos 20 vereadores eleitos. Com base na legislação da época, então, como vereador mais votado, Pedro Ernesto foi aclamado prefeito, dando continuidade à sua gestão.
Ocorre que o frutuoso trabalho do prefeito multiplicou a sua popularidade, que já era significativa, levando-a a um patamar assustador para os adversários políticos, não só os grupos de direita. Os de esquerda, igualmente viam naquele pernambucano uma força política crescendo nacionalmente, capaz de, como tal, se tornar um forte concorrente à preferência das urnas. Caso isso ocorresse, seriam prejudicados os planos que visavam à manutenção de Getúlio Vargas no poder. Além do mais, Pedro Ernesto era um inovador, inclusive na formação da sua imagem. Para incutir na população o conceito do “médico bondoso”, ele utilizava – um avanço naquela época -- o rádio, meio efetivo para atingir especialmente os analfabetos, que votavam, mas não tinham como ler e compreender a propaganda veiculada nos jornais.
Outro indicador da criatividade de Pedro Ernesto foi a PRD5. Antes mesmo de Getúlio Vargas criar a Hora do Brasil em 1934, ele já se valia de uma emissora educacional da Secretaria de Instrução Pública, para veicular notícias sobre os serviços oferecidos pela prefeitura. A emissora se tornou um veículo de divulgação do nome de Pedro Ernesto durante sua campanha nas eleições municipais de 1934, demonstrando que o prefeito era um homem de visão privilegiada, inclusive na propaganda política.
Em síntese, Pedro Ernesto foi, sobretudo, um lutador, um homem que arrostou as intempéries que a vida oferece. Por sua administração eminentemente popular e pelo combate ao fascismo dos países do Eixo (a Alemanha de Hitler e a Itália de Mussolini), por exemplo, sofreu cruenta campanha anticomunista, embora ele não se considerasse como tal. Assim, além de ser preso, em 1936, foi afastado da prefeitura e teve cassada sua patente de coronel-médico da reserva do Exército. Foi absolvido pelo Supremo Tribunal Militar, em 13 de setembro de 1937, junto a dezenas de presos políticos, e ao sair às ruas foi intensamente festejado pelas escolas de samba e pelo povo.
Pelo que foi e construiu em torno do seu nome, a Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro instituiu uma medalha com seu nome, considerada a comenda máxima do município. Também levam o nome do prefeito o Hospital Universitário Pedro Ernesto, a Escola Municipal Pedro Ernesto e uma rua no bairro carioca da Gamboa e uma Escola Municipal no bairro da Lagoa. E como em uma cerimônia de coroamento, em 2009 sua memória foi lembrada no desfile da escola de samba Unidos de Cosmos.
Ele nasceu no Recife, em 25 de setembro de 1884, e viveu no Rio de Janeiro até 10 de agosto de 1942, deixando seu exemplo de político que efetivamente defendia a gente pobre dos morros.
De tanto que fez pela cidade, virou nome de rua, escola, palácio, medalha e hospital. Além de tudo o que fez, Pedro Ernesto, antevendo o potencial turístico do carnaval carioca, concedeu subvenções às escolas de samba, alegrando não só o asfalto, mas também os morros que conhecera ainda estudante, participando da campanha de vacinação contra a febre amarela.

*Por Marcelo Alcoforado

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