Depois de muita polêmica e manobras nas últimas semanas, Elon Musk fechou a compra do Twitter por US$ 44 bilhões. A operação tem rendido mais perguntas do que respostas. Por que pagar acima da cotação da bolsa por uma rede social que tem metade da rentabilidade de seus concorrentes? Por que comprar 100% das ações e fechar o capital, em vez de adquirir apenas o controle acionário? Afinal, o que o dono da Tesla viu no Twitter que ninguém viu? Como ainda é muito cedo para saber o que ele vai fazer na prática, podemos nesse momento fazer três análises do ponto de vista estratégico:
Razões Econômicas — Mesmo que Musk negue publicamente que a compra do Twitter seja por razões econômicas, ele é empreendedor. Suas empresas são muito inovadoras e disruptivas. Com frequência, ele cria novos modelos de negócios que se tornam padrão nos segmentos onde atua: automóveis elétricos (Tesla), naves espaciais, (Space X), internet via satélite (Starlink), transporte em cápsulas (Hyperloop), túneis subterrâneos (Boring Company); painéis de energia solar (SolarCity); e neurotecnologia (Neuralink). Nesse sentido, o interesse na plataforma tem uma lógica financeira. Entre as principais redes sociais, é a que possui maior potencial de crescimento, pois sua base é composta por apenas 217 milhões de contas — em comparação com Facebook, Instagram, Youtube, Tik Tok, que passam de 1 bilhão. O crescimento da base gera mais uso, atraindo mais publicidade e aumentando faturamento e rentabilidade. Além disso, há um grande potencial de inovação na plataforma. O Twitter tem sido a rede mais conservadora nesse aspecto em relação às demais, o que pode gerar mais atratividade e mais usuários, reforçando ainda mais as razões econômicas. Sob esse ângulo, a tendência é um serviço melhor — e Musk sabe fazer. Isso é positivo.
2. Razões Ideológicas — O que não é positivo se relaciona com o fechamento de capital na bolsa e o controle de 100% da empresa. Com isso, Musk não terá que prestar satisfação aos demais investidores, nem à SEC (Comissão de Valores Mobiliários nos EUA). Sem esses controles, ele terá mais autonomia para implantar seu principal projeto: “criar uma praça pública para a liberdade de expressão, onde os assuntos vitais para o futuro da humanidade são debatidos”. O risco nesse caso é que o Twitter, em nome de uma liberdade de expressão sem limites, seja guarida para os discursos de ódio e sirva também como megafone para disseminação de informação falsa. Além disso, há o temor que usuários banidos, por não respeitarem as regras atuais de conteúdo, retomem o direito de usar suas contas. É o caso de Donald Trump, ex-presidente dos EUA, que usou a plataforma para incitar a invasão ao Capitólio em 2021, sede do Congresso Nacional norte-americano. Inclusive, Musk foi contra o banimento de Trump do Twitter à época da medida. Outro aspecto negativo é que o dono da Space X possui muitas ligações empresariais e, por isso, não teria isenção para combater possíveis conflitos de interesse da plataforma com seus negócios e parceiros.
3 - Influência e Autoproteção — Pelas posições que ocupa nos negócios e por sua personalidade narcísica, Musk se expõe muito e precisa de poder não só para se defender como também para persuadir politicamente temas que podem ser úteis a ele no futuro. Nessa direção, ele está pensando como os magnatas do passado, que compravam veículos de comunicação para ampliar sua influência e servir como trincheira de defesa. Nas regras atuais desse jogo, por exemplo, Musk teria cadeira cativa na mesa do debate sobre privacidade de dados e do modus operandis dos algoritmos, que têm influenciado o comportamento social em muitos países. Só para lembrar: as redes sociais foram atores principais das eleições nos EUA, em 2016, e no Brasil, em 2018. Além disso, por ser o principal canal utilizado por formadores de opinião, jornalistas, empresários e líderes mundiais, o Twitter conta com uma grande relevância política e econômica. Sendo o único dono, Musk teria ainda mais poder com o meio político e empresarial de todos os países onde o Twitter atua. Aqui no Brasil, por exemplo, as redes sociais têm sido o foco de atuação do TSE para combater as fake news nas eleições de 2022. Portanto, o Twitter dá força política a quem já tem força econômica.
E a pergunta final: como os usuários ficam depois da compra do Twitter por Elon Musk? Essa somente o tempo poderá responder, pois o homem mais rico do mundo precisa ainda assumir a gestão da sua nova aquisição e mostrar a que veio. Só nos resta esperar e protestar contra possíveis violações ao nosso direito de receber informações verdadeiras e não ser parte de um jogo político-econômico no qual poucos têm muito poder e muitos seguem sem saber.