Com o surgimento de novas variantes do vírus da Covid-19 e a rápida disseminação delas na população brasileira, uma nova situação surge no horizonte do sistema de saúde, a possibilidade coinfecção. Para entender o que é, quais os riscos disso e se há alguma diferença no tratamento da doença, o repórter Rafael Dantas conversou com o biomédico virologista Kledoaldo Lima, tutor da Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS).
Neste contexto da pandemia, qual a diferença entre infecção, reinfecção e coinfecção?
A infecção nada mais é do que a entrada do micro-organismo, no caso da pandemia o micro-organismo da Covid-19, e a consequente proliferação dele em algum sítio anatômico humano, nesse caso nos pulmões. A reinfecção geralmente acontece quando o indivíduo se infecta novamente após um período de cura. Então, ele se curou da primeira infecção e, posteriormente, meses depois, semanas depois, ele vem a se contaminar outra vez. Coinfecção é um caso ainda está sendo analisado pela literatura científica em relação SarsCov2. Mas a coinfecção é quando nós temos variantes diferentes que infectam ao mesmo tempo o indivíduo. Ou então, elas infectam num curto espaço de tempo, de diferença, e em algum momento do tempo elas ao mesmo tempo estão presentes no tecido pulmonar.
O que se sabe até o momento sobre a coinfecção de Covid-19 em relação aos sintomas? As pessoas ficam mais graves?
Atualmente, a gente sabe pouca coisa sobre os mecanismos de coinfecção do SarsCov2. Tem pouquíssima coisa relatada no mundo. Há alguns trabalhos sendo desenvolvidos, mas a gente tem relatos de caso em Portugal que onde se observou em uma adolescente de 17 anos, mulher, que foi hospitalizada. Ela passou bastante tempo hospitalizada e eles conseguiram identificar duas variantes diferentes. A paciente apresentou sintomas mais graves e também teve maior tempo de transmissão do vírus. Então, o vírus estava apto pra ser transmitido por mais tempo. Então, esse é um dos perigos da coinfecção que ainda está sendo analisado. Mas estamos engatinhando no conhecimento desse tipo de caso, são pesquisas iniciais ainda.
As pessoas que tiveram mais de uma variante da Covid-19 são mais propensas a ter sequelas maiores?
No relato de caso desse estudo em Portugal, sim. O que se observou nessa menina foi: ela foi infectada com duas variantes diferentes, teve sintomas mais severos e esteve apta a transmitir o vírus por mais tempo, já que o vírus permaneceu viável no seu trato respiratório por mais tempo.
A prevenção e o tratamento dos casos de coinfecção de Covid-19 são semelhantes aos de uma infecção comum do coronavírus?
Sim. A prevenção e o tratamento nos casos de coinfecção continuam sendo os mesmos daqueles usados para os casos de infecção por uma única variante. O que a gente pode diferenciar e que ainda está sendo avaliado nas coinfecções, é que o paciente talvez precise ficar um pouco mais tempo isolado, já que o vírus nesses casos tende a ficar mais tempo no trato respiratório.
Quais os riscos que as coinfecções podem trazer para o controle da pandemia, caso se aumentem os casos? É possível, por exemplo, que isso estimule novas variantes do vírus?
Existe uma preocupação em relação a possibilidade de que se venha confirmar realmente que o coronavírus tenha essa propensão, essa facilidade a fazer coinfecção. Principalmente se ele tiver essa possibilidade de permitir que haja coinfecção num número muito grande de pessoas. Então, isso é preocupante porque os vírus que pertencem à família Coronaviridae, que o SarsCov2 está presente, têm uma grande chance de recombinação. Eles se recombinam muito fácil. Então, se houver realmente uma facilidade desse micro-organismo de poder causar co-infecções em um mesmo indivíduo e num grande número de indivíduos, a chance de recombinação viral será maior, já que o vírus tem essa característica de se recombinar. Consequentemente, podem surgir aí novas variantes e muito possivelmente possam surgir variantes com escapes, que sejam imunes às vacinas. Então, essa é a grande preocupação.