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Francisco Cunha

O Recife diante da emergência dos eventos extremos do clima

(Bairro de Coqueiral, na Bacia do Rio Tejipió. Foto: Instituto Solidare / Igreja Batista em Coqueiral)

*Por Francisco Cunha

Agenda TGI

Segundo o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima), o Recife é a 16ª cidade mais ameaçada do planeta pelas mudanças climáticas provocadas pelo aumento do aquecimento global, tanto no que diz respeito à subida do nível do mar quanto em termos de aumento do volume das precipitações pluviométricas como tudo indica ter ocorrido no mês de maio passado.

A análise pluviométrica do que aconteceu, aponta precipitações de mais de 400 mm (mais ou menos 1/4 das precipitações previstas para um ano inteiro na cidade) em quatro dias e de mais de 500 mm (mais ou menos 1/3 das precipitações anuais) em uma semana. Ou seja, em quatro dias choveu 25% do previsto para o ano e em uma semana mais de 30%. Nenhuma cidade do mundo aguenta uma carga dessas em tão curto espaço de tempo sem passar por sérios apertos. Resultado: a catástrofe se abateu sobre o Recife traduzindo- -se na trágica contabilidade de perdas de vidas humanas, nas quedas de barreiras dos morros e nas inundações da planície.

A julgar pelo ocorrido recentemente em outras regiões do País, o que aconteceu no Recife não foi um caso isolado de precipitações extraordinárias mas, pelo contrário, a evidência de que eventos extremos do clima estão reduzindo o intervalo de tempo entre eles e ampliando sua frequência. Se isso é verdade, como tudo até então faz crer que sim, a questão relevante que se coloca é a seguinte: como se preparar para enfrentar uma realidade climática radicalmente diferente daquela à qual nos acostumamos ao longo de nossas vidas e a cidade ao longo de sua cinco vezes centenária existência?

Outro dia, conversando com o secretário de Segurança Cidadã do Recife, Murilo Cavalcanti, a propósito da velocidade das mudanças que estão acontecendo na cidade de Medellín na Colômbia, em termos de melhoria da qualidade de vida urbana, e as que estão acontecendo na cidade do Recife, as de lá muito mais intensas e aceleradas que as nossas, tive oportunidade de dizer que, enquanto eles foram empurrados pelo crime, tenho a impressão que nós seremos acelerados pelo clima. Ou seja, será a marcha inexorável das mudanças climáticas que farão com que avancemos mais rápida e profundamente na melhoria da qualidade das mudanças urbanísticas assim como o foi a exautão da sociedade com o crime organizado e os desmandos criminosos liderados pelo mega narcotraficante Pablo Escobar que promoveu o turnpoint de Medellín.

A partir desta constatação, estamos, portanto, todos os recifenses, cidadãos e autoridades, desafiados a inventar um novo futuro que nos proteja de deslizamentos cada vez mais frequentes dos morros e das inevitáveis inundações da planície pelo aumento do nível do mar. A sorte climática, portanto, está lançada!

*Francisco Cunha é consultor e arquiteto

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